Em entrevista ao podcast “Direto de Brasília”, apresentado por este blogueiro, o ex-presidente do União Brasil, Luciano Bivar, revelou um bastidor inédito: contou que, quando jovem, guardou dinheiro debaixo do colchão – experiência que, segundo ele, quase o fez “virar comunista”. “Uma vez pensei no comunismo. Tinha 43 anos, final do governo Collor, era sócio de uma companhia de seguros e estava de saída. Resgatei minhas ações em dinheiro, transformei em moeda estrangeira e guardei tudo aquilo embaixo do colchão. Se eu fosse político, iam dizer que eu tinha informações privilegiadas e seria preso (risos)”, afirmou.
“Se eu pudesse entregar aquela mala para uma empresa de previdência privada e ela garantisse saúde e educação dos meus filhos, faria na hora. Foi a primeira vez que pensei no sistema comunista, quando você abre mão da liberdade para ter a segurança básica”, completou o deputado federal. Na mesma entrevista, Bivar disse articular um novo partido para 2026 e defender a inclusão de seu projeto de reforma tributária com imposto simplificado na pauta. Confira a íntegra abaixo:
Leia maisAinda há espaço para o liberalismo?
Sempre fui um liberal, não tanto quanto no passado. Mas vou lhe contar, uma vez pensei no comunismo. Tinha 43 anos, final do governo Collor, era sócio de uma companhia de seguros e estava de saída. Resgatei minhas ações em dinheiro, transformei em moeda estrangeira e guardei tudo aquilo embaixo do colchão. Se eu fosse político, iam dizer que eu tinha informações privilegiadas e seria preso (risos). Era uma mala cheia de moeda estrangeira. Um dia cheguei em casa preocupado, pois estava desempregado. Se eu pudesse entregar aquela mala para uma empresa de previdência privada e ela garantisse saúde e educação dos meus filhos, faria na hora. Foi a primeira vez que pensei no sistema comunista, quando você abre mão da liberdade para ter a segurança básica.
Como avalia o atual momento do país?
Muito preocupante. Não sei se é a idade, mas a gente começa a se preocupar com notícias internacionais, o que antes parecia distante está muito perto. Nem é o tarifaço, mas a forma imperativa onde algumas nações querem se impor sob a força da economia. Minha preocupação básica é que haja um bafo de sensatez no político brasileiro para que as coisas se modifiquem. Nossas instituições estão boas, não tem motivo para atacar as instituições. Agora, qualquer corte é feita por humanos, suscetíveis a erros, mas não tem que culpar por isso ou aquilo. A democracia é lenta, mas é depurativa, e isso que é importante, temos que fortalecê-la através das nossas instituições.
Mas o STF não interfere demais?
Tudo o que o Supremo fala é porque foi instado a falar. Sou mais empresário do que político, imagine quantas coisas eu perdi num juiz de primeira instância e tive que recorrer. Se você tiver um Supremo mal, aí é a barbárie. Temos que entender. Mas se você questiona o STF, ele terá que se posicionar e a última palavra é dele.
Houve tentativa de golpe?
Minha história é conhecida. Quando Bolsonaro veio para o meu partido, ele tinha 13%. Demos ênfase para ele se eleger, porque vínhamos de governos do PT com escândalos como o mensalão. A gente queria mudanças. Mas quando Bolsonaro assumiu o poder, ele começou a se distanciar das instituições. E ele me dizia que não queria mais saber de partido político, que iria administrar a Câmara com segmentos, com o agro. Ele começou a sentir que comigo não tinha grande espaço dentro do pensamento dele, e fiquei preocupado.
Recentemente o senhor lançou o livro “Democracia Acima de Tudo”. Tem muitos bastidores dessa época?
Nesse livro eu falo por exemplo do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, meu amigo, que certo dia me ligou preocupado. Fui até ele, ele me disse que era a tal minuta do decreto para intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Eu disse para tocar fogo naquilo. Ele dobrou o papel, botou no bolso e levou pra casa. Tempos depois, a Polícia Federal foi até lá e pegou o papel. Isso eu escrevo no livro. Essas coisas me apavoraram.
Ainda é grande a sua decepção com o presidente do União Brasil, Antônio Rueda?
Ele é um cara tão deplorável, que não. Sinto náuseas. Não me sinto bem, mas passou, é um pobre coitado, vai ser eternamente miserável. Falo em termos da pessoa humana. O seu sucesso financeiro não é nada com relação à sua dignidade, à sua paz, sua lealdade com os amigos. Esse é o patrimônio mais importante que se tem. Somos todos finitos. Antes do discurso, vem o homem.
O senhor está de saída do União Brasil mesmo?
Quando você não tem estrutura, não tem ideal, um objetivo, o partido tende a se acabar. O que mais lamento não é perder o comando, pois sempre fui de delegar. O que me dói é o ideal do partido. Tínhamos o ideal de fazer um grande partido, através de uma reforma tributária, de ideais liberais, e tudo isso foi por água abaixo. Hoje é um partido sem alma. Hoje o União Brasil não tem mais esse vínculo de compromissos morais, de ideais, não tem ideologia, e isso é preocupante.
Pensa em sair da política?
Vou falar baixinho para que minha família não ouça (risos), vou continuar na política. Tenho alguns projetos na Câmara que gostaria que prosperassem. Um deles é a reforma tributária, que é sensacional. Já tive a ousadia de procurar o presidente e falar como seria feito isso, e estamos num mundo novo. Tenho absoluta convicção de que se a gente tiver um pouco mais de sensatez, a gente modifica.
Então está conversando com outros partidos?
Estou conversando com o PRD e com o presidente do PSDB, Marconi Perillo. Se encamparmos o projeto da ideia de um sistema tributário único, simplificado, chegaremos a bom termo. Fizemos uma ideia de um sistema que é menos oneroso, mais justo e com uma universalidade muito grande. Isso foi o que mais senti com a perda do União Brasil, de levar esse ideal à frente.
O PRD é um partido recém-criado, mas o PSDB vem definhando ano a ano…
O PSDB é um partido de muita tradição e muito seleto, que pode dobrar a bancada. E tem um viés de ideal muito consistente. Hoje no Brasil, a gente está muito carente, o Parlamento sequestrou 50% do orçamento público com as emendas. É uma coisa que precisa se alterar. Falta o lado da dignidade humana, o legislador tem que estar muito atento a isso.
Então está buscando uma nova legenda para chamar de sua?
Não, mas se a gente não estiver comungando com as pessoas do partido, não interessa. Preservo muitos ideais.
O grupo do ex-presidente Bolsonaro tentou tomar o PSL na sua época e hoje parece tentar o mesmo com o PL. Como enxerga isso?
Tem um vício da legislação que é o fundo partidário. Os partidos estão muito atrás de influencers, celebridades, para terem maiores ganhos financeiros. Esquecem a essência da política, que é minorar as desigualdades sociais. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, suporta o bolsonarismo porque precisa dos votos para o caixa estar gordo. É uma briga que vai ter sempre. No antigo PSL, eu não me importava se quisessem sair. Suspendi 12 deputados bolsonaristas durante um ano, eles terminaram saindo. Eu não queria quantidade, queria essência. Como sou idealista, acho que o país precisa ser mais humano. Mas não sei o que vai prevalecer na cabeça do Valdemar
Mas é difícil tirar o partido do comando dele…
Não tira, porque ele conhece bem a coisa. Tem uma máxima que Deus cuide dos meus amigos, porque dos inimigos cuido eu. Eu falo isso, mas não sabia que entre os meus amigos estava um inimigo, a rasteira foi maior (risos). Quando fizemos a fusão do PSL com o Democratas, os delegados que tinham votos foram nomeados por nós. Eu deleguei a ele (Rueda) que fizesse a relação dos delegados, mas nunca acreditei que ele botaria seus parentes, como botou. Para minha surpresa, mas aquele cara é uma fraude, é uma farsa. Mas isso é da vida. E continuo acreditando.
O PSL viabilizou Bolsonaro, mas em pouco tempo vocês romperam. Qual sua visão sobre a investigação e o julgamento dele, que começará na próxima semana?
Não tenho dúvidas de que os indícios contra ele são claros. Não sou membro da Polícia Federal, mas sentia os indícios já naquela época, do que se falava. A preservação da democracia está sendo feita, a instituição está forte e não vai abrir. Porque se abrir agora a caprichos, a correntes políticas, a famílias, a países estrangeiros, perderia nossa identidade. Nunca senti esse sentimento patriótico tão forte.
Pensa em apoiar a reeleição do presidente Lula ou vai procurar um candidato de centro em 2026?
Estou praticamente sem partido, tenho que esperar a janela partidária, ainda não tenho partido. Sei que o PT é orgânico, democrático, isso é uma coisa atraente, mas da maneira como eles tratam o sistema econômico eu divirjo. Sou muito liberal na economia, embora hoje esteja sentindo que precise de um socialismo moreno, como dizia Brizola. Com esse tarifaço, se não tiver empresas genuinamente nacionais, as coisas podem complicar a segurança da nação brasileira. Temos que preservar a integridade do país.
Algum nome da centro-direita lhe traz boas expectativas?
Fico muito frustrado. De todas as reuniões, não vejo nenhum ideal ali. Todos querem o espólio do bolsonarismo, e isso é preocupante. Eles estão atrás de voto, e o povo em segundo lugar. Espero que no PRD, onde estão pessoas que conheço e gosto, que a gente consiga um caminho para isso. Mas é importante a gente preservar nossas instituições, dignidade e a soberania nacional. Não tenho como defender alguém que vá com um objetivo espúrio, que não será bom para o país. Nesse caso, não darei minha chancela.
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