Fernando Caruso, ator, roteirista e comediante, disse certa vez que o que nos faz rir é um mistério. Como ele, todos que levam a vida a nos fazer rir tem uma teoria sobre o funcionamento do humor. Na política, parece que Miguel Arraes tinha todas. Aplicou em vida um humor, muitas vezes ácido, mas extremamente perspicaz.
Parecia uma técnica, um dom, um poder, provavelmente uma terapia para sobreviver num campo tão perverso. Roberto Magalhães já disse que a política é diabólica. Arraes resistia às pancadas em grande parte exercitando a sua veia humorística. Contava piadas, causos históricos e se divertia.
Leia maisAlguns amigos mais próximos também o faziam rir e enriquecer o seu anedotário. Ex-prefeito de São Vicente Férrer, na Zona da Mata, Honorato Leitão integrava esse grupo seleto. Arraesista histórico, morreu em 2010 aos 65 anos, mas deixou filhos na vida pública.
Gustavo Melo, um dos seus filhos, presidiu a Ceasa; Gabriel Leitão, também herdeiro, é presidente da Csurb, no Recife, e Guilherme Leitão assessora o deputado Felipe Carreras, líder do PSB na Câmara dos Deputados. Mas nenhum deles tem no sangue a picardia do pai.
Honorato, na verdade, era um frasista sensacional. Suas tiradas são conhecidas dentro e fora do poder. Até os passarinhos que gorjeiam nos jardins do Palácio das Princesas ouviram a sonora gargalhada que Arraes deu num episódio que é do conhecimento de muitos políticos, principalmente os mais próximos ao PSB.
No terceiro e último Governo Arraes, o mito já enfrentando um terrível desgaste, assiste, sem reação, a uma verdadeira revoada de prefeitos e lideranças em direção ao palanque da União por Pernambuco, que elegeu Jarbas Vasconcelos governador nas eleições de 98.
Revoltado, com a bílis espumando pela boca, Honorato Leitão adentra no gabinete de Arraes e começa a reclamar da traição dos prefeitos oportunistas, que juravam amor eterno a Arraes. De repente, sapeca a frase: “Doutor Arraes, está na hora de criarmos a Secretaria da Perseguição Política. E digo mais: estou apto a ocupar a função com denodo e devoção”.
A gargalhada de Arraes assustou até os patos e gansos que povoam os jardins das Princesas.
Leia menos