Por Ronaldo Nóbrega*
Na política, às vezes a metáfora ajuda mais que o discurso direto. E, olhando a cena paraibana, é impossível não enxergar a aeronave do governo João Azevêdo em pleno ar sem comandante firme no manche e com um copiloto jovem, franzino na imagem pública, que ainda não convenceu ninguém. Lucas Ribeiro, vice-governador da Paraíba, pode ocupar a função de chefe do Executivo local após o afastamento de João Azevêdo para a disputa ao Senado.
O fato é que o comandante Azevêdo não pavimentou o caminho para que Lucas Ribeiro o sucedesse. Em seu segundo mandato consecutivo, trouxe consigo um estilo de governar diferente, mas parece flertar perigosamente com um velho erro de políticos que se julgam maiores do que a engrenagem que os sustenta: desprezar os aliados que detêm o ativo mais valioso da política, o voto.
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A cena que se desenrolou na Granja Santana é um retrato dessa turbulência. Cícero Lucena, pré-candidato ao governo e atual prefeito de João Pessoa, foi até o governador anunciar, sem meias palavras, que será candidato ao governo, ainda que continue a apoiá-lo para o Senado. No manual da liderança seria o inverso. Um líder de verdade chamaria o soldado ao quartel para dar explicações. Aqui, a hierarquia se inverteu e a aeronave ficou ainda mais sem rumo.
O fato é que hoje a candidatura de Cícero ao governo e de Veneziano ao Senado é uma realidade consolidada. Até a oposição, acostumada a observar de fora, ficou tonta com a manobra. E no meio desse voo cabe a pergunta: quem tem mais peso político, Lucas Ribeiro na Paraíba ou ACM Neto na Bahia, herdeiro de um avô, um tio e de toda uma linhagem que moldou a história política baiana? Neto, que já foi cotado como presidenciável, hoje parece reduzido a um ensaio de retorno em 2026 à Câmara Federal. Se o destino de ACM Neto é este, o que esperar de Lucas?
Enquanto isso, na cabine de manutenção, Adriano Galdino, presidente da Assembleia da Paraíba, Nabor Wanderley e outras lideranças assistem de camarote, mas sabem que em política a gravidade não perdoa.
O desfecho pode ser apenas um. O comandante João Azevêdo continuará na cabine até 31 de dezembro, tentando evitar um desastre aéreo sem sobreviventes. O problema é que a confiança na tripulação se esvai a cada dia. E como todo passageiro de voo turbulento sabe, o silêncio da cabine só aumenta o pânico no fundo da aeronave.
Recordo, quando era presidente do antigo PSL na Paraíba, de ter presenciado uma conversa do saudoso ex-governador José Maranhão com uma liderança política. Maranhão recomendou: chegou a hora do piloto puxar o trem de pouso. Pelo que vejo, o comandante João Azevêdo, cercado de assessores, não consegue enxergar o trem de pouso.
*Jornalista e memorialista
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