Por Tales Faria – Correio da Manhã
Como a Dona Flor – aquela personagem de Jorge Amado – o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vive entre dois maridos. Elegeu-se para comandar a Casa com o apoio quase unânime dos partidos e em meio a juras de amor ao governo e à oposição.
Mas um dos maridos de Dona Flor estava morto, o que tornava o convívio mais fácil, digamos assim. Já os dois cônjuges de Hugo Motta estão vivos e vivem às turras.
Leia maisNeste domingo, em uma ligação telefônica com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), Hugo Motta reclamou do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), que está prometendo enterrar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem dos crimes cometidos por parlamentares.
Segundo Sóstenes, Alcolumbre havia garantido a Hugo Motta que a PEC seria votada no Senado no mesmo dia em que saísse da Câmara. O texto da Emenda Constitucional foi aprovado pelos deputados em dois turnos num só dia – a terça-feira, 16 – e enviado imediatamente para o Senado.
Alcolumbre, na mesma hora, se declarou publicamente contra a proposta e mandou o texto para “uma análise aprofundada” da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), cujo presidente, Otto Alencar (PSD-BA), já havia anunciado – e reiterou – que a “PEC será devidamente enterrada”.
“O PL não alinhou essa PEC com o Senado, nem com nossa bancada lá. Confiamos na palavra do presidente da Câmara para votar aqui. O Hugo nos contou estar acertado com o presidente do Senado. Segundo ele, o Alcolumbre havia lhe prometido que os senadores votariam a PEC no mesmo dia. Mas parece que o Alcolumbre não cumpriu a palavra”, disse Sóstenes à coluna.
Segundo o líder, no telefonema deste domingo, Hugo Motta contou que, desde a votação da PEC, Davi Alcolumbre não retorna suas ligações.
“Parece que as coisas entre eles não estão boas. E isso é muito bom para a oposição. Se eu fosse o presidente da Câmara daria o troco no Alcolumbre e no governo nesta semana mesmo”, acrescentou.
Como assim?
Sóstenes conta que, chegando a Brasília para conversar pessoalmente com Hugo Motta, vai propor que ambos busquem “dois ou três projetos de interesse do Alcolumbre e do governo para serem derrubados”.
É pouco provável que isso seja executado. Mas esse mesmo Hugo Motta que agora troca figurinhas com o líder do PL, foi vítima de um ataque da oposição à sua autoridade na Câmara.
Na quarta-feira da semana anterior, deputados do PL e do Novo tomaram a sua cadeira na Mesa Diretora, impedindo que ele presidisse a sessão do plenário. Motta só conseguiu sentar-se na cadeira depois que, Arthur lira (PP-AL), ex-presidente da Casa, prometeu à oposição que a anistia seria pautada.
Na semana passada, Motta cumpriu o acordo de Lira: votou a anistia. Mas trincou sua relação com os governistas. Uma relação cheia de altos e baixos como esse momento que vivem agora.
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