Por Rudolfo Lago – Coluna Correio Político do Correio da Manhã
Há uns dias, comentamos aqui os movimentos de xadrez em torno das eleições em Goiânia. A movimentação ali merece atenção, porque ela pode projetar alguns movimentos nacionais. Se por um lado PSD e PT conversam para formar ali uma aliança, por outro há os planos do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). Caiado aquece suas turbinas para tentar se lançar candidato à Presidência da República em 2026. Tenta repetir assim, avaliando que agora com maiores chances, o que o lançou na vida política, que foi a candidatura à Presidência nas primeiras eleições diretas após a redemocratização, em 1989. Caiado era, então, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), o primeiro movimento notadamente de direita da política brasileira pós-redemocratização.
Caiado passou na quarta-feira (16) por uma cirurgia na próstata. Aparentemente, não é algo de maior gravidade. Ele foi diagnosticado com hiperplasia prostática benigna. Corrigido o problema, retorna recuperado à vida política pavimentando seu projeto.
Caiado enxerga que pode ter à sua frente uma avenida. Há uma herança dos votos de direita que foram dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018 e 2022. Bolsonaro está inelegível, e não há clareza de quem poderá de fato herdar esses votos. Caiado coloca-se nesse páreo.
Caiado considera que pode ter um trunfo a seu favor. Ele é de direita há mais tempo que todos os demais nomes no páreo. No final da década de 1980, no momento em que o país se redemocratizava, ele criou a UDR, que fez certo barulho naquele momento. A UDR já teve naquela época um papel importante para conter pontos mais à esquerda e garantir conquistas conservadoras na elaboração da Constituição, em questões como a reforma agrária, por exemplo. Ficou famosa uma passeata que ele fez na época quando entrou na Esplanada dos Ministérios montado em um cavalo branco. De lá para cá, o movimento ruralista cresceu, e hoje o agronegócio domina a economia brasileira.
Essa é a aposta de Caiado. Ele pretende, assim, disputar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esse espólio dos votos de direita de Bolsonaro. Considera que, talvez, possa ter uma vantagem na discussão sobre a questão da segurança. É uma de suas apostas.
Enquanto São Paulo patina no tema da segurança, Goiás pode ter números melhores para apresentar. É verdade que a polícia do estado sofre críticas de ser extremamente violenta. Mas parece ter reduzido a criminalidade no estado relacionada especialmente ao narcotráfico.
Goiás é rota do tráfico de entorpecentes que entra no Brasil pela fronteira com os demais países da América do Sul. As ações de Caiado no estado teriam conseguido sufocar pelo menos em parte essa ação dos narcotraficantes, ainda que à custa de violência policial.
Diante desse plano nacional, pela falta de um nome de peso como alternativa, há quem julgue que Caiado pode até ficar mais neutro agora na eleição municipal, como forma de não criar arestas para possíveis apoios futuros nessa sua pretensão presidencial.
Nas eleições municipais de 2024, a deputada Tabata Amaral foi vítima de um dos episódios mais abjetos da história política recente. Candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB, Tabata foi acusada por Pablo Marçal, que era seu adversário na disputa pelo PRTB, de ter sido indiretamente responsável pela morte de seu pai, Olionaldo.
Marçal disse que Tabata teria partido para os Estados Unidos, para estudar na Universidade de Harvard, sem dar assistência ao pai, que era vítima de alcoolismo. Era mentira. Quando perdeu seu pai, Tabata ainda estava no Brasil. E ele ainda teve a chance de comemorar com ela o anúncio de que a menina pobre, de 17 anos, com seu esforço, fora admitida em uma das melhores universidades do planeta.
Mais de um ano depois do ataque feito, a Justiça Eleitoral de São Paulo condenou há uma semana Pablo Marçal por difamação. Tabata, porém, ressalva: “O julgamento não terminou e deve ainda durar muito tempo”. A reparação afinal ainda não aconteceu.
Há um componente em todo o processo que assusta. Na campanha municipal, Pablo Marçal fez da mentira instrumento para obter dividendos políticos. Parecia partir da certeza de que, quando a verdade fosse restabelecida, ele já teria ganho com a confusão que provocara.
Assim como fez com Tabata, Pablo Marçal fez com Guilherme Boulos (Psol), candidato à prefeitura pelo Psol. Na véspera do primeiro turno, Marçal divulgou um laudo médico falso que atestava uma passagem de Boulos em uma clínica por uso de drogas, também uma mentira. “Eu me pergunto o que poderia acontecer se Pablo Marçal tivesse sido eleito prefeito. Será que a acolhida da Justiça ao meu processo seria a mesma?”, questiona Tabata ao Correio Político. “Quantos votos ele ganhou com aquela mentira? Quantos votos eu perdi?”, pergunta ela. “Não sei o quanto isso me prejudicou politicamente. Sei o quanto machucou”
O que preocupa é o grau cada vez maior de sofisticação da aparelhagem para a falsificação política e para a construção da mentira, com o avanço da inteligência artificial. E, infelizmente, também com o avanço da falta de escrúpulos de muitos aventureiros.
Tabata não enxerga no momento um empenho forte da Justiça Eleitoral para se aparelhar para um jogo que já foi pesado na campanha municipal do ano passado e tende a ser mais pesado ainda. Muito menos do Congresso, que rejeita avançar sobre a discussão do tema.
‘Eu tenho esperança de que uma hora nós, sociedade, iremos solucionar essas questões”, disse Tabata. “Se eu não tivesse esperança na possibilidade de avanço e de mudança, eu nem estava na política”, completou. “Mas quando, afinal, faremos isso, não sei dizer”.
“Mas, infelizmente, não acho que essa solução virá nas eleições do ano que vem”, pontua Tabata. Para a deputada, um risco que desestimula. “Muitas mulheres jovens sonham com a política. Mas, quando vê acontecer algo como aconteceu comigo, muita gente desiste”.
Jimmy Cliff, lenda do reggae, morreu aos 81 anos. De acordo com o comunicado divulgado pela mulher do cantor, Latifa, o músico sofreu uma convulsão seguida de pneumonia.
“É com profunda tristeza que compartilho que meu marido, Jimmy Cliff, faleceu devido a uma convulsão seguida de pneumonia. Sou grata à sua família, amigos, colegas artistas e companheiros de trabalho que compartilharam essa jornada com ele. A todos os seus fãs ao redor do mundo, saibam que o apoio de vocês foi sua força durante toda a carreira. Ele realmente valorizava cada fã pelo amor que recebia. Também gostaria de agradecer ao Dr. Couceyro e a toda a equipe médica, que foram extremamente solidários e prestativos durante este processo difícil”, escreveu.
Segundo o comunicado, que leva a assinatura de Latifa, Lilty e Aken, pede privacidade e afirma que novos detalhes serão anunciados posteriormente. “Jimmy, meu querido, que você descanse em paz. Vou seguir seus desejos. Espero que todos possam respeitar nossa privacidade nesses tempos difíceis. Mais informações serão fornecidas posteriormente. Nos vemos, e nós vemos você, Lenda”.
Jimmy Cliff é considerado um dos pioneiros do reggae e responsável por levar o gênero ao cenário internacional. O músico jamaicano ganhou dois Grammy com os álbuns, Cliff Hanger (1985) e Rebirth (2012), esse último também apareceu na lista dos “50 Melhores Álbuns de 2012” da Rolling Stone.
Além de receber a mais alta honraria de seu país, a “Ordem do Mérito”, ele tem a distinção de ser um dos dois jamaicanos incluídos no Rock and Roll Hall of Fame, ao lado de Bob Marley.
No cinema, Jimmy protagonizou “The Harder They Come” (1972) e atuou em Club Paradise (1986). Entre suas canções mais memoráveis estão: ““I Can See Clearly Now”, “Wonderful World, Beautiful People”, “You Can Get It If You Really Want” e “The Harder They Come”.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou, hoje, para manter a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está detido na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. As informações são do portal G1.
Ele foi acompanhado pelo ministro Flávio Dino. A Primeira Turma do Supremo julga nesta segunda se mantém a decisão individual de Moraes, relator do caso, que converteu a prisão domiciliar de Bolsonaro em preventiva nesse sábado (22).
A análise ocorre no plenário virtual, formato em que os ministros inserem seus votos no sistema eletrônico da Corte. A sessão está prevista para terminar às 20h. No voto desta segunda, Moraes considerou os novos fatos obtidos durante a audiência de custódia de Bolsonaro, realizada nesse ontem.
Na ocasião, o ex-presidente justificou a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica como resultado de surto causado por medicamentos psiquiátricos, e negou qualquer tentativa de fuga.
Moraes destacou que, “durante a audiência de custódia, Bolsonaro novamente confessou que “inutilizou a tornozeleira eletrônica com cometimento de falta grave, ostensivo descumprimento da medida cautelar e patente desrespeito à Justiça”.
Portanto, diante dos novos fatos, julgou que o caso cumpre os requisitos necessários para a decretação da prisão preventiva. Além de Moraes e Dino, também votam os ministros Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
A mulher do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), Rebeca Ramagem, publicou, ontem, um vídeo do momento em que ela e as filhas foram recebidas pelo parlamentar em um aeroporto de Miami, nos Estados Unidos. As informações são do portal Estadão.
Ramagem foi condenado em setembro a mais de 16 anos de prisão em regime fechado por envolvimento na trama golpista e estava proibido de deixar o Brasil. A prisão preventiva do deputado foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira, 21.
“Há uma semana, desembarquei com minhas filhas nos EUA com um único propósito: proteger a minha família”, escreveu Rebeca na publicação. As imagens mostram as filhas de Ramagem correndo pelo aeroporto para abraçar o pai e indicam que o parlamentar e o restante da família chegaram ao País em momentos diferentes.
Rebeca disse que a mudança para os EUA ocorreu porque eles não encontraram no Brasil “a garantia de uma justiça imparcial”. “Somos vítimas de lawfare e temos enfrentado uma perseguição política desumana”, afirmou. O termo lawfare diz respeito à utilização da lei para perseguir um oponente.
“Mantemos a esperança de um dia voltar a um Brasil, onde a escolha político-ideológica não seja tratada como crime, e onde a liberdade de pensar e expressar ideias não se torne motivo de condenação”, acrescentou a mulher de Ramagem.
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Corrupção é coração partido. Esta Terra de Vera Cruz, a terra da verdadeira Cruz, padece da síndrome do coração partido. Aconteceu uma metástase. As veias, as artérias, o cérebro, as vísceras, o sangue e as células estão contaminados. A corrupção ataca com unhas e dentes e coração. Mas, ainda há lampejos na alma.
Depois da Covid, foi decretada a pandemia de corrupção, roubos e furtos, drogas e delinquência, à direita, à esquerda, em todas as latitudes e longitudes. Do lumpen às falsas elites, a sociedade está doente. Não tem vacina que dê jeito.
Programas de assistência social, tipo o Bolsa Família, servem de amparo e também alimentam a parasitagem. Está criado um dilema. As exceções confirmam a regra. O crack destrói indivíduos e destrói famílias. Nas áreas mais pobres do Nordeste existe o problema de escassez da mão-de-obra por conta do Bolsa Família. Diaristas e faxineiras nas regiões urbanas preferem o auxílio do Governo ao invés de carteira assinada.
A Justiça do Trabalho é uma fábrica de ilusões paternalistas. Pequenos empresários e comerciantes evitar a contratação de empregados por conta dos encargos trabalhistas. De tal modo inibem a expansão dos seus negócios e por conseguintes das atividades empresariais. Esses pequenos e médios empreendedores trabalham sempre aquém da necessidade de mão-de-obra. Na realidade, o que garante emprego é a expansão das atividades econômicas e não legislações paternalistas.
A corrupção é um grande império nesta terra de Vera Cruz, a terra da verdadeira Cruz. O assalto bilionário aos aposentados pensionistas do INSS, eis o grande exemplo. Com dentes de marfim feito elefantes, os mega-bandoleiros apresentam-se blindados da cabeça aos pés para depor na CPMI do Congresso Nacional. Eles tripudiam sobre os deputadozinhos e senadorzinhos que os interpelam.
Um ladravaz do INSS ameaçou dar voz de prisão a um repórter, por desacato a autoridade, que perguntou “de Vossa Majestade tirou tantos denários para comprar um apê de 26 milhões no balneário Camboriú” Tirei de minha conta, não é da sua conta, trovejou. O pobrezinho ficou se tremendo todo de medo. Se fosse eu saia correndo em disparada pelas ladeiras de Brasília.
Fim de ano é época de maiores dispêndios supérfluos ou estéreis de prefeituras e órgãos públicos. Prefeituras passam o ano inteiro arrecadando IPTU e recebendo transferências da União. Nos festejos de Natal e Réveillon raspam os cofres em foguetórios e para pagar cachês milionários a artistas da fuleiragem ou de meia tigela. Mesmo que não fossem artistas da fuleiragem não se justificaria a orgia com recursos púbicos diante das urgências sociais em saúde e educação.
O ditador narcotraficante da Venezuela morreu politicamente, respira com ajuda de aparelhos da corrupção monetária. O Véio do Pastoril do Cordão Encarnado tentou intervir em favor dele. Inútil. A Venezuela deixa um débito de 1,5 bilhão de dólares com o BR. O ditador abocanhou uma parte dos empréstimos. As esquerdas latino-americanas estão de luto. Guenta mundiça!
A prisão do ex-presidente Bolsonaro estava escrita nas estrelas para esta semana. O acórdão, já publicado, com prazo para os segundos embargos de declaração, terminou ontem. O relator deve rejeitá-los sem levar o caso de volta à Turma, o que, segundo o que está documentado, abre caminho para a execução da pena.
Não há possibilidade de embargos infringentes, porque Bolsonaro não obteve dois votos pela absolvição. O rito estava definido, mas, como sempre, ele e os filhos levaram Xandão, como é conhecido o ministro Alexandre de Moraes, a antecipar a prisão, de forma preventiva.
A convocação de uma vigília para o sábado à noite, pelo senador Flávio Bolsonaro, despertou ira em Xandão, mas não o suficiente para antecipar a prisão. O que pesou de fato foi a tentativa de violação da tornozeleira, confessada pelo próprio Bolsonaro, que usou um ferro de solda. Independente do desespero de Bolsonaro, os filhos parecem algozes do pai, porque são criadores de problemas, trapalhões, com atitudes muitas vezes infantis.
E isso não vem de agora. Jair Bolsonaro mal havia vestido a faixa presidencial quando aliados começaram a reclamar das ações de seus filhos. O primeiro a se queixar em público foi o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Acabou demitido antes de completar dois meses no cargo.
Eleito por um partido de aluguel, Bolsonaro não tinha quadros para montar o governo. Loteou a Esplanada entre militares e permitiu que os filhos Flávio, Carlos e Eduardo interferissem à vontade na gestão federal. Flávio, o senador, foi promovido a líder informal do governo no Congresso. Carlos, o vereador, ganhou o comando das redes sociais do Planalto. Eduardo, o deputado, quase virou embaixador nos Estados Unidos.
Terminou aboletado na liderança do PSL na Câmara, o que deixou mais alguns bolsonaristas insatisfeitos pelo caminho. A defesa incondicional dos filhos não foi bom negócio para Jair. A cada crise, o então presidente viu aumentarem o desgaste público e o isolamento político. Os herdeiros atrapalharam o governo e afastaram aliados. Agora ajudaram a antecipar a prisão do pai.
Há três meses, a atuação de Eduardo levou o Supremo Tribunal Federal a impor as primeiras medidas cautelares ao capitão. O deputado fugiu para os Estados Unidos e passou a tramar contra as instituições brasileiras. Convenceu a Casa Branca a baixar o tarifaço e presenteou o pai com uma tornozeleira eletrônica — mais tarde convertida em prisão domiciliar.
No início da noite da sexta-feira passada, Flávio incitou seguidores a se concentrarem na porta do condomínio de Bolsonaro em Brasília. Em vídeo nas redes sociais, o Zero Um convocou uma “vigília” em favor do pai. “Com a sua força, a força do povo, a gente vai reagir e resgatar o Brasil desse cativeiro que ele se encontra hoje”, bradou.
Xandão não quis pagar para ver. Na madrugada do sábado passado, decretou a prisão preventiva do ex-presidente para a garantia da ordem pública. A decisão equiparou as ações da família Bolsonaro às de uma quadrilha. “O vídeo gravado por Flávio Bolsonaro incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias instituições, demonstrando que não há limites na organização criminosa na tentativa de causar caos social e conflitos no país”, anotou o ministro.
ALERTAS SEM EFEITO – Ao longo de 2019, não foram poucos os aliados que advertiram o capitão para o risco de dar tanto poder aos herdeiros. “O que está desgastando muito o presidente são filhos com mania de príncipes”, disse em outubro o senador Major Olímpio. “Esses moleques precisam de camisa de força. São um risco para o Brasil e para o mandato do presidente”, emendou dias depois a deputada Joice Hasselmann. Os alertas não convenceram Bolsonaro a reduzir a influência da prole no governo. Ao contrário: ele ampliou o espaço dos filhos e afastou todos os aliados que se queixaram — alguns deles, com requintes de crueldade.
Nas tetas – Os filhos do presidente atrapalham muito, são o maior problema do governo”, disse, na época, Gustavo Bebianno, poucos meses depois da degola da Secretaria Geral da Presidência. E completou: “São mimados, nunca trabalharam na iniciativa privada, nunca enfrentaram um ambiente de trabalho normal. Sempre mamaram nas tetas do Estado”. Traduzindo: sem controlar com mão de ferro os filhos, Bolsonaro cavou a sua própria sepultura. Na vida, tudo tem que ter limites, especialmente em se tratando do poder.
Fim do bolsonarismo? – Cientistas políticos e antropólogos que estudam a evolução do bolsonarismo desde 2018 afirmaram ao jornal O Globo que a maior privação de liberdade, devido à prisão na superintendência da Polícia Federal, pode afetar o papel de Bolsonaro como cabo eleitoral e aumentar o risco de fragmentação de seu campo. Na avaliação dos especialistas, o ex-presidente “perdeu o timing” da definição de um sucessor, o que ameaça a própria permanência do termo “bolsonarismo” para caracterizar a oposição ao governo Lula (PT).
A diferença para Lula – A cientista política Camila Rocha, diretora do Centro para Imaginação Crítica do Cebrap, disse que a presença física de Bolsonaro já se mostrava relevante, por exemplo, para atrair público em manifestações bolsonaristas. A passagem da prisão domiciliar para o regime fechado, se confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao fim do julgamento dos recursos do ex-presidente, pode acentuar uma sensação de que sua imagem está “sumindo”. “Quando Lula estava detido em 2018, também em uma superintendência da PF, ele estava fisicamente bem de saúde, as pessoas tinham acesso, ele deu entrevistas. Em relação a Bolsonaro, a situação é diferente. Ele não está do ponto de vista de saúde muito bem e não parece haver um grande apoio internacional, por parte de outras lideranças, em relação a uma possível libertação”, comparou a pesquisadora.
Todo mundo sabe o que ele fez – Do presidente Lula ao ser questionado sobre a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro: “Não faço comentário sobre decisão da Suprema Corte. A Justiça tomou uma decisão, ele foi julgado, ele teve todo direito à presunção de inocência, foram praticamente dois anos e meio de investigação, de delação, de julgamento. A Justiça decidiu, está decidido, ele vai cumprir com a pena que a Justiça determinou e todo mundo sabe o que ele fez”.
CURTAS
DE VOLTA – O ex-senador e agora deputado Aécio Neves (MG), neto de Tancredo Neves, será eleito, por unanimidade, novo presidente do PSDB em convenção marcada para a próxima quinta-feira, no Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília. Chega com muita disposição de soerguer o partido, hoje sem governador, sem senador e uma minúscula bancada na Câmara Federal.
NO PODCAST – Aécio, aliás, é o meu convidado do podcast de amanhã, o Direto de Brasília, em parceria com a Folha de Pernambuco, com transmissão para 165 emissoras no Nordeste. Vai falar do novo desafio, do quadro nacional e das eleições 2026.
ESCLARECIMENTOS – Ao tomar conhecimento pelo blog, através da coluna assinada por Larissa Rodrigues, de que a Secretaria de Educação de Pernambuco fez operações com o BRB, banco estatal de Brasília, envolvido no escândalo do Banco Master, o deputado Waldemar Borges (PSB) antecipou que entrará esta com um pedido de informações à governadora Raquel Lyra. “Pernambuco precisa saber qual foi o critério que fez a governadora retirar dinheiro da educação de Pernambuco de uma instituição pública, sólida, como é o Banco do Brasil, para colocar num BRB, cujos indícios de má gestão já são de conhecimento do mercado faz muito tempo”, afirmou.
Perguntar não ofende: Bolsonaro ainda será um influente cabo eleitoral em 26?
Um policial militar do Distrito Federal usou spray de pimenta para intervir em uma confusão em frente à sede da Polícia Federal em Brasília, na tarde deste domingo (23), onde o ex-presidente Jair Bolsonaro está preso. A equipe do Estadão presenciou o momento (confira no vídeo abaixo).
O Estadão buscou contato com a Polícia Militar, a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Nas imagens, o jovem usando uma camisa regata preta aparece dançando e erguendo os braços em tom de alegria antes de chacoalhar a bebida e abri-la. Outra pessoa se aproxima segurando um celular, e os dois passam a se estranhar. Um manifestante envolto na bandeira do Brasil também aparece e tenta atingi-lo.
Diante do princípio de confusão, um policial militar se aproximou e fez uso de spray de pimenta. Algumas pessoas que estavam em volta, incluindo manifestantes, curiosos e jornalistas, dispersaram a concentração e apresentaram sintomas de tosse.
Diversas pessoas estão no local por conta da prisão preventiva de Bolsonaro, decretada ontem (22). Bolsonaro chegou a admitir que danificou sua tornozeleira eletrônica usada na prisão domiciliar. Na tarde deste domingo ele recebeu a visita de sua mulher, Michelle Bolsonaro, que ficou por lá durante cerca de duas horas.
Em entrevista no encerramento do encontro de líderes do G20, neste domingo (23), o presidente Lula (PT) descreveu um cenário “muito difícil” nas negociações finais da COP30, o encontro da ONU sobre mudanças climáticas.
O petista disse que conversou com autoridades na África do Sul sobre o tema e que chegou a fazer ligações de madrugada para Belém, onde acontecia a conferência. A cúpula do G20 acontece em Joanesburgo. As informações são da Folha de S.Paulo.
“Foi muito difícil mudar de decisão, foi muito difícil. Nós conversamos duas horas da manhã, três horas da manhã, falamos com a Ursula Von der Leyen [presidente da Comissão Europeia] aqui, falamos com o António Costa [presidente do Conselho Europeu], falamos com o [Emmanuel] Macron [presidente da França], telefonamos com o André [Corrêa do Lago, presidente da COP] muitas vezes, com a Marina [Silva, ministra do Meio-Ambiente] muitas vezes, telefonamos com o [Gustavo] Petro [presidente da Colômbia], telefonamos com a ministra [do Ambiente] do Petro [Irene Vélez], ou seja, eu sei que deu certo”, relatou o presidente.
O texto final da COP não cita a necessidade de abandonar gradualmente os combustíveis fósseis para combater o aquecimento global, o que gerou críticas ao resultado final. Lula, porém, disse considerar a cúpula um sucesso. “Aprovou-se um documento único e o multilateralismo saiu vitorioso na COP30 e Belém ficou maravilhosamente bonita para o povo do Pará.”
Segundo ele, o “mapa do caminho” proposto pelo Brasil para a transição dos combustíveis fósseis para energias limpas foi uma vitória. Inicialmente, Lula defendeu que esse projeto fizesse parte do acordo final, mas isso foi rejeitado por uma série de países. No fim, acabou sendo apresentado como uma iniciativa da presidência da COP30 — o que sginifica que outras nações não são obrigadas a segui-lo.
“O mapa do caminho não é uma imposição de uma data. É uma discussão em que você tem que envolver especialistas, tem que envolver as empresas de petróleo, até chegar a extinguir o uso de combustível fóssil. Até porque o petróleo não é só para a gasolina e para o diesel. Vai continuar tendo a sua importância. Eu sabia que era difícil. Eu nunca imaginei que a Arábia Saudita fosse concordar com isso”, afirmou Lula.
Quanta coincidência. Todo mundo sabe que o Teatro Santa Isabel tem muita história e que, inclusive, sediou discussões acaloradas durante a campanha abolicionista no século 19 e viveu fatos marcantes também no século 20. Lembrei disso porque, no sábado, fui assistir “Lady Tempestade”, peça inspirada nos diários de Mércia Albuquerque, advogada que defendia presos políticos durante a ditadura e a qual entrevistei várias vezes, em seu apartamento, no bairro da Boa Vista. Pouco antes do início da peça, circularam cartazes de mão em mão com fotografias e nomes de torturados e desaparecidos durante o regime de exceção implantado no Brasil em 1964.
Poucos minutos antes da sessão, a atriz Andrea Beltrão — que interpreta Mércia de forma magistral — lembrou que o 22/11 era uma data “especial” e nem precisou falar no resto, que a plateia entendeu e bateu palmas para a artista. O 22/11 foi o dia em que o ex-Presidente golpista Jair Bolsonaro foi preso na Polícia Federal, em Brasília, após tentar violar a tornozeleira eletrônica que permite ao Supremo Tribunal Federal e à própria PF monitorar seus passos. Andrea foi aplaudida de pé ao final da peça, após mostrar e contar histórias de violação de direitos humanos, práticas de torturas nas masmorras do regime, e a saga de mães que procuravam filhos que apareceram mortos. Ou que nunca apareceram.
Quando ela referiu-se à prisão do ex-Capitão, o “filme” voltou. Em 1979, eu estava na plateia do Santa Isabel, para assistir uma peça que seria apresentada pela companhia de teatro então comandada pela atriz Ruth Escobar. Não lembro se a peça era “Fábrica de Chocolate” ou “Revista do Henfil”, ambas encenadas no final daquela década. As duas com forte conteúdo político, o que não deixava de ser uma façanha, pois em 1979 o Brasil ainda vivia um regime de exceção e sob censura. E o presidente era um General, João Baptista Figueiredo, que dizia que jamais daria anistia a militantes de esquerda e que gostava mais de “cheiro de cavalo do que cheiro de povo”.
Antes da sessão de “Lady Tempestade”, plateia recebeu fotos de desaparecidos na ditadura: de mão em mão
Naquela época, não existia Internet e as informações não circulavam com a velocidade relâmpago com que se espalham hoje. As cortinas do TSI ainda estavam fechadas, Ruth saiu por uma brecha, ocupou a frente do palco e disse para o público. “Gente, tenho uma novidade. O Fleury morreu”. Acreditem, o que seria uma notícia fúnebre e, portanto, triste, virou piada. Pois a notícia gerou uma uníssona gargalhada na plateia. Todo mundo “morrendo” de rir.
E era verdade. Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979) havia se afogado, naquele 1º de maio. Ele era uma das figuras mais temidas por presos políticos, e foi acusado de múltiplas torturas, desaparecimentos e assassinatos, quando comandava o famigerado DOPS – Departamento de Ordem Politica e Social, na verdade a máquina mor da tortura em São Paulo.
Entre os casos célebres que ele teria participado no país estão: o assassinato do guerrilheiro Carlos Lamarca; a sessão de torturas contra o dominicano Frei Tito, que ficou com tantas sequelas psicológicas, que cometeu o suicídio, em 1974, na França. Tinha apenas 28 anos. O Delegado também teria comandado as chacinas da Lapa e da Granja de Sã Bento, esta em Pernambuco, quando foi assassinada a militante Soledad Barret, que estava grávida.
Já Fleury teria morrido ao passar do seu iate para um outro barco, e caído no mar após ter bebido bastante. O caso que aconteceu na praia de Ilhabela (SP) até hoje não foi devidamente explicado, e há suspeitas que ele teria sido assassinado por companheiros da repressão como queima de arquivo.
Qual a relação, portanto, entre 22 de novembro de 2025 (prisão de Jair Bolsonaro) e 1 de maio de 1979 (quando Fleury morreu?). Ambos são da extrema direita, ambos se alimentaram do ódio a vida inteira. E embora o ex-capitão preso e sua familícia invoquem “direitos humanos” e digam que “o Brasil vive uma ditadura”, a retórica não cola. O Brasil vive uma democracia, em que as instituições republicanas funcionam.
E embora Bolsonaro e seus apaniguados tenham tentado dar um golpe de estado — para que o ex-capitão ficasse eternamente no poder (no caso, um ditador) — o processo a que respondem teve tramitação obedecendo a todos os rituais jurídicos, inclusive com direito de defesa. Lembram que na trama golpista havia projeto para assassinar o Presidente Lula, o seu vice Geraldo Alckmin e o Ministro Alexandre de Moraes, o Xandão do STF?
Imaginem se fosse o contrário… e o golpe tivesse dado certo… O Brasil estaria cheio de “Fleuryzinhos” por aí. E memória é bom. Lembram que no passado, em entrevista, Bolsonaro disse que se fosse presidente “não tenha a menor dúvida, daria um golpe no mesmo dia”. Não foi no mesmo dia da posse, mas em 8 de janeiro, já que não conseguira renovar o seu mandato.
O golpista já defendeu em entrevistas um tipo de tortura muito comum na ditadura brasileira, o pau-de-arara. “Funciona, sou favorável à tortura”. Quando deputado federal, durante a votação do impeachment da então Presidenta Dilma Rousseff, ele prestou uma homenagem a outro torturador: o General Brilhante Ustra. E agora, ele e as crias vivem defendendo “direitos humanos”. Resta saber que “direitos humanos” são esses, no entendimento da extrema direita brasileira, cuja especialidade maior é distorcer a verdade, fabricar fake news e tentar desmoralizar as autoridades e as instituições.
Carina Lins comemora duas décadas de trajetória com um grande show no próximo domingo (30), no Clube Bela Vista. A cantora, que vive uma fase de renovação artística, promete uma apresentação marcante para o público.
Recentemente, Carina lançou o clipe da música “Eu Só Penso em Ti” e prepara ainda mais novidades, como o EP visual gravado na comunidade, reunindo sucessos do brega em releituras modernas e cheias de identidade. O novo projeto reforça o momento de expansão criativa da artista, que aposta em elementos inovadores para movimentar o brega em 2026.
Há um ano integrando o casting da RME Produções, mesma produtora de Priscila Senna, Carina Lins tem mostrado força, versatilidade e evolução constante. No show comemorativo, além da própria Carina, o público poderá curtir apresentações de Conde, Tayara e outras atrações especiais que prometem completar a festa que começa a partir das 12h. Os ingresso estão a venda na bilheteria digital.
Governadores de direita aliados de Jair Bolsonaro (PL) não se manifestaram após a publicação do vídeo em que o ex-presidente admite violar a tornozeleira eletrônica, que começou a circular por volta das 16h de ontem (22). Cláudio Castro (PL), Jorginho Mello (PL), Ratinho Jr. (PSD), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) fizeram publicações durante a manhã de apoio a Bolsonaro, mas se eximiram de fazer novos comentários a respeito do caso nas redes sociais até às 16h deste domingo (23), 24 horas depois da veiculação do vídeo.
A publicação com tom mais veemente entre os governadores foi a do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Ele afirmou que a “Justiça hoje no Brasil é utilizada apenas como arma de perseguição ideológica”. O post também foi o mais recente feito pelos governadores até o momento de publicação dessa reportagem: Zema fez o post no X às 15h26 do sábado. As informações são do jornal O Globo.
A Justiça hoje no Brasil é utilizada apenas como arma de perseguição ideológica.
A Lei legitima a tirania. Bastiat já falava isso séculos atrás. É a história se repetindo. pic.twitter.com/u1u6X7gyFw
Entre os governadores, a publicação de apoio ao ex-presidente, feita antes da veiculação do vídeo, foi também a última feita nas redes até o momento, com a exceção de Jorginho Mello, que, às 10h45, anunciou a construção de um hospital em Palhoça (SC). Anteriormente, às 8h do sábado, ele afirmou que “Jair Bolsonaro não teve um julgamento justo e vem sendo privado de liberdade antes mesmo da sua condenação”.
Outra exceção foi Ronaldo Caiado, que foi internado após sofrer uma arritmia cardíaca, e ficará no hospital para a realização de procedimento cirúrgico. Os posts mais recentes das páginas do governador de Goiás foram boletins com atualizações sobre a internação. Às 13h24 do sábado, Caiado publicou um vídeo de apoio ao ex-presidente, e afirmou que a prisão de Bolsonaro se trata de “mais um triste capítulo da vida política nacional”.
Os números contam a história com brutal simplicidade: das tarifas de 50% impostas por Donald Trump em julho de 2025, mais da metade já caiu. Não houve retaliação, não houve bravata. Houve diplomacia — daquela que o Brasil domina desde que aprendeu, há mais de um século, que a força da razão costuma atravessar paredes que a força bruta apenas arranha.
A reversão anunciada no dia 20 de novembro — que retirou a sobretaxa de mais de 200 produtos brasileiros, incluindo café, carne bovina, cacau, frutas e açúcar — reorganizou o tabuleiro comercial entre os dois países. Produtos que até ontem estavam punidos com 50% de sobretaxa voltaram a pagar apenas a tarifa-base americana, que varia entre 0% e 10%.
Segundo dados atualizados do MDIC, a fatia da pauta exportadora brasileira sujeita ao pacote tarifário excepcional caiu de 35,9% para aproximadamente 12%. É um avanço concreto, com impacto imediato em cadeias produtivas inteiras. Mas não é o ponto final. Motores industriais, autopeças, máquinas e parte do setor metalmecânico continuam sob tarifas elevadas, além dos produtos afetados por regras americanas de segurança nacional, como aço e alumínio. O contencioso foi reduzido, não encerrado.
Para entender o que está em curso, é preciso revisitar o momento em que a diplomacia brasileira adquiriu a musculatura que a distingue no mundo. José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco (1845–1912), transformou a política externa em ofício rigoroso: estudava até a exaustão, cruzava mapas, revisava arquivos coloniais e articulava fatos com precisão de relojoeiro. Suas conquistas territoriais — Acre, Amapá, Pirara — foram fruto de método, não de sorte. Ele dizia que “a diplomacia é a defesa dos interesses nacionais pela força da razão”. E acrescentava: “O Brasil deve ser firme, mas jamais agressivo.” O Brasil volta a respirar esse método.
Não houve, nos últimos quatro meses, qualquer gesto de improviso. Ao contrário: diante das tarifas punitivas aplicadas pela Casa Branca, o governo montou uma frente integrada entre Itamaraty, MDIC, Fazenda e Casa Civil. Em vez de reagir com retaliações precipitadas — que apenas elevariam tensões — o país optou pelo caminho que Rio Branco chamaria de “altivez serena”: firmeza sem espalhafato, convicção sem hostilidade.
E essa escolha produziu efeito. O aumento de preços nos supermercados americanos, resultado direto da tarifa sobre alimentos, gerou pressão na política interna. Importadores, redes de varejo e setores industriais passaram a argumentar que manter o pacote tarifário prejudicava mais consumidores americanos do que exportadores brasileiros. Trump recuou. Parcialmente, mas recuou.
O Brasil, fiel à sua tradição diplomática, não humilhou, não comemorou em excesso, não transformou o recuo em espetáculo. Apenas avançou. É assim que se faz política externa eficaz: com método, e não com ruído.
A razão pela qual a diplomacia brasileira alcança resultados está na estrutura que a sustenta. O Itamaraty é uma instituição de Estado, não de governo. Seus quadros estudam história, geografia, comércio internacional, direito, línguas, tratados e precedentes. Sabem negociar porque foram treinados para isso — em um país onde, felizmente, diplomatas ainda são valorizados por conhecimento, e não por alinhamentos ideológicos passageiros.
Essa postura técnica, somada a princípios consolidados, explica o respeito global conquistado pelo Brasil:
— profissionalismo rigoroso, que produz argumentos sólidos e confiáveis;
— autonomia estratégica, que permite dialogar com todos sem submissão;
— firmeza sem agressividade, que impede escaladas desnecessárias;
— apego ao direito internacional, que oferece proteção normativa num mundo volátil;
— busca da paz como instrumento, não como ornamento retórico.
Essa fórmula — discreta, lógica, consistente — foi lapidada por Rio Branco. E, neste momento, reaparece com rara nitidez.
Com a redução das tarifas, inicia-se agora a etapa mais delicada: a remoção completa das barreiras remanescentes. O Itamaraty trabalha em várias frentes simultâneas, seguindo um roteiro que combina técnica, estratégia e cálculo político.
Entendo serem esses os próximos passos da diplomacia brasileira:
1. Ampliar a coalizão internacional.
Unir países igualmente afetados aumenta o custo político de manter tarifas sem justificativa econômica.
2. Usar o G20 e a OMC como arenas de legitimidade.
Sem confronto direto, o Brasil enquadra as tarifas como distorções que afetam cadeias globais de suprimentos.
3. Mobilizar setores econômicos americanos.
Importadores, distribuidores e indústrias norte-americanas sabem que a tarifa encareceu preços internos e prejudicou sua competitividade.
4. Negociar diretamente com o USTR e agências regulatórias.
Um trabalho silencioso, técnico, baseado em dados, mostrando onde as tarifas elevam custos para consumidores americanos.
5. Isolar o custo político das tarifas no Congresso dos EUA.
À medida que parlamentares americanos percebem a pressão inflacionária interna, cresce a tendência de rever tarifas punitivas.
Esse é o mapa. Um mapa que não promete vitórias fáceis, mas promete vitórias possíveis. E, sobretudo, vitórias duradouras.
Rio Branco costumava dizer que “a paz é a vitória da inteligência sobre a precipitação”. Em 2025, essa frase volta a ter corpo, carne e conteúdo. O Brasil não caiu na armadilha da reação impensada, não devolveu agressão com agressão, não buscou holofotes enquanto o problema exigia discrição.
Optou pelo método. E quando o Brasil escolhe o método — o método de Rio Branco — quase sempre avança.
O país não encerrou o contencioso. Mas está resolvendo-o com a ferramenta que mais o honra no mundo: diplomacia com rigor, diplomacia com serenidade, diplomacia com história.