Por Claudemir Gomes*
“A bola não quis entrar!”. A frase foi adotada por muitos torcedores alvirrubros na tentativa de se conformar com a derrota – 2×0 – sofrida pelo Náutico, para o Guarani, ontem no Estádio dos Aflitos. Uma heresia para a qual a frustração do tropeço, num jogo que todos tinham a vitória na conta do time da casa, é a penitência que leva a reflexão.
Certa vez, isso há muito tempo, um técnico, um jogador, um dirigente ou mesmo um cronista esportivo (narrador, comentarista ou repórter), na tentativa de explicar o inexplicável, saiu-se com a frase: “A bola não quis entrar!”.
Leia maisNinguém nunca entrevistou a bola para saber da vontade, ou o porquê daquela birra de se recusar a entrar no gol. E assim foi criado um jargão que é usado até os dias de hoje. No caso deste jogo – Náutico 0x2 Guarani – embora tenha sido voz corrente entre os torcedores na saída do estádio, a frase, que considero uma das mais infames do futebol, soa como fake news. Afinal, a bola entrou duas vezes, só que do lado indesejado dos alvirrubros.
Reza a lenda que, em Limoeiro, quando o coronel Chico Heráclio ia assistir a um jogo do Colombo, e a bola ficava com pantim, ele ordenava para que ela entrasse no gol adversário. “Infeliz do poder que não pode!”. Como ninguém, dentro da nova ordem, tem mais esse poder, sugiro que, no próximo sábado, alguém converse com a bola, e a convença de entrar no gol da Ponte Preta, que será o próximo adversário do Náutico.
Antes, porém, os puxões de orelha ficam a cargo do técnico Hélio dos Anjos. Em jogos decisivos, como todos esses que estão sendo disputados pelo Náutico, as diferenças estão embutidas nos detalhes. E eles são os pontos de desequilíbrio. Perder o foco por dois minutos representa uma desvantagem de dois gols. Simples assim. E foi isso que aconteceu.
Dois gols nascidos em jogadas de bola parada, no curto espaço de dois minutos impactaram no time da casa, que vinha de uma boa sequência invicta, e cinco partidas sem sofrer gols. O fato novo sempre produz efeitos colaterais. É sobre essa verdade que o experiente Hélio dos Anjos vai alinhar a cabeça dos seus comandados durante toda a semana de treinamentos.
O Náutico deixou escapar a oportunidade de construir uma vantagem, mas não deu com os burros n’água em relação ao desejado acesso. Sendo assim, a ordem é levantar-se, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tropeços acontecem, o que não pode é transferir responsabilidade para quem não tem culpa: a bola.
Seria leviandade de minha parte afirmar que o time foi a campo de salto alto, confiante de estar atuando em casa, no alçapão dos Aflitos, até porque conheço o treinador alvirrubro e sei o quanto ele trabalha no sentido de evitar que o ego dos jogadores sejam inflados. Mas no futebol nem tudo segue como manda o figurino. Isto é fato.
Sigo afirmando que não sei por que a bola não entrou. Acredito que por capricho. Pelo visto, a bola também tem suas propostas.
*Jornalista
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