Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
O governo tentará adiar ao máximo o início da discussão do Projeto de Lei Antifacção. Havia uma possibilidade de votação já na quarta-feira (12). O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chega nesta terça-feira (11) a Brasília com a missão de conseguir evitar.
O governo foi surpreendido com a forma como o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu para relatar o projeto o deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Derrite era o secretário de Segurança Pública de São Paulo, e foi exonerado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para relatar o projeto. Pelas informações do governo, Derrite começou a preparar seu relatório ainda em São Paulo, com o auxílio de Tarcísio e sua equipe.
Leia maisÉ mais um capítulo da guerra política em torno da segurança pública. Como já contamos por aqui, parte da oposição ao governo Lula avalia que o combate ao crime será o ponto de inflexão para que se ganhe musculatura para enfrentar o atual presidente em 2026.
É o plano para a construção de um discurso à margem do ex-presidente Jair Bolsonaro que, com a prisão iminente, sairia do front. Por esse caminho, os governadores apresentariam suas soluções para combater a criminalidade, colando no governo uma imagem de inação.
Ao escolher Guilherme Derrite para a relatoria, Hugo Motta cedeu à pressão de Tarcísio e de quem se alinha a esse plano, avaliam os governistas. Mais um sinal, consideram, do caráter escorregadio de Motta, que ora acende uma vela para o governo, ora para a oposição. Para se eleger presidente da Câmara, Motta fez acordos com os dois grupos que polarizam a disputa política. O que se comprometeu com um e com o outro não se sabe ao certo. Por causa disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já chegou a reclamar que o presidente da Câmara, com seus dois maridos, surpreende e não cumpre seus acordos.
O maior temor do governo relaciona-se à possiblidade de o projeto vir a enquadrar o tráfico de drogas como “narcoterrorismo”. No caso, o temor é a abertura de uma brecha para uma eventual intervenção dos Estados Unidos no combate ao crime em território brasileiro.
Depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos intensificaram o que batizaram de “Guerra ao Terror”, um caminho que autoriza o país a intervir quando sente que a sua segurança interna está ameaçada.
Desde então, acordos de cooperação entre a Polícia Federal e o FBI foram assinados. E ambas as polícias atuam com certa independência das orientações dos governos. Há um temor de descontrole das ações com a equiparação de traficantes a terroristas.
Mas, numa linha oposta, há também o temor de enfraquecimento da Polícia Federal. Porque Derrite poderia estabelecer em seu relatório que uma ação conjunta da PF com as polícias civil só poderia acontecer a pedido dos governadores. O governo quer mais tempo.
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