Por Zé Américo Silva*
Sempre que se aproxima a data do anúncio do valor do salário-mínimo, ressurge também o velho coro dos setores conservadores da economia contra qualquer tentativa de valorização real dessa renda, como se garantir dignidade mínima ao trabalhador fosse um atentado ao Estado. O discurso é sempre o mesmo: “o Brasil vai quebrar”, “não há como pagar”, “isso gera desemprego”. Narrativas repetidas não para defender o país, mas para proteger interesses próprios.
O contraste é cristalino. Os mesmos grupos que se insurgem contra reajustes reais são os que, por décadas, garantiram – e continuam garantindo – enormes subsídios fiscais, isenções e incentivos às empresas, muitas delas centenárias, de origem familiar, com lucros bilionários que investem fora do país e pouco devolvem à sociedade que as sustenta. Quando o debate chega perto da revisão desses benefícios, a reação vem em forma de chantagem política: ameaças de demissões, redução de investimentos e a ladainha de que “sem subsídio não há emprego”.
Leia maisNão se trata de alinhamento automático à esquerda ou à direita, mas de assumir um posicionamento ético e civilizatório: ao lado de quem mais precisa. O trabalhador e a trabalhadora são os verdadeiros geradores de riqueza do Brasil. São eles que garantem, todos os dias, a produtividade do país, mesmo sobrevivendo com um salário-mínimo que, historicamente, não cobre sequer os custos básicos definidos pela Constituição para uma vida digna.
Atacar o aumento do salário-mínimo enquanto se defende a perpetuação de incentivos às elites produtivas é expor um projeto econômico que externaliza custos sociais e concentra lucros. Um país onde milhões vivem de renda informal, de programas como o Bolsa Família, ou de um salário-mínimo insuficiente, não pode aceitar como natural que quem lucra mais se recuse a contribuir com a valorização da base que sustenta o consumo e movimenta o mercado interno.
Quem realmente acredita no desenvolvimento econômico deveria entender que um salário-mínimo valorizado é motor de crescimento: amplia poder de compra, fortalece pequenos negócios, reduz desigualdade e melhora indicadores sociais – saúde, educação, segurança e cidadania. Ao contrário, manter o salário achatado é perpetuar um país subdesenvolvido, intelectualmente fragilizado e socialmente adoecido.
A pergunta, portanto, não é se o aumento real do salário-mínimo “quebra o Estado”. A questão é: até quando continuaremos aceitando um modelo que coloca o privilégio empresarial acima da dignidade humana? Um país que teme pagar melhor a quem produz, mas não hesita em financiar o topo da pirâmide, precisa rever com urgência quem realmente está gerando riqueza – e quem apenas extrai, sem devolver.
Um projeto de futuro exige coragem para escolher o lado certo. E o lado certo, no Brasil, tem nome: trabalhador e trabalhadora.
*Jornalista e consultor de marketing político
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