Por Antônio Campos
A nova Idade Média começou silenciosamente, não com muralhas e feudos, mas com o isolamento imposto pela pandemia da Covid-19. Foi o ponto de virada em que a tecnologia e o mundo hiperdigital passaram a ditar o ritmo da vida, impactando profundamente o ser humano e fragilizando os vínculos reais.
Se Umberto Eco, o genial autor italiano, retratou com maestria a Idade Média em O Nome da Rosa — obra que mescla o romance policial com a densidade histórica e filosófica — talvez hoje pudéssemos imaginar um novo enredo: A Rosa Digital. Nesta narrativa contemporânea, a nova religião é a tecnologia, e seu semideus, a inteligência artificial.
Vivemos um tempo de transição, ou talvez de mutação, no qual a saúde mental da humanidade deveria ser tratada como prioridade global. Não é por acaso que quase um terço das perguntas dirigidas às inteligências artificiais — ou em outras plataformas digitais — dizem respeito a questões de saúde emocional.
Leia maisO cenário se agrava em um mundo marcado por guerras reais, cibernéticas e de narrativas, em que a verdade é disputada como território. É nesse contexto que se torna urgente resgatar as lições da filosofia clássica e suas verdades atemporais. Voltar a Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio não é um exercício de nostalgia intelectual, mas um ato de sobrevivência.
Talvez, como os monges copistas preservaram o conhecimento no passado, precisemos agora encontrar formas de preservar a lucidez, a empatia e o equilíbrio interior — antes que o ruído digital e as sombras desta nova Idade Média nos engulam por completo.
A Rosa digital tem o efeito similar da Rosa de Hiroshima, a bomba atômica, há 80 anos, em território japonês.
É preciso cuidar, antes que as trevas dominem e buscar novamente a saída dessa nova Caverna, agora mental, um mundo de sombras, uma vez imaginada por Platão, em o seu Mito da Caverna.
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