Por Eliane Cantanhêde
Do Estadão
Gleisi Hoffmann mostra serviço e Fernando Haddad força a porta para voltar ao palco e à cena principal, depois de derrotas consecutivas e de ver seu prestígio interno balançar e a confiança na opinião pública desabar. De “alternativa natural” ao presidente Lula como candidato da esquerda, acaba de se defrontar com 58% de avaliação negativa na pesquisa Genial Quaest no mercado financeiro.
Por mais que Haddad tente desqualificar o resultado, alegando que a pesquisa nem pode ser chamada de pesquisa, vamos combinar que 106 economistas, gestores e analistas de fundos de investimento de São Paulo e Rio é, sim, uma amostra significativa do mercado.
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Assim como a queda de popularidade de Lula acendeu o sinal amarelo no Planalto e o governo se uniu em torno de uma “esquerdização”, ou “dilmização”, a perda de força interna e popular também sacudiu Haddad e ele voltou a arregaçar as mangas para anunciar propostas e a soltar a voz em uma entrevista atrás da outra.
O vértice desses dois movimentos é Gleisi. Ela é tanto a cara da guinada do governo à esquerda quanto fator decisivo para Haddad se animar e se expor mais, ainda que se equilibrando, como sempre, entre manifestações ortodoxas e a defesa das medidas nem tanto do gabinete presidencial.
Gleisi chegou ao Planalto determinada a esquentar a articulação política, que passou a ser não só com os líderes, mas diretamente com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, David Alcolumbre, e com escolha cautelosa das palavras. Não é “construção”, mas “consolidação” do trabalho feito. Não se fala em “maioria”, mas em “base sólida” no Congresso.
Aprovar o Orçamento de 2025, após meses, é considerado um troféu de estreia para ela, mas às custas de R$ 60 bilhões em emendas parlamentares. A Comissão Especial votou às 14h e em menos de 4 horas o plenário aprovou, antes do embarque de Lula para Japão e Vietnam, neste sábado, com Alcolumbre e Motta a bordo. O novo desafio será o IR. Se der certo, quem vai levar os louros, Haddad ou Gleisi?
O governo parece, enfim, unido e com rumo claro. Orçamento aprovado; enxertos de última hora pró-baixa renda (no auxílio gás e no Minha Casa, Minha Vida, por exemplo); isenção do IR até R$ 5.000,00, compensada com alíquotas maiores para os mais ricos. Um rumo, digamos, pró-popularidade.
E Lula mantém as viagens, não espanca mais o BC e não fala mais de “reforma ministerial”, que virou uma dança de cadeiras do PT para segurar votos da baixa renda e da classe média. Agora é convencer o “andar de cima” de que a inflação será contida, o arcabouço fiscal é para valer, os juros vão cair, o Brasil vai crescer e… Lula não é Dilma. Na Genial Quaest, só 7% acreditam nisso.
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