Garanhuns é uma cidade diferenciada, com cara de metrópole. É um amor à primeira vista, de supetão, para quem pisa no seu solo com essência de flores e sabor de chocolate quente, lembrando uma Gramado nordestina. Meu amor por ela é maternal. Vem do ventre da minha mãe, que por lá morou entre a infância e a pré-adolescência. Quando ando pelas suas ruas, como fiz nos últimos dias, sinto o perfume da minha mãe na esquina, nos parques, nas casas cobertas de pinheiros.
Como não sentir o perfume de uma mãe com nome de Margarida, uma das flores que dão mais beleza aos jardins de Garanhuns? As margaridas são flores conhecidas por sua beleza singela. Simbolizam inocência, pureza, amor e esperança. Têm caules longos, que se fecham à noite e se abrem ao sol, crescendo em campos e jardins, excelentes para decoração.
Leia maisMamãe chegou a Garanhuns como parte de uma família expulsa por uma longa seca que se abateu no Sertão de Monteiro, na Paraíba, tronco dos Martins. Meu avô Severo Martins, severo literalmente no trato, aportando por lá ganhou emprego de motorista de caminhão. Enquanto viajava, mamãe brincava com suas amigas no parque Pau Pombo, rezava na catedral de Santo Antônio e aprendia o beabá no histórico colégio Diocesano.
Só com o avançar da vida, compreendi o amor da minha mãe por Garanhus. Foi na Cidade das Flores que ela passou o melhor período da vida: a infância. A infância é o coração do tempo, onde tudo pulsa mais forte e mais leve. Um território encantado, onde tudo é descoberto. A beleza da infância é eternizada em lembranças que o coração nunca esquece, uma época em que a alegria reside nas coisas simples.
Mamãe morreu em fevereiro de 2013 aos 86 anos. Um ano antes, atendi um desejo dela: voltar a Garanhuns. Foi muito lindo e emocionante acompanhá-la pelos cantos da sua infância, ao lado do meu pai Gastão Cerquinha e dos meus irmãos Augusto e Ana Regina. Nos encantamos com a terra das paixões de minha mãe. Nos abraçamos, choramos juntos, por dentro e por fora, em frente ao Relógio das Flores, onde o riso da flor Margarida se refletia no próprio jardim.
O tempo foi magnânimo para Garanhuns. É um dos destinos turísticos mais procurados do Estado. Situada a mais de 840 metros de altitude e cercada por sete colinas, a cidade se destaca pelo clima agradável e pela paisagem verde durante todo o ano. A temperatura média gira em torno de 21 °C, podendo chegar a 14 °C nos meses mais frios
Com população estimada em mais de 140 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 2022, o município atrai visitantes ao longo de todo o ano. Em julho, recebe o Festival de Inverno, considerado o maior evento multicultural da América Latina. O FIG reúne milhares de pessoas em diversos polos culturais com atrações de música, teatro, circo, literatura e gastronomia.
Mesmo fora da temporada do festival, os atrativos turísticos da cidade permanecem abertos à visitação e são ótimas opções para quem busca lazer, cultura, espiritualidade e contato com a natureza. Cartão-postal da cidade, o Relógio das Flores foi inaugurado em 1979 na Praça Tavares Correia, no bairro Heliópolis.
Com quatro metros de diâmetro, funciona com cristal de quartzo e tem os números formados por flores naturais. É o único relógio desse tipo no Norte e Nordeste. Localizado a 1.030 metros de altitude, o mirante do Cristo do Magano oferece uma das vistas panorâmicas mais bonitas da cidade. A escultura tem quatro metros de altura e foi construída em 1954, em uma das sete colinas que dão origem à geografia montanhosa de Garanhuns.
O Parque dos Eucaliptos, por onde corro quando estou na cidade, é o maior. Oferece pista de cooper, quadras esportivas, parque infantil, pista de skate e academia ao ar livre. É um espaço arborizado, ideal para atividades ao ar livre e convivência com a família. Durante o Festival de Inverno de Garanhuns, atrai milhares de atrações turísticas e oferece diversas opções gastronômicas e culturais.
Localizado no centro da cidade, o parque é uma reserva ambiental com trilhas leves, área de piquenique e vegetação preservada. Um dos pontos favoritos para caminhadas, sessões de fotos e contato com a natureza em meio urbano. A cidade tem também outras áreas atrativas.
Inspirado na arquitetura medieval europeia, o castelo João Capão é um deles. Foi construído por um morador a partir de 1981. Com torres, pedras e uma estrutura única, é aberto ao público de terça-feira a domingo. Fica no bairro Heliópolis e chama atenção pela criatividade e originalidade.
Instalado na antiga estação ferroviária da cidade, o centro cultural, por sua vez, preserva a história ferroviária de Garanhuns e abriga o Teatro Luiz Souto Dourado. A estrutura do século XIX mantém o estilo inglês da época e recebe eventos culturais e exposições. Ponto de peregrinação religiosa, o santuário Mãe Rainha é um dos locais mais visitados por fiéis na cidade.
Localizado no bairro Massaranduba, funciona diariamente. Se mamãe estivesse viva e voltasse hoje a Garanhuns iria amar ainda mais a cidade. Iria se deparar com locais mais lindos daqueles que conheceu no seu tempo, entre eles o Vale das Colinas, onde está localizada a primeira vinícola da cidade.
Lá, num ambiente que lembra as paisagens do frio europeu, é possível degustar um bom vinho com queijos na beira de um lago para contemplar o pôr do sol. Oferece degustações, visitas guiadas, passeios técnicos e até ensaios fotográficos em meio aos vinhedos. Os rótulos são produzidos com uvas cultivadas no município.
Suíça pernambucana ou a Cidade das Flores, Garanhuns é charme, orgulho nordestino, qualidade de vida. Com suas variadas cores, fragrâncias e odores, entra na sua fase mais linda: o Natal e seus encantos. Com seu Natal Luz, virou a Gramado nordestina.
Sexta-feira passada, o prefeito Sivaldo Albino (PSB) acendeu, de forma simbólica, todas as luzes do Natal. Foi um momento único de beleza universal. Assisti. Parecia que estava diante dos castelos medievais, de tão belo o prédio que sedia a Prefeitura Municipal. Garanhuns é tudo isso e mais: é a soma de história, progresso, folclore, festas, belezas naturais, convivência harmônica de técnicas artesanais e de hospitalidade do seu povo com atrativos turísticos inigualáveis.
Garanhuns, minha mãe tinha razão: é onde a natureza se une à arte para fazer poesia.
Leia menos

















