Na volta, ontem, de Serra Talhada, onde lancei sexta-feira passada meu livro “Os Leões do Norte”, atendendo a um convite do meu curioso amigo Cid Severo, de Sertânia, dei uma passadinha no memorial da chamada “Batalha de Custódia”, que se deu no dia 14 de fevereiro de 1926, em pleno domingo de carnaval, nos arredores de Custódia, no Sertão do Moxotó.
Foi um dos maiores rastros sangrentos da Coluna Prestes em Pernambuco. Na verdade, uma armadilha arquitetada pelos insurgentes da Coluna Prestes, que resultou na morte de oito soldados, quatro policiais militares e quatro bombeiros militares. No local, entre os militares aparecem estampados no painel os nomes dos que tombaram sem vida: Isídio José de Oliveira, do 2º Batalhão, Castor Pereira da Costa, Ercias Petronilo Fonseca e Manoel Bernardino Fonseca, do Regimento da Cavalaria.
Leia maisTambém os bombeiros militares José Sebastião Bezerra, Pedro Cosme Alexandrino, Antônio Cassemiro Ferreira e Luiz José Lima Mendes. Saíram ainda feridos os soldados Amaro do Espírito Santo, Benevenuto Cardoso da Silva e Severino Lino dos Santos, do 2º Batalhão. No boletim, o comandante João Nunes enalteceu suas bravuras e sacrifícios no campo da luta em defesa da legalidade.

Os soldados mortos estão sepultados no local em cova única. O monumento, escondido por trás dos matos na estrada que liga Custódia a Serra Talhada, está quase invisível, o que é lamentável pela sua importância histórica. Foi erguido durante o comando geral do Coronel Manoel Expedito Sampaio, em 1961. Da coluna Prestes, se envolveram no embate os tenentes-coronéis Djalma Dutra e João Alberto.
Segundo levantamento histórico, os rebeldes da Coluna estavam em Custódia esperando uma ligação com o tenente Cleto Campelo, que acabou falecendo em Gravatá. Eles haviam interceptado nos fios do telégrafo uma mensagem sobre o deslocamento de Custódia para Vila Bela (Serra Talhada) de uma tropa da Força Pública de Pernambuco, de 137 homens, transportada em cinco caminhões dos efetivos dos 1º, 2º, 3º Batalhões, Regimento da Cavalaria e Companhia de Bombeiros, (Boletim Geral da Força Pública, de 12 de fevereiro de 1926), sob o comando do coronel João Nunes, comandante Geral.
No terceiro caminhão, vinham o tenente da PM José Coutinho da Costa Pereira, e no quinto o tenente da PM Olímpio Augusto de Oliveira e o capitão Luiz Sabino de Azevedo. Na retaguarda, o comandante João Nunes, em automóvel. Na localidade Umburanas, ou Pitombeiras, os rebeldes arquitetaram uma emboscada, colocando na estrada um chapéu de tipo engenheiro, de cortiça, como isca.
Por volta das 9h de 14/02/1926, (domingo de Carnaval), um soldado mandou parar o veículo para apanhá-lo. Em seguida, todo o comboio parou. O coronel João Nunes, vinha à retaguarda, em companhia do seu secretário, o tenente Sidrak de Oliveira Correia, e outros oficiais. Imediatamente, dos serrotes laterais surgiram os fogos cruzados das metralhadoras inimigas, ceifando a vida dos soldados.
Após seis horas de combate, o coronel João Nunes, ao escurecer, conseguiu romper o cerco dos rebeldes, (em número quase cinco vezes superior, e entocados) rumo à Custódia, perdendo quatro dos cinco caminhões, que foram queimados. No dia seguinte, em Custódia, a tropa reorganizou-se e partiu ao encalço da força rebelde. A munição que se achava no quinto caminhão, que regressou à Custódia com o capitão Luís Sabino de Azevedo, não foi perdida.
Conforme o Boletim Geral da Força Pública, de 12 de março daquele ano, os soldados foram sepultados no local, numa cova única, à beira da estrada, de acordo com o major da PM João Rodrigues da Silva, em artigo publicado na Revista Guararapes, em janeiro de 1950. Os mortos do Riacho do Mulungu, cenário da batalha, passaram de 40, segundo historiadores.

“Na fria placa de mármore ficou o registro da reação daqueles heróis, que precisam ser lembrados e nominados todos os anos, àquele 14 de fevereiro de 1926, pois transpuseram os umbrais da glória e precisam ser inseridos nos anais da grande história da PM e de Pernambuco”, diz um registro histórico que consultei na internet.
A Coluna Prestes começou a marchar pelo interior do Brasil em 25 de abril de 1925. Por dois anos, seus membros atravessaram mais de 25 mil quilômetros, passando pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Maranhão, Ceará, Piauí, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Minas Gerais. Por onde chegavam, eram recebidos com frieza, medo ou alegria, pois eram vistos por muitos como heróis.
Ao atravessar os locais mais distantes do Brasil, os integrantes da Coluna esperavam receber o apoio da população para as causas defendidas por eles. Porém, isso não aconteceu. Os mais de dois anos de marcha fizeram com que seus membros abandonassem a Coluna, alegando desgastes e por causa do fim do governo Artur Bernardes.
Em fevereiro de 1927, os integrantes depuseram suas armas e partiram para o exílio, na Bolívia. Luís Carlos Prestes reforçou sua liderança nacional e, logo após o fim da Coluna, foi chamado de “cavaleiro da esperança”. Em seu exílio, ele teve contato com o pensamento comunista e, ao voltar para o Brasil em 1930, se tornaria o principal nome do comunismo em solo brasileiro.
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