Por Pablo Diego Veras Medeiros*
Alguns dos perfis que têm crescido bastante na Internet têm como conteúdo entrevistar profissionais de sucesso com a seguinte pergunta: “Como você fez para chegar até o lugar que está hoje?”. O mote principal é incentivar quem está começando, através do seu exemplo. Como primeiro advogado do meu núcleo familiar, filho do meio de cinco filhos, muitas vezes me perguntei como os grandes advogados e advogadas se tornaram referências.
A verdade é que os mais antigos pavimentaram suas histórias em um cenário muito diferente do atual, que, com a tecnologia e as redes sociais, exige do novo profissional cada vez mais.
Se antes era fácil passar no Exame de Ordem ou nos concursos públicos, hoje a hiperconectividade e o ambiente competitivo mudaram tudo. É por isso que a Ordem dos Advogados, em sua atual gestão, tem chegado tão perto de quem mais precisa: quem está começando.
Um ex-presidente da OAB-PE publicou um texto que expressa bem a arrogância de quem nunca precisou de ajuda na carreira. O ponto central do texto — convido todos a lerem — é: a gestão atual se tornou, nas suas palavras, “muito assistencial”.
Leia maisOs comentários criticam a OAB de Pernambuco, destacando que há “muito assistencialismo”. Noutras palavras, demonstram raiva de quem ousou quebrar as correntes do próprio destino para fazer dar certo na advocacia de maneira ética, mesmo sem ter herdado uma carteira de clientes, como parecem os comentaristas.
Criticam, portanto, a atual gestão por trazer muitos serviços aos novos advogados, como capacitação contínua através de cursos e pós-graduações, programas de descontos no primeiro token, descontos na anuidade e espaços de coworking, do cais ao Sertão. Vale dizer que tal figura registra que mudou de lado por não se encaixar mais no grupo que ele teria construído há quase duas décadas e defende a renovação.
Pergunto: renovação para quem? Para um grupo que não sente as dores de quem está começando? Para um grupo que não quer largar as cadeiras que ocupou há quase duas décadas e não quer deixar jovens advogados ascenderem profissionalmente? Para um grupo que diz renovar, mas que nunca elegeu nenhuma mulher?
As fotos na galeria de ex-presidentes fazem a OAB de Pernambuco parecer um clube de homens, que poderiam ser da mesma família. Então, somente hoje, com os auspícios de a OAB -PE ser ocupada pela primeira vez por uma mulher que começou sua carreira do zero, atendendo em coworking, ladeada por outra, ambas professoras e advogadas, o ex-presidente achou que aquele ali não mais era o seu lugar. Faz todo sentido. Provavelmente não é mesmo.
Os cansados caciques, com textos e referências arrogantes à nobreza, não querem levantar para abrir espaço para uma gestão verdadeiramente renovadora, conduzida por uma advogada e professora que se importa com a advocacia, com o exercício profissional, com a capacitação contínua, e que sempre atendeu a todos — inclusive a este advogado e professor, que começou sua carreira atendendo em cafés e que, graças à gestão atual, as novas gerações não mais precisam passar por esse duro começo sozinhas.
A luta do momento é garantir que a OAB-PE continue a avançar, garantindo o exercício profissional, as prerrogativas da advocacia e abrindo portas para quem está começando, portas essas que antes eram abertas apenas para alguns. Isso, em resumo, é o que incomoda a dita renovação, composta, na verdade, por antigos chacais, feras feridas com uma embalagem (essa sim) renovada.
*Advogado, professor, doutorando e mestre em Direito.
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