Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – O tema da anistia está em pauta. Dizer que a anistia de Juscelino Kubitscheck aos autores da intentona (intento do mal) do Aragarças, de 1959, criou raízes para a eclosão do contragolpe de 1964, isto constitui uma falsidade ideológica. Os tenentes revoltosos eram golpistas armados de fuzis e metralhadoras, mobilizados no objetivo de destituir o presidente Juscelino Kubitscheck do governo e instalar uma ditadura militar no País.
Os revoltosos foram sufocados pelas forças governistas por falta de apoio popular e do partido UDN. Os líderes foram para o exílio em países vizinhos. JK era uma alma gentil e generosa. Reinou a “pax verde-amarela”.
Leia maisEsta nação auriverde se reinventa a cada temporada. Houve tempos em que o batom na cueca samba-canção era a prova de delito. Agora foi liberado transportar moedas nas cuecas vermelhas, feito carros-fortes. Crime abominável é pichar estátua da liberdade. O Brazil sorria nos tempos de JK. Hoje geme com dores na garganta.
Os senhores das guerras dizem que a estátua da liberdade democrática foi ultrajada e querem vingança. O Cristo Redentor clama contra as injustiças na hora do Angelus, “hora dos fidalgos e dos plebeus e dos filhos de Deus de ambos os hemisférios”.
Pacificar ou não pacificar a Nação é o X do problema, o antigo Twitter do problema. Pacificar com a remissão dos pecados ou pacificar com a ira profana do Antigo Testamento? Prendam os suspeitos de sempre, dizia o inspetor de Marrocos, em tempos de guerra, no filme Casablanca. Marrocos é aqui, o inspetor são os senhores da guerra, todos são suspeitos de profanar estátuas de carne e osso.
Síntese do artigo do papaizinho publicado em 15 de março de 1987, data da posse de Miguel Arraes no Palácio do Campo das Princesas das Princesas, no Diário de Pernambuco. Mantenho minhas opiniões, remasterizadas, sobre a anistia ampla, geral e irrestrita preconizada na época.
“Final de 1978 o general João Baptista Figueiredo era conduzido à Presidência da República pela vontade imperial do general Ernesto Geisel. Tempos de anistia. Antes de tomar posse, o homem que gostava de cheiro de cavalo e aprendeu com as fichas do SNI a detestar os carbonários.
De 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1987, o governador Miguel Arraes dirá que parece ter sido de anteontem para hoje. A brisa de abertura começou a soprar com a anistia em 1979. Em 15 de janeiro de 85 não houve tropas, mas os brasileiros ficaram de vigília no Colégio Eleitoral (o jeitinho) para sepultar melancolicamente o regime implantado em 1º de abril de 64. Logo num 1º de abril, essa “revolução” não tinha que dar certo.
Os pernambucanos lembram como se fosse anteontem e ainda ressoa diante das palmeiras imperiais e do baobá da Praça da República: “…. os senhores, com essas armas, têm condições para me prender, mas não para me depor”. Ele está de volta pela porta que saiu”.
*Periodista, escritor e quase poeta
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