Por Ângelo Castelo Branco*
Nas últimas 24 horas, o Brasil foi palco de uma grande controvérsia envolvendo o Pix, sistema de pagamentos que se tornou essencial para milhões de brasileiros. O anúncio inicial de que o governo poderia taxar as operações gerou uma onda de críticas e incertezas, principalmente em razão da postura contraditória do Executivo. Após forte repercussão, o governo voltou atrás, afirmando que não haverá taxação. Contudo, a população parece ter recebido a nova declaração com ceticismo.
A situação evidencia um problema mais profundo: a falta de credibilidade de um governo que, ao prometer transparência, recorre a decretos de sigilo em momentos cruciais. No debate com o seu adversário Jair Bolsonaro, na campanha eleitoral, Lula criticou os sigilos, prometeu fazer um governo transparente e, no entanto, decreta mais sigilos do que o antecessor. Esse comportamento alimenta a desconfiança generalizada nas suas narrativas. A narrativa de que o Pix pode ser monitorado pela Receita Federal para fins tributários amplia o medo de um controle excessivo sobre as finanças individuais e reforça a percepção de que o governo possui agendas ocultas.
Outro fator que agrava a crise é a viralização de vídeos críticos ao governo, como o de Nikolas Ferreira, que já alcançou mais de 100 milhões de visualizações. Esse alcance demonstra a insatisfação generalizada com a gestão, atravessando até mesmo os limites das bases eleitorais do Partido dos Trabalhadores. Muitos eleitores que confiaram no projeto petista em 2022 agora se sentem decepcionados, especialmente diante de medidas que parecem contradizer promessas de campanha.
Leia maisA crise do PIX não é um caso isolado, mas um reflexo de um ambiente político marcado por incertezas. O temor de que o governo utilize o sistema de pagamento como ferramenta de arrecadação fiscal, ainda que negado oficialmente, persiste. A desconfiança vem da percepção de que as declarações governamentais são temporárias e podem ser revertidas em um contexto de necessidade fiscal.
Para muitos, a sensação é de que as medidas de recuo são apenas estratégias momentâneas para conter o desgaste político. Mesmo que o governo assegure a ausência de impostos sobre o Pix, a população teme que o monitoramento e a fiscalização possam resultar em cobranças futuras. Isso gera um ciclo vicioso de desconfiança, no qual qualquer medida anunciada é imediatamente contestada, não pela sua essência, mas pela falta de confiança na intenção por trás dela.
A crise atual expõe fragilidades em duas frentes: a comunicação governamental e a relação com a sociedade. Para recuperar credibilidade, o governo precisará mais do que declarações públicas. É necessário um compromisso prático com a transparência, acompanhado de ações concretas que demonstrem respeito às expectativas e às preocupações da população. Do contrário, o Pix e continuará sendo um símbolo de desconfiança e de insatisfação generalizada.
Jornalista*
Leia menos



















