Como dizia minha avó: “Casa que falta pão, todo mundo chora e todo mundo tem razão”. Em muitas dessas guerras, não falta pão, mas falta empatia com o semelhante. Não quero discutir o mérito das questões, pois no fim, cada lado tem suas razões. Alguns, inclusive, chegam a fazer guerras em nome de Deus.
Infelizmente, as guerras foram uma invenção da espécie humana que castiga de maneira impiedosa a humanidade e, de modo especial, as crianças. “Homens que se conhecem e se odeiam, sentados em gabinetes rodeados de luxo, colocam nas frentes de batalha homens e mulheres que não se conhecem e não se odeiam para se matarem”.
Crianças inocentes e indefesas são vítimas de bombas, da fome, ou perdem pai e muitas vezes mãe como consequência cruel das guerras. Custos estratosféricos são empregados nas guerras; a cada dia, os orçamentos militares nos países, especialmente nos mais ricos, são ampliados.
Por outro lado, a cada dia observamos o fenômeno de concentração de renda e ampliação da desigualdade que, em nações mais pobres, chega a níveis inaceitáveis. Mais uma vez, quem mais sofre? As crianças.
É curioso que, ao nascerem, seja no Ocidente ou Oriente, Norte ou Sul, as crianças nascem livres. Não nascem comunistas nem capitalistas, não são de direita nem de esquerda, não professam nenhuma religião; são apenas crianças puras e inocentes. Infelizmente, o nascimento é sua sentença de vida ou morte, de progresso ou miséria.
Se não, vejamos: nos países mais ricos, a mortalidade infantil (morte no primeiro ano de vida) atinge taxas de 6 por mil nascidos vivos. Já nos países em desenvolvimento, chega a 88 por mil nascidos vivos, podendo atingir a incrível taxa de 120 por mil nascidos vivos nas nações mais pobres.
Toda essa dinheirama usada nas guerras bem que poderia ter outro destino. Em vez das invasões por tanques, drones e mísseis, poderia invadir nações miseráveis com investimentos em nossas crianças, não só com comida e saúde básica, mas também com apoio educacional, no que já sabemos ser o período mais importante e crítico para se investir nas pessoas.
Todo dinheiro que tanto mata nas guerras poderia, sim, ser usado para salvar.
*Médico e ex-prefeito de Petrolina
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