Do blog do Roberto Almeida
Rotulados como bregas nos anos 70, cantores populares e românticos hoje podem ser considerados chiques ou cults. No Instagram e Facebook, redes sociais de muita força na atualidade, isso pode ser constatado facilmente.
Eu mesmo fui surpreendido, hoje, ao postar um vídeo do cantor José Ribeiro, já com a idade avançada, cantando o maior sucesso de sua carreira, “Beleza da Rosa”. Foram centenas de visualizações e compartilhamentos.
Leia maisObservei que muitos jovens elogiaram a canção, alguns revelando ter aprendido a gostar da música com o pai, a mãe, um tio ou o avô.
Quando Zé Ribeiro explodiu com esta música, em 1972 (vendeu 800 mil cópias do disco), era chamado de cafona. Depois é que a palavra brega passaria a ser usada em relação aos cantores do povão.
Coube ao jornalista, pesquisador e escritor Paulo César Araújo denunciar o preconceito da intelectualidade contra os cantores de origem pobre, que faziam música para empregadas domésticas, motoristas de caminhão, trabalhadores do comércio, pedreiros, taxistas, etc.
No livro de Paulo César, intitulado “Eu Não Sou Cachorro Não” – nos dias de hoje vendido por quase 200 reais – há a valorização de nomes como Waldick Soriano, Odair José, Paulo Sérgio, Agnaldo Timóteo e Nelson Ned, esnobados pelas elites.
Por sinal, sobre Nelson Ned, que era anão, existe um fato curioso.
O escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez uma vez esteve no Brasil e revelou ser fã do “pequeno gigante”.
Chico Buarque, cantor e compositor intelectualizado, estranhou, mas o próprio Garcia Márquez, que era amigo do autor de A Banda, confirmou.
Ainda na década de 70, auge da carreira de Odair José, Caetano Veloso se apresentou junto com o “brega” cantando “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”.
Em anos recentes, o mesmo Odair foi reverenciado por ninguém mais ninguém menos que Zeca Baleiro, respeitado nome da MPB. O maranhense dedicou uma música ao goiano, chamando-o de poeta.
E também fez shows junto com o compositor de “Revista Proibida”, “Pare de Tomar a Pílula” e outras canções conhecidas e tidas como brega.
Já Waldick, que deu nome ao livro de Paulo César (“Eu Não Sou Cachorro Não” foi um dos seus grandes sucessos), no final da vida recebeu uma grande homenagem da atriz Patrícia Pillar.
A artista realizou um documentário belíssimo sobre o cantor, que fez muita gente reavaliar suas opiniões a respeito do compositor de origem humilde, nascido no interior da Bahia.
O fato é que todos esses artistas – Odair, Waldick, Agnaldo, Paulo Sérgio, Nelson Ned, José Ribeiro, Reginaldo Rossi, Evaldo Braga (que morreu muito jovem) – sempre representaram um público específico.
Pessoas simples, sem formação universitária, como eles, não se identificam com Chico Buarque, Ivan Lins, Milton Nascimento ou João Bosco.
Preferem as músicas do Reginaldo Rei ou de Zé Ribeiro.
Esses dois últimos já morreram, mas a voz deles ecoa forte, ainda hoje, no YouTube, Instagram e Facebook.
Salve os cantores populares! Eles estão eternizados nos livros, nos filmes e também nas mídias digitais.
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