Por Priscila Lapa*
Comemorado no último sete de abril, o Dia do Jornalista ganha um sentido diferenciado quando o inserimos no contexto atual, permeado por debates acerca do futuro das profissões (e das profissões do futuro), bem como sobre a liberdade de expressão e de imprensa como um dos pilares da democracia.
Sobre o jornalismo como profissão, há uma percepção bastante arraigada em todo o país de que se vive uma crise sem precedentes. Notícias de demissões em massa nas grandes redações não são exatamente um fenômeno novo, mas com a frequência e abrangência dos dias atuais é algo que chama a atenção da sociedade. A onda de demissões na TV Globo, gigante do mercado, deixou ainda mais ressabiados aqueles que exercem o jornalismo em veículos, nas mais variadas funções. É como se um universo de possibilidades de atuação profissional fosse sendo reduzido dia após dia, sem que as empresas consigam dar conta de adaptar seus modelos de negócio aos desafios do mercado, impactado pela tecnologia e pelas novas possibilidades de comunicação midiatizada.
Leia maisA ideia de que o jornalismo sobrevive com novo significado, na era da hiperinformação, como um filtro que segrega as informações verídicas daquilo que é falso, parece não estar sendo capaz de dar longevidade a uma profissão tão consagrada pelas universidades e escolas de comunicação espalhadas pelo Brasil. Sim, porque para além das redações e das assessorias de comunicação, o jornalismo é um campo vasto de pesquisas, com densidade teórico-metodológica, capaz de entregar à sociedade reflexões pertinentes e essenciais ao nosso modo de ser e de comportar enquanto animais sociais.
É nesse bojo reflexivo que se insere o debate sobre o papel do jornalismo na democracia. Nos atuais paradigmas ideológicos, há um conflito de visões: por um lado, alguns defendem a sua importância na atuação como fiscal dos cidadãos, apurando e denunciado os desvios, no exercício do poder político, dos princípios republicanos e democráticos; por outro, há os que enxerguem apenas os excessos e enviesamentos, de modo a tomar a parte pelo todo e propor que o jornalismo seja alvo de limites, punições e, até mesmo, de censuras.
Conflitam as visões, mas, no extremo, o pano de fundo é o mesmo: o jornalismo não seria mais necessário ou essencial em uma sociedade em que as pessoas têm seus próprios espaços para manifestação das suas ideias e consomem estritamente aquilo que lhes convém. Nesse universo, os sagrados princípios da credibilidade, da checagem adequada, do espaço para o contraditório, parecem não mais se encaixar.
Quando estamos falando da vida em sociedade, da construção do tecido social, é preciso que se tenham referências para nortear a conduta dos indivíduos no espaço coletivo, sejam eles atores políticos ou não. É preciso considerar a desigualdade de oportunidades, inclusive de acesso aos espaços de fala. Nesse sentido, o jornalismo nunca foi tão importante. Numa era em que muito se fala mas, muitas vezes, pouco se diz, o jornalismo permanece vivo em sua capacidade de transmitir e ressignificar, de combater e recolocar as questões sociais sob novos ângulos. Fragilizado, porém ainda essencial.
Talvez a adoção de novos formatos de atuação seja a garantia de longevidade. Espera-se que não às custas de profissionais desmotivados, no limite da exaustão, e sem qualquer garantia para o exercício da sua profissão. Que seja uma reinvenção a partir do que se tem de melhor, naquilo que de fato faz do jornalismo uma paixão para muitos e garantia democrática para todos.
*Jornalista e cientista política
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