Capítulo 36
Longevo na vida pública, exercendo cargos por mais de meio século, Marco Maciel pode ser considerado, literalmente, uma cria política do ex-governador Paulo Guerra (PSD), sucessor de Miguel Arraes, deposto pelo golpe militar de 64. Em 1962, já vindo de uma experiência na política como deputado estadual, Guerra se aliou a Miguel Arraes de Alencar, sendo eleito seu vice-governador.
A coligação que os apoiou era formada por dois pequenos partidos, o Social Trabalhista e o Trabalhista Brasileiro, disputando o cargo contra João Cleofas de Oliveira, da União Democrática Nacional, e Armando Monteiro Filho, do Partido Social Democrático. Governador no lugar de Arraes, Paulo Guerra convidou Marco Maciel para exercer o cargo de secretário-assistente, mas devido a pouca idade, não assumiu, se convertendo em assessor.
Leia maisEm 1966, com apenas 26 anos, Maciel foi eleito deputado estadual pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). Preparado política e intelectualmente — era diferenciado desde o início —, assumiu a liderança do Governo Nilo Coelho, governador biônico, nomeado em 1967 pelo ex-presidente Castelo Branco. Até 1971, tempo que durou sua gestão, Nilo contou com o discernimento e a habilidade política de Maciel para aprovar vários projetos na Assembleia.
Daí o gesto de ter apoiado Marco Maciel na sua primeira tentativa de chegar ao Congresso Nacional como deputado federal, em 1970 e, quatro anos depois, em 1974. Nessa época, Osvaldo Coelho, irmão de Nilo, encerrava seu primeiro mandato de deputado federal, estava na Secretaria da Fazenda e não renunciou para tentar um novo mandato, apoiando, a pedido de Nilo, Maciel para federal. Osvaldo só veio a disputar um novo mandato de federal em 78, quando Maciel virou governador biônico.
Já em 1974. observado com atenção pelas forças progressistas dos militares — como o então presidente Ernesto Geisel e o general Golbery do Couto e Silva, principais formuladores do processo de abertura política, Marco Maciel chegou a ser cotado para assumir o Governo de Pernambuco, em 1975, mas os militares optaram por Moura Cavalcanti, tio do também ex-governador Joaquim Francisco de Moura Cavalcanti.
Numa prova de que havia se tornado o darling dos militares aberturistas, Marco Maciel, entretanto, deu um grande passo para consolidar sua carreira política em ascensão, sendo eleito presidente da Câmara dos Deputados para o biênio 1977-1978. Nem bem esquentou a cadeira, o presidente Ernesto Geisel, embora fosse moderado, decidiu fechar o Congresso Nacional, sob o pretexto de implementar a reforma no Poder Judiciário.
Fechado por 14 dias, Marco Maciel assistiu a decretação do pacote de abril, um conjunto de medidas destinadas a garantir a hegemonia da Arena no cenário político nacional. Nas eleições legislativas de 1974 e municipais de 1976, ao contrário do que previra o Governo Federal, o emedebismo havia se fortalecido de maneira extraordinária — o que deixou a ditadura de quepe em pé.
Marco Maciel defendia, por dever de ofício, o governo militar e a Arena, mas apostava no diálogo com a oposição e na estabilização institucional. Era, a rigor, mais um liberal convicto do que um apóstolo visceral da ditadura. Entretanto, dada sua proverbial lealdade, não conspirava contra os militares e seus aliados civis. Seu jogo era sempre limpo. Em 1978, sinalizando que havia se tornado integralmente um homem do establishment, tornou-se governador de Pernambuco.
Seu nome foi aprovado pela Assembleia Legislativa por indicação do presidente Ernesto Geisel. Apesar de pertencer à ditadura, Marco Maciel buscou fazer um governo arejado, sem perseguições políticas. Seu objetivo, no Executivo, era fazer uma gestão modernizadora, para desenvolver Pernambuco de maneira integral. Osvaldo Coelho, já eleito deputado federal, e com a imagem de bom gestor de finanças como secretário da Fazenda de Nilo, tinha um sonho.
Segundo relatam integrantes da família e observadores políticos, com Maciel governador e o poder da caneta, consequentemente, Osvaldo esperava ser nomeado por ele, também de forma biônica, prefeito do Recife. Era um gesto do governador em retribuição ao apoio do clã Coelho quando disputou a eleição de deputado federal, por duas vezes, em Petrolina e região do São Francisco.
Maciel, entretanto, frustrou os Coelho. Em 15 de março de 79, nomeou prefeito do Recife o advogado Gustavo Krause, que ficou no cargo até 1982, sendo sucedido por Jorge Cavalcanti, ex-secretário de Planejamento do governo Marco Maciel. Em 82, Krause cumpriu a missão, delegada por Maciel, de fechar a chapa de Roberto Magalhães como candidato a vice, no pleito histórico no qual o ex-senador Marcos Freire, considerado favorito, foi derrotado, graças ao casuísmo do chamado voto vinculado, que teria inspiração macielista.
Na Prefeitura, Krause realizou muitas obras estruturadoras, principalmente nas áreas de periferias, como escadarias e muros de arrimos. Mas a maior marca da sua gestão como prefeito foi fixação dos chamados “barracões” da Prefeitura, nas áreas pobres do município, que eram centros de atendimentos na área social, dotados de médicos, engenheiros e vários servidores que atendiam a comunidade.
Não vendo Osvaldo orgulhando o São Francisco como prefeito do Recife, o clã Coelho ganhou asas para voar mais alto na política pelas mãos de Nilo Coelho. Filho do coronel Clementino de Souza Coelho e de Josefa Coelho, Nilo estudou o secundário no Colégio da Bahia e ingressou no superior na Faculdade de Medicina de Salvador. Em 1947, foi eleito deputado estadual pelo PSD e em 1950 chegou ao Congresso eleito deputado federal.
Secretário da Fazenda no Governo de Etelvino Lins, de 1952 a 1954, Nilo acabou sendo escolhido governador biônico de Pernambuco pelo presidente Castelo Branco. Sua gestão foi de 1967 a 1971. Em 1978, foi eleito senador pela Arena 1, com a ajuda dos votos do candidato Cid Sampaio, da Arena 2. O cálculo dos votos era feito através da soma das sublegendas e deu a vitória a Nilo, mesmo este tendo menos votos que o candidato da oposição, Jarbas Vasconcelos (MDB).
Mais tarde, em 1983, chegou à Presidência do Senado, falecendo no exercício da função em 9 de novembro de 1983, assumindo em seu lugar o senador Moacir Dalla, em 11 de novembro de 1983. Morreu poucos dias após reagir às pressões do seu partido, o PDS, o qual presidia, para atender interesses do Governo no Congresso com os quais não concordava, deixando a célebre frase em seu discurso: “Não sou presidente do Congresso do PDS; sou presidente do Congresso do Brasil”.
Veja amanhã
A visão da esquerda sobre a reação de Marco Maciel diante do fechamento do Congresso quando presidia a Câmara dos Deputados
Leia menos