Raquel governou sem lotear
Quando Raquel Lyra (PSDB) foi eleita prefeita de Caruaru, em 2016, numa disputa de segundo turno contra Tony Gel, então no MDB, contando com o apoio decisivo do então prefeito José Queiroz (PDT), montou todo secretariado e o segundo escalão sem fazer um único gesto com quem lhe estendeu a mão na seara política.
Adversário histórico, José Queiroz apostou na candidatura do então vice Jorge Gomes, que não chegou ao segundo turno. O adversário de Raquel foi Tony Gel. Por Wolney, seu filho deputado federal, Queiroz teria apoiado Gel, mas, na época, o então prefeito desconfiava que o candidato do MDB, também adversário histórico, não fosse capaz de cumprir acordos.
Leia maisApoiou Raquel que, eleita, não nomeou sequer um oficial de gabinete do grupo de Queiroz. A tucana não prestigiou, aliás, nenhum político. Escalou uma equipe técnica, boa parte exportada do Recife, como os titulares de Educação, Saúde, Administração, Desenvolvimento Social e Ordem Pública, além da Destra, órgão importante do segundo escalão, e a Controladoria Geral.
Na reeleição, em 2020, saiu em voo solo, sem depender de amarras políticas e repetiu o Secretariado no mesmo modelo, ou seja, fechando as portas para políticos. Nem na primeira gestão nem tampouco na segunda, Raquel nomeou um só político ou distribuiu cargos com partidos da sua base.
Esse é o estilo dela, a forma que optou para governar. Deu certo em Caruaru? Politicamente, não. Nas duas gestões, a relação com a Câmara de Vereadores foi complicadíssima, a ponto de sofrer derrotas em plenário quando esteve em pauta a discussão e votação de matérias da maior relevância para o seu governo, como os dois empréstimos externos, responsáveis pelo endividamento do município.
Se ela repetir esse modelo no Governo de Pernambuco, quando tomar posse em 1º de janeiro próximo, os partidos e líderes aliados que estiveram no seu palanque no segundo turno que comecem, desde já, a tirar o cavalinho da chuva, porque não é do feitio da tucana ratear o poder ou compartilhar o governo, a não ser com pessoas da sua mais absoluta confiança.
O peso de Queiroz – No primeiro turno da eleição de Caruaru, em 2016, Tony Gel, do PMDB, teve 37,10%, o equivalente a 63.697 votos. Raquel Lyra, do PSDB, obteve 26,08%, cerca de 44.776 votos. Ao longo de toda a campanha, Tony era o favorito e foi o mais votado. No segundo turno, entretanto, com o apoio de José Queiroz, que estava com a máquina da Prefeitura nas mãos, Raquel reverteu. Obteve 93.803 votos, o que representou 53,15% dos votos, enquanto Tony teve 82.679 votos, 46,85% dos votos válidos. Traduzindo, quem elegeu Raquel foi Zé Queiroz.
O desabafo de Queiroz – Depois de ser abandonado por Raquel, o ex-prefeito José Queiroz administrou um silêncio por quase dois anos. Só veio a se manifestar numa entrevista à Rádio Liberdade, de propriedade da família de Tony Gel, em 11 de outubro de 2018, quando afirmou: “Raquel usa a política da mesquinharia e da vingança, além de ser uma prefeita fraquinha, fraquinha”. Lembrou que deixou R$ 160 milhões em caixa e que a prefeita não soube administrar. Afirmou ainda que Raquel o traiu “miseravelmente” e que se tivesse apoiado Tony Gel, em 2016, ela não teria sido eleita.
Estados já têm equipes – No Piauí, o governador eleito Rafael Fonteles (PT) já confirmou todo o primeiro escalão do seu governo. Em São Paulo, o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) começou a anunciar os secretários da Casa Civil, Saúde, Governo, Educação e Infraestrutura. Lá, ele fez política. Nomeou para a pasta de Governo o ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD.
Bahia anuncia dia 15 – Já na Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) já definiu a data do anúncio do secretariado: 15 de dezembro, mesma data também prometida pelo governador eleito do Ceará, Elmano Freitas (PT). Em Santa Catarina, o governador eleito Jorginho Mello (PL) anunciou que pretende revelar os nomes da sua equipe a partir do início de dezembro.
Pontes do Capibaribe? – No caso de Pernambuco, Raquel Lyra só tem falado, pelo menos até ontem, em “construir pontes”, mas não indicou um só nome político para compor o seu Secretariado, nem tampouco falou em data para o anúncio oficial. Quanto a essas pontes, ninguém está entendendo patavinas, porque não houve sinalização delas na montagem da equipe de transição, que se resumiu a oito nomes, todos de Caruaru, com exceção de Priscila Krause e seu assessor de Imprensa, Manoel Medeiros. Será que ela está se referindo a um projeto de erguer mais uma ponte sobre o Rio Capibaribe, o Cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto?
CURTAS
E O DE PERNAMBUCO? – De Oxford, na Inglaterra, a governadora eleita anunciou, ontem, que pretende copiar o modelo de educação do Estado do Ceará, no momento em que Pernambuco, ao lado de São Paulo, apresentou a melhor média do ensino médio em escolas públicas da rede estadual. Enquanto a média nacional foi de 3,7, os dois estados alcançaram uma nota de 3,9 pontos no último Ideb.
METAS – Ao unir os resultados das escolas públicas e particulares, Pernambuco alcançou um total de 4,0 pontos, ficando logo atrás de São Paulo, com 4,2. No entanto, neste recorte da pesquisa, apenas Pernambuco e Amazonas, que receberam nota de 3,7, bateram as metas regionais estabelecidas pelo MEC, de 3,9 e 3,3, respectivamente.
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