Minha relação com o Governo Raquel Lyra (PSDB), objeto de questionamentos de leitores vez por outra, não é diferente de nenhum outro que a antecedeu. Com Paulo Câmara (PSB), seu antecessor, as dificuldades foram de igual intensidade. Sequer me dava entrevistas. Já Eduardo Campos (PSB), um dos mais explosivos na relação, chegou a ficar sem falar comigo por mais de dois anos, mas antes de perder a vida numa fatalidade reatou um convívio civilizado.
Foi dele que ganhei o apelido de “Maligno”. Jarbas Vasconcelos, que antecedeu Eduardo, na sua primeira gestão perdeu a estribeira, chegando a fazer uma carta de próprio punho cortando completamente qualquer possibilidade de um convívio harmonioso. Miguel Arraes era de altos e baixos. Como contei numa postagem por ocasião do aniversário do habilidoso Adilson Gomes, já me expulsou de um evento.
Leia maisJoaquim Francisco, a quem assessorei num primeiro momento na sua campanha ao Governo do Estado, em 1990, vindo a ser por um ano seu secretário de Imprensa, brigou comigo e orientou todo o Secretariado a não me passar informações. Seu antecessor Carlos Wilson, que governou o Estado por 11 meses, também teve um forte atrito comigo não apenas no seu Governo, mas na CPI dos Precatórios.
Políticos no Brasil em geral, especialmente quando chegam ao poder, têm enormes dificuldades de conviver com a crítica. Só querem elogios. Uma curta nota na coluna é suficiente para mudar o humor deles. Nunca fiz jornalismo adocicado. Tenho meu estilo próprio. Sempre foi assim e será para o resto da minha vida.
Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade, aprendi com Cláudio Abramo, um dos mais influentes jornalistas e grande referencial nos bancos universitários, que se orgulhava de duas coisas: ser autodidata e ter sido testamenteiro de Oswald de Andrade, de quem foi amigo. É dele também a frase: “O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”.
Mas não é só político que não sabe conviver com a crítica. Ayrton Senna no auge da sua carreira perdeu o humor e declarou: “Se depender de mim, vocês, jornalistas, irão esgotar os adjetivos do dicionário”. Chamo jornalismo a tudo que transforma, que revoluciona. O jornalismo é a grande trincheira da sociedade. Sem ele, não há revolução.
Com Eduardo Campos, tive um solavanco histórico, revelado no meu livro “Histórias de repórter”. Começou em Petrolina, na área externa das instalações na TV Grande Rio, e acabou em Araripina, já tarde da noite, no circuito “Governo nos municípios”. A briga me custou caro. Não é fácil brigar com o poder, nem muito menos com os poderosos. Nunca conheci um governante que soube usar com tamanha intensidade as suas prerrogativas.
Quando deixei a Secretaria de Imprensa do Governo Joaquim Francisco, a quem servi apenas no primeiro ano, em 1991, meu amigo Antônio Camelo, de saudosa memória, me recebeu de braços abertos de volta ao Diário de Pernambuco. Passei a assinar uma coluna e fazer entrevistas. José Jorge, ministro aposentado do Tribunal de Contas da União, perdeu o cargo de secretário de Educação no Governo de Joaquim, simplesmente porque me deu uma entrevista exclusiva.
Ao invés de chamar Jorge e a ele explicar as razões, Joaquim mandou o então secretário Luiz Alberto ligar para ele dizendo que estava precisando do cargo. Inacreditável? José Jorge está aí, vivinho da silva, para confirmar!
Na eleição histórica de 1986, a volta de Miguel Arraes ao poder, campanha com o mote “Ele vai voltar pela porta que saiu”, o velho cacique foi eleito e puxou os dois senadores — Mansueto de Lavor e Antônio Farias. Com menos de um ano de mandato, Farias sofreu um infarto fulminante, assumindo o primeiro-suplente Ney Maranhão, que havia sido indicado para a chapa por Jarbas Vasconcelos, a quem era extremamente ligado.
Lúcio Costa era editor-geral do Diário de Pernambuco e me escalou para cobrir a chegada de Ney ao Senado, a quem não conhecia. Informou apenas tratar-se de uma figura engraçada. Produzi uma página inteira no velho DP que deixou o senador boiadeiro, como assim se referia a ele o então colunista José Adalberto Ribeiro, lelé da cuca.
No dia seguinte, fui fazer uma entrevista com ele sobre seu primeiro dia de senador e levei a pior. Trancou-me no seu gabinete, desligou o ar-condicionado e revelou toda a sua faceta violenta, passando um revólver na minha venta. Mais tarde, o episódio foi superado, Ney virou uma das melhores fontes como líder da tropa de choque do então presidente Fernando Collor.
Já José Mendonça Bezerra, pai do deputado federal Mendonça Filho, foi um dos políticos mais habilidosos que convivi, desde que não pisasse no seu calcanhar. Perdi as contas de quantas vezes fui agredido por ele. Corria o mês carnavalesco de fevereiro de um ano que não lembro mais, recebi um grosso telefonema dele dizendo que não ia naquele dia a uma famosa prévia extremamente concorrida, onde se divertiam políticos e jornalistas, para não me esbofetear.
A razão? Uma notinha sobre o filho — nem lembro o assunto — que o havia tirado do sério. Mas diferente da maior parte dos políticos que perdem a cabeça, Mendonção se arrependia, pedia perdão e fazia juras de amor. Era bonachão e divertido. Só não aceitava bombardeios em direção ao amado Mendonça Filho, seu herdeiro na vida pública.
Já na Câmara dos Deputados, que cubro desde que me entendo por gente, o então deputado José Carlos Vasconcelos, cunhado do ex-senador Marcos Freire, me insultou no restaurante do décimo andar também por causa de uma nota na coluna. Não chegamos às vias de fato graças a coleguinhas que presenciaram a cena.
O ex-deputado Nilson Gibson, por sua vez, muito amigo de Arraes, me ligou para dizer que não aparecesse na Câmara dos Deputados num determinado dia, bufando de raiva por causa de uma matéria minha no DP, porque também iria me bater.
Baixinho e adepto desse tipo de comportamento, Gibson levou um murro de Ricardo Fiúza no plenário da Casa, mas por outro motivo.
Por fim, o deputado Inocêncio Oliveira, quando ainda não era famoso, integrante do baixo clero na Câmara, me convidou para editar o jornal dele em Serra Talhada. Não gostou das mudanças na linha editorial, me chamou de comunista e ainda me expulsou aos gritos da sua fazenda no dia do nosso acerto de contas.
Com o tempo, virou uma boa fonte e até me levou para almoçar no Palácio do Planalto quando presidente da República interino.
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