A Associação dos Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco (ADEPPE) divulgou um manifesto contundente alertando para o agravamento da crise de segurança pública no Estado. No documento, a entidade afirma que Pernambuco vive um cenário de expansão acelerada das organizações criminosas ao mesmo tempo em que a Polícia Civil opera em situação de colapso estrutural, sem efetivo, tecnologia ou condições adequadas para enfrentar o fenômeno.
Segundo a ADEPPE, a Polícia Judiciária pernambucana trabalha hoje com apenas 44% do seu quadro, número considerado crítico para o enfrentamento das facções. A recente contratação de 423 policiais, destaca o texto, representa um reforço insuficiente, já que, distribuído entre as 350 unidades policiais do Estado, resultaria em praticamente um policial por unidade, sem impacto real no combate ao crime organizado. Mesmo com a previsão de incorporar mais 467 policiais no próximo ano, a corporação continuará com déficit de 48,85% do efetivo ideal, quadro que tende a se agravar diante de aposentadorias e desistências frequentes de recém-contratados que deixam a instituição em busca de melhores salários em outros estados.
Leia maisO manifesto chama atenção para a profissionalização das organizações criminosas que atuam em Pernambuco, que já operam com estruturas semelhantes às de empresas, utilizando modelos de franquia, diversificação de fontes de lucro (tráfico de drogas, extorsão, grilagem, jogos ilegais e lavagem de dinheiro) e domínio territorial comparável ao de facções como PCC e Comando Vermelho. A ADEPPE cita a presença de pelo menos 12 facções em disputa no Estado, muitas delas em franca expansão e com forte capilaridade nos grandes centros e no interior.
Ao mesmo tempo, a entidade critica decisões administrativas recentes, como o fechamento das Delegacias de Plantão da Várzea, Casa Amarela e Boa Vista, a redução do atendimento ao público até às 17h e a sobrecarga da Central de Flagrantes. Segundo o documento, a ausência de estrutura tecnológica é igualmente grave: faltam sistemas de gravação de depoimentos, equipamentos de análise forense, ferramentas de rastreamento digital e recursos adequados para a única delegacia especializada em crimes cibernéticos, que atende todo o Estado em condições consideradas “precárias”.
Para reverter o quadro, a ADEPPE defende uma série de medidas urgentes, entre elas a reabertura das Delegacias de Plantão, investimentos robustos em tecnologia de inteligência e investigação, autonomia administrativa e orçamentária para a Polícia Civil, capacitação continuada dos profissionais e a criação de uma força-tarefa estadual integrada exclusivamente voltada ao enfrentamento das facções criminosas, com participação do Ministério Público, Secretaria da Fazenda e órgãos de controle.
O texto ressalta que a falta de ação pode permitir a consolidação do domínio criminoso em diversas regiões, comprometendo a estabilidade econômica e social, fortalecendo ciclos de violência, ampliando o recrutamento de jovens vulneráveis e agravando o risco de corrupção institucional. Para a entidade, recuperar a capacidade investigativa do Estado é condição indispensável para restabelecer a autoridade pública.
A ADEPPE finaliza colocando-se à disposição do Governo de Pernambuco para colaborar tecnicamente na elaboração de um plano emergencial e de longo prazo para a segurança pública, afirmando que somente com planejamento, investimento consistente e valorização profissional será possível enfrentar o avanço das facções e proteger a população pernambucana.
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