Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
O hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve a sua foto durante a ditadura militar. No seu caso, porém, ela é uma espécie de troféu. Lula foi preso quando comandava as greves dos metalúrgicos do ABC, que ajudaram a enfraquecer o regime e foram o início da criação do PT e da sua carreira política.
Na segunda passagem de Lula pela prisão, condenado pelo ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), não se conhece o registro da sua entrada na cela da Polícia Federal em Curitiba. Mas a forma como a condenação foi depois anulada é o início do processo que o levou a ser eleito presidente novamente. No caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, o efeito da inevitável foto do registro de entrada na prisão é imprevisível. Mas a suspeita é de que não será bom.
Leia maisO compositor Chico Buarque teve a experiência de ser fichado quando tinha 17 anos. Molecagem de juventude, roubou um carro para dar um rolê. Mais tarde, ele colocou a foto na capa do seu disco ‘Paratodos’ e fez uma canção, dizendo que era uma foto “que não era para a capa”.
A foto e a ficha de Bolsonaro na cadeia são uma coisa a essa altura inevitável. Assim que seu processo for transitado em julgado, ele será conduzido para a carceragem que lhe for destinada, a Papuda ou alguma outra. Seus aliados sabem que isso irá acontecer.
A essa altura, os advogados de Jair Bolsonaro já estão preparando os laudos médicos para comprovar que sua saúde é frágil e que ele talvez não resistisse a cumprir a pena em um presídio. Como os problemas de saúde são notórios, avalia-se que há uma grande chance de que ele obtenha o benefício da prisão domiciliar. Mas isso terá que ser precedido por uma temporada, curta ou não, numa prisão fechada. E ali, ao entrar, será feita a famosa foto de frente e de perfil. Uma foto que, se tornada pública, será explorada politicamente. O que hoje se discute no PL é: até que ponto Bolsonaro, com seu perfil, conseguirá parecer vítima desse processo?
Defensor ferrenho da ditadura militar, Bolsonaro passou sempre a ideia de que, para ele, vale tudo na luta política. Ou, pelo menos, contra os seus adversários. Ao votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, ele exaltou a memória do torturador Brilhante Ustra.
Durante seu período como presidente, Bolsonaro exaltava a saúde que lhe dera no Exército o apelido de “cavalão”. Disse que a covid-19 para quem, como ele, tinha “histórico de atleta” era uma “gripezinha”. Escapou, assim, de uma doença que matou mais de 15 milhões.
E não demonstrou muita compaixão com as vítimas da pandemia. Perguntado a respeito, disse: “E daí? Não sou coveiro”. Assim, muitos temem que agora a situação de Bolsonaro possa não vir a despertar também compaixão para além daquele eleitorado mais fiel a ele.
Assim, hoje é uma incógnita dentro do PL como será o papel político de Bolsonaro preso. Ou como o partido conseguirá se reinventar na sua ausência. Um interlocutor comentou que isso preocupa tanto o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que ele voltou a fumar.
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