O protesto realizado pelas autoescolas de Pernambuco, nesta semana, tem origem em uma pauta que vai muito além da questão econômica. Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, o diretor-presidente do Detran-PE, Vladimir Lacerda, reconheceu a legitimidade da mobilização e afirmou que o debate sobre o tema precisa ser mais amplo e responsável.
Segundo Lacerda, a proposta apresentada pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) busca reduzir o custo da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que hoje varia entre R$ 2.800 e R$ 3.500 em Pernambuco. O projeto permitiria que instrutores autônomos ministrassem aulas teóricas e práticas, fora do ambiente das autoescolas.
Leia maisPara o diretor, no entanto, essa “simplificação jurídica” pode comprometer a segurança viária e pública, uma vez que eliminaria requisitos como carros com duplo comando, monitoramento por GPS e câmeras, mecanismos que, hoje, garantem controle e segurança no processo de aprendizagem.
“O jovem que está aprendendo a dirigir precisa de acompanhamento profissional e de veículos adaptados, com pedais duplos e freio extra. Sem isso, o risco de acidentes aumenta. Essa flexibilização proposta pelo Governo não garante esses cuidados”, afirmou Lacerda. Ele lembrou ainda que os Detrans não têm estrutura suficiente para fiscalizar milhares de instrutores autônomos, o que dificultaria o controle de qualidade e a segurança dos alunos.
O diretor destacou que as autoescolas não são contrárias à redução de custos, mas à forma como o Governo Federal pretende alcançá-la. “Todo mundo quer baratear a CNH, é fato. Mas não se pode fazer isso às custas da qualidade da formação. É preciso discutir aprimoramentos, não flexibilizar regras sem saber as consequências”, reforçou. Para ele, o debate deve incluir os Detrans, o setor privado e o Congresso Nacional, onde uma proposta de tamanha envergadura pode ser amplamente analisada.
“Nenhum Detran recebeu com entusiasmo essa proposta. Todos reconhecem a necessidade de revisão nos custos, mas ninguém quer abrir mão da segurança”, disse. Ele apresentou, inclusive, sugestões à Senatran para garantir rastreamento dos veículos e controle das aulas, mantendo o padrão mínimo de fiscalização vigente.
Segundo Vladimir, o Detran-PE defende que a modernização do sistema ocorra com diálogo e responsabilidade, garantindo o equilíbrio entre acessibilidade e qualidade e não através de medidas que possam fragilizar a preparação dos condutores e colocar vidas em risco.
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