Por Guilherme Ribeiro*
Escrevo estas linhas não para causar tristeza, mas para dividir um sentimento que muitos vivem em silêncio: a viuvez. Pouca gente entende o que é estar viúvo ou viúva depois de uma vida inteira a dois. A maioria imagina que o tempo cura tudo, que novas companhias ou novas rotinas preenchem o espaço – mas não é bem assim.
Quando se compartilha mais de quarenta anos de vida, o amor deixa raízes fundas demais para que o coração simplesmente se acostume à ausência. A viuvez não é uma ferida que se fecha: é uma cicatriz que se aprende a cuidar. Cada lembrança é uma visita; cada dia, uma tentativa de reorganizar o mundo sem a presença daquela voz, daquele olhar, daquela rotina que nos sustentava em silêncio.
Leia maisExiste uma ilusão de que novas situações ou relacionamentos podem diminuir o luto. Mas o luto não se dissolve em distrações: ele só se transforma com o tempo, e com o amor das pessoas que verdadeiramente nos cercam — os filhos, os genros, as noras e os netos, que nos devolvem a alegria de viver em cada gesto simples, em cada abraço sincero. São eles que nos ensinam, sem perceber, a reconstruir o coração com paciência e ternura.
E, sim, os amigos também são parte desse renascer. São eles que, com suas conversas, risadas e até com um bom vinho sobre a mesa, lembram que a vida ainda guarda sabor, mesmo depois das perdas.
Não é fácil – e talvez nunca seja. Mas com o tempo a dor se acomoda, a saudade muda de lugar, e o amor permanece – mais sereno, mais maduro, mais grato. A viuvez não apaga o que foi vivido; apenas nos obriga a aprender a viver de outro modo, com mais introspecção, mais humildade e, se possível, com mais compaixão por quem ainda não entende.
Meu pai ficou viúvo muito cedo. Hoje compreendo, com a maturidade que o tempo dá, o quanto deve ter sido difícil para ele enfrentar o silêncio e seguir em frente. Porque só quem vive sabe: não há manual para lidar com a ausência de quem foi tudo.
A quem atravessa essa estrada – ou um dia atravessará – deixo o que aprendi: não há pressa para se recompor, não há culpa em querer companhia, não há vergonha em chorar, e não há fim para o amor verdadeiro. Há apenas o tempo, os que nos amam, e a coragem de continuar.
*Empresário e jornalista
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