Por Joel de Hollanda
Tombou o “último dos moicanos” do jornalismo de papel — aquele com cheiro de tinta fresca e de terra molhada.
Encantou-se o “gato do telhado”, o teimoso, combatente e persistente jornalista Enaldo Cândido, dono de um sonho só: manter vivo o tradicional e querido Jornal de Arcoverde.
Como um novo cavaleiro andante, imortalizado pelo gênio de Cervantes, ele enfrentou os moinhos de vento da desenfreada modernidade digital.
Ergueu sua lança e lutou, até o último minuto de vida, pelo jornal impresso.
Para ele, jornal que é jornal precisa ter corpo e alma.
Tem que ter rosto.
Ser alisado, cheirado, acariciado como o corpo de uma mulher amada.
Tem que se aninhar nas mãos calosas dos sertanejos que jamais tocaram — e talvez jamais toquem — no teclado de um computador ou na tela fria de um celular.
Tem que fazer companhia ao idoso encolhido e esquecido no sofá, num canto de sala…
Tem que ser guardado na memória do coração — e também na gaveta — para ser visto e revisto quantas vezes se quiser.
Tem que permitir à jovem ansiosa se ver e se rever em sua primeira aparição na coluna social.
Tem que existir para servir de prova de que aquele aspirante a poeta, cronista ou escritor não é mais inédito.
Do alto do telhado, onde miava e vigiava o mundo, o gato observava tudo.
Sabia de tudo o que se passava em Arcoverde e nas cidades vizinhas.
E batalhou, até o último suspiro, para dar vida ao seu Jornal de Arcoverde.
Pode-se dizer, pois, que esse irrequieto, bem-humorado e obstinado jornalista nasceu, viveu e morreu por seu sonho.
Nada mais justo, portanto, que o acompanhasse, em sua derradeira caminhada à morada eterna, pousada sobre o agora sereno peito — não a bandeira de um time ou de um lugar qualquer —, mas, de forma tranquila e simbólica, a última edição do seu Jornal de Arcoverde.
Ó pequenina e altiva Itaíba, obrigado pelo precioso filho que nos deste!
E louvada seja, para todo o sempre, a refrescante e doce água do cacimbão do Seu Jé, que um dia Enaldo Cândido bebeu… e nunca mais deixou a terra do Cardeal.
Amém.
Praia de Boa Viagem, 21 de outubro de 2025 — dia do sepultamento do meu amigo, o jornalista Enaldo Cândido.
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