Por Antonio Magalhães*
O Prêmio Nobel da Paz tem passado longe do Brasil. Foram indicados e não ganharam nada o agrônomo Alysson Paolinelli, que transformou o Brasil no celeiro mundial de alimentos, e Dom Hélder Câmara, concorrente à honraria por sua mobilização, nos anos 1970, em favor dos direitos humanos durante o regime militar. Segundo aliados do religioso, o Nobel foi barrado pelos militares diante das atividades do religioso. O ganhador de 1971, foi o alemão Willy Brandt por sua OstPolitik que concorria com o então arcebispo de Olinda e Recife.
Foi revelado pela esquerda, posteriormente, que houve um movimento forte contra o religioso, a partir da embaixada brasileira em Oslo, Noruega. Um jornal norueguês chegou a indagar ao comitê por que iria premiar um ex-fascista? Informava que o então padre Hélder nos anos 1930 fez parte da Ação Integralista Brasileira, a sucursal verde e amarela do fascismo de Mussolini. O jornal mostrava como o religioso passara da direita para a esquerda. Quando, na verdade, o que incomodava mesmo os milicos eram as denúncias que Hélder fazia no Exterior contra a ditadura nacional.
Leia maisNão se sabe até que ponto o comitê da Fundação Nobel acatou a suposta pressão brasileira na época, uma vez que é uma organização com histórico de aparelhamento esquerdista. Tanto que não se intimidou em 1980 para conceder o prêmio ao argentino Adolfo Perez Esquivel, militante da esquerda católica durante uma violenta ditadura militar, que matou milhares de militantes. Perez Esquivel recebeu o Nobel da Paz – o segundo da Argentina – sem que fosse denunciada qualquer pressão dos militares portenhos contra a fundação que concede a honraria.
Por isso, causou revolta na esquerda a concessão do Prêmio Nobel da Paz de 2025 a oposicionista e tida como política de direita Maria Corina Machado, da Venezuela, anunciado na semana passada. Foi um aviso ameaçador para os ditadores e autoritários do continente latino-americano. Segundo o comitê norueguês, que concedeu a honraria a esta brava mulher que enfrenta a ditadura do esquerdista Nicolás Maduro, parceiro de …você sabe quem, “ela mantém acesa a chama da democracia, em meio a uma escuridão crescente”.
E ainda para o terror da tropa autoritária latino-americana, Maria Corina Machado dedicou seu prêmio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no momento em que ele pressiona pela saída de Maduro com um cerco militar à Venezuela. “Estamos no limiar da vitória, e hoje, mais do que nunca, contamos com o presidente Trump, o povo dos EUA, os povos da América Latina e as nações democráticas do mundo como nossos principais aliados para alcançar a liberdade e a democracia”, escreveu ela no X (ex-Twitter).
Para informação de quem só ver a história com olhos de militante de determinada ideologia, a possibilidade de Donald Trump receber um Nobel da Paz foi bem real, principalmente depois da sua atuação no Oriente Médio e em outras partes do mundo apaziguando conflitos. Os antiamericanos precisam saber que quatro presidentes dos Estados Unidos já receberam o prêmio da paz em épocas diferentes, Theodore Roosevelt, Woodrow Wilson, Jimmy Carter e Barack Obama, este último nos primeiros dias do mandato em 2009 sem ter mostrado qualquer razão para receber a honraria.
A América Latina tem também seus ganhadores do Nobel da Paz. Foram honradas figuras proeminentes que saíram em defesa dos direitos humanos na Colômbia, Costa Rica, Argentina, Guatemala, México e agora na Venezuela. Até a ilha do Timor Leste, país de língua portuguesa na Ásia, teve seus líderes da independência entre os premiados. Até 2025, o Nobel da Paz foi concedido a 112 indivíduos e 28 organizações. Vinte mulheres ganharam o Prêmio Nobel da Paz, mais do que qualquer outro Nobel.
Contudo, o Brasil não precisa de Nobel da Paz para exercer a defesa dos direitos humanos. A Constituição Federal de 1988, considerada a “Constituição Cidadã” por sua forte ênfase nos direitos humanos, deveria assegurar isso, de forma explícita e implícita. O artigo 5º diz muito do que pode ser feito: garante a igualdade perante a lei, a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Protege contra prisões ilegais e garante um julgamento justo. Assegura o direito à propriedade, com a devida função social. E oferece mecanismos de proteção, como o Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Segurança e Mandado de Injunção.
Será que os brasileiros têm acesso hoje aos benefícios constitucionais de cidadania? Têm a garantia dos seus direitos? Quem quiser responder, o faça. Correndo riscos, claro. É isso
*Jornalista
Leia menos