Petrolina é uma cidade diferenciada no Nordeste. Plana, bem iluminada, com uma orla na beira do Rio São Francisco repleta de bons restaurantes, equipamentos de lazer e esportes. A parte urbana nada lembra os cenários dos grotões do sertão, com seus bolsões de miséria. No hotel encontrei meu amigo Pedro Pires, um dos melhores médicos em ultrassom e Medicina Fetal.
Ele está em Petrolina um final de semana por mês para dar aula em uma faculdade da cidade. Entusiasmado, pegou seu celular para exibir um vídeo noturno em Petrolina, com suas largas avenidas e viadutos iluminados. “Não estou no Nordeste, mas nas Bahamas”, sapecou.
Leia maisPedro Pires vem do mesmo sertão de vidas secas que berrei ao mundo, o Vale do Pajeú, onde todas as suas almas são de cantadores, como disse Rogaciano Leite, o maior de todos os trovadores da minha terra, que do leito seco do rio não se encontra água, mas a poesia brota fácil. Vem de Tabira, celeiro de repentistas que nos fazem mais humanos e apaixonados pelo seu canto torto, como cantou Belchior.
Petrolina é a vanguarda do Nordeste, referência em qualidade de vida. Segundo estudo da Macroplan, renomada consultoria em planejamento e gestão, Petrolina desponta no primeiro lugar no índice geral de qualidade de vida no Nordeste. A Macroplan avalia a qualidade de vida das cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes em 15 indicadores-chave.
Petrolina obteve a nota 0,622, média superior a de todas as capitais e demais cidades nordestinas de grande porte. O estudo revelou avanços na qualidade dos serviços públicos, como melhorias no ensino fundamental, taxa de matrículas na educação infantil, ampliação da cobertura de saúde, entre outros. De 2010 até 2025, a cidade subiu 23 posições, mantendo-se como a única nordestina entre os 50 melhores municípios do Brasil.
Petrolina foi classificada como a melhor cidade de Pernambuco e a única do Estado entre as 20 melhores do País, considerando os municípios acima de 100 mil habitantes no ranking 2025 do Índice de Governança Municipal (IGM), elaborado pelo Conselho Federal de Administração (CFA). Com a nota 7,24 Petrolina ficou à frente até do Recife, que ficou com 6,25, e de cidades como Jaboatão dos Guararapes e Caruaru, que alcançaram 6,95 e 6,87, respectivamente.
O Índice de Governança Municipal (IGM) foi lançado em 2016 e tem como objetivo auxiliar gestores municipais na elaboração das políticas públicas mais adequadas aos seus municípios. O cálculo da eficiência da gestão pública tem como base três dimensões: finanças, gestão e desempenho. O levantamento inclui dados de 5.570 municípios brasileiros e do Distrito Federal, separados por grupos, conforme o número de habitantes e o PIB per capita.
Petrolina deve tudo aos Coelho. Sem a influência política do clã do velho Quelé, que gerou o estadista Nilo Coelho, o São Francisco, especialmente em Petrolina, ainda estaria hoje patinando. Nilo enxergou no Velho Rico a fórmula de transformar água em ouro, através dos projetos de irrigação. O primeiro foi Bebedouro, farol que se acendeu para iluminar a mente dos que enxergaram o futuro nas terras antes inóspitas.
Petrolina venceu o terrível ciclo de vidas secas e de retirantes. Virou um centro de agricultura irrigada, especialmente na produção de frutas. A cidade passou a ter vinhedos e vinícolas, elevando seu potencial econômico e turístico. A pujança de Petrolina se manifesta principalmente em seu poderoso setor de fruticultura irrigada, que transforma o sertão em um polo de exportação de frutas para o mundo, com destaque para mangas e uvas.
Além do agronegócio, a cidade se destaca pela sua cultura vibrante, a gastronomia regional do Bodódromo, o turismo de enoturismo e a tradição do artesanato, com a artista Ana das Carrancas sendo um símbolo do Patrimônio Vivo de Pernambuco. Na produção de frutas, mangas e uvas são exportadas para países como Estados Unidos e Reino Unido.
O setor se desenvolve com investimentos em novas tecnologias, aumentando a produtividade e garantindo o crescimento da produção. A região é reconhecida por sua capacidade de transformar o sertão em um polo agrícola de alta performance, como a conhecida terra dos impossíveis.
Junte-se a tudo isso de Petrolina a capacidade empresarial dos que acreditaram em plantar uvas e fazer vinho no calor do trópico, e produzem também uma grande variedade de frutas, assegurando espaços no mercado externo que o Brasil nunca tivera antes.
Se existem milagres feitos pelos humanos, o agronegócio em Petrolina é um deles, e não foi excluída a participação da agricultura familiar, que encontrou espaços próprios. Quem visita Petrolina, sob o impacto que nos aflige da complicada realidade brasileira, com o desemprego aumentando, a economia travada, e a política se desencaminhando aos extremos, observa, sem necessitar de muita argúcia, que a crise quase some no dia a dia, onde as preocupações fundamentais voltam-se para o plantar, o colher, e ter êxito na comercialização dos produtos.
Isso acontece porque o ambiente de negócios é dinâmico, o desemprego é mínimo, e quem trabalha está confiante nos resultados favoráveis. Já a gastronomia é outro destaque em Petrolina. O Bodódromo oferece a culinária regional sertaneja, com pratos como carneiro assado, linguiça e buchada, atraindo milhares de turistas. Há vinhedos na região que oferecem passeios e degustações, impulsionando o turismo de enoturismo.
A obra de Ana das Carrancas, com suas carrancas de barro, é um símbolo do Patrimônio Vivo de Pernambuco e representa a pujança do artesanato local. Petrolina, enfim, mira um futuro tecnológico, com a instalação de unidades de centros de inovação, impulsionando o desenvolvimento local.
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