Por Tales Faria – Vero Notícias
Independentemente do encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já tinha uma pedra no caminho de sua eventual candidatura ao Palácio do Planalto: trata-se do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho Zero-Três do ex-presidente.
Eduardo é visto por Tarcísio como candidato a ocupar o lugar de Pablo Marçal na campanha presidencial de 2026.
Marçal concorreu a prefeito de São Paulo pelo PRTB em 2024. Arrancou o apoio de uma parcela do bolsonarismo com uma campanha polêmica que lhe rendeu até a inelegibilidade por oito anos. Por conta disso, Marçal agora não é candidato, muito embora já tenha expressado o desejo de disputar a Presidência da República.
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O prefeito Ricardo Nunes (MDB) reclamou, após ser reeleito naquele ano, que Pablo Marçal quase o derrubou da disputa.
Candidato preferido do governador Tarcísio de Freitas, Nunes acabou tendo que enfrentar um segundo turno contra Guilherme Boulos (Psol) por causa da migração de votos bolsonaristas para Marçal no primeiro turno.
O ex-presidente Jair Bolsonaro é tido pelos aliados de Tarcísio como o principal responsável por essa migração, na medida em que retardou ao máximo o anúncio de apoio a Ricardo Nunes, enquanto Marçal se colocava como o mais bolsonarista dos candidatos.
O ex-presidente estava irritado com o fato de o prefeito não demonstrar empolgação pela aliança. Nunes, de fato, queria o voto dos bolsonaristas, mas temia afastar direitistas e centristas menos radicais.
Problema semelhante tende a ocorrer agora, nas eleições de 2026, se Tarcísio for candidato a presidente da República. O governador quer e precisa dos votos dos bolsonaristas, mas teme que o radicalismo do grupo lhe tire votos moderados da direita e do centro.
O clã Bolsonaro, por sua vez, reclama da prioridade programática que Tarcísio tem dado à aliança com o centrão e à chamada Faria Lima, ou seja, à elite empresarial e financeira de São Paulo.
Para piorar as coisas, o próprio Eduardo Bolsonaro tem insistido que é o verdadeiro herdeiro político de seu pai. Eduardo tem dito até que poderá se candidatar a presidente da República.
O clã Bolsonaro tem criticado Tarcísio, ora de maneira explícita, ora reservadamente. Os petardos são dirigidos tanto a Tarcísio como a outros governadores de direita que se colocaram no páreo, como Ratinho Junior (Paraná), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ronaldo Caiado (Goiás).
Do seu autoexílio nos Estados Unidos, quando viu Tarcísio ser apontado como o nome preferido do centrão, Eduardo Bolsonaro reclamou do que chamou “chantagem” de outros integrantes da direita que “falam em substituir” o pai nas urnas.
Carlos Bolsonaro sugeriu apoio ao irmão deputado. Em alusão aos governadores, também publicou postagem contra aqueles na direita que chamou de “pau molengas”:
“O sistema está faminto e orquestrado, atacando justamente quem um dia lhe deu uma chance […] A volta dos ‘pau-molengas’ só interessa à máquina, à organização e aos usurpadores alinhados contra o povo […] e é muito mais fácil botar a cara de babaca sorrindo e fingindo apoio […] e então sair limpinho diante do absurdo enredo destrutivo nacional, mas desrespeitando […] quem o possibilitou alçar ao ponto que chegou.”
Mais moderado, o senador Flávio Bolsonaro mandou um recado menos virulento a Tarcísio e os outros governadores pré-candidatos, em entrevista na quarta-feira, 24, ao jornal O Globo. Disse que a chance de sucesso de um presidenciável diminui “ao antecipar tanto assim a disputa”.
Na avaliação dos aliados mais próximos de Tarcísio, se Eduardo não for candidato, ou seja, não vestir a fantasia de Pablo Marçal, outro poderá vir. Seja Carlos, seja Flávio, ou até mesmo Michelle Bolsonaro, em versões mais hard ou mais light.
Mas sempre com potencial de roubar votos bolsonaristas de qualquer outro candidato da direita.
É esse temor que tem dificultado uma opção definitiva do governador por concorrer a presidente. Se hoje nem mesmo a reeleição em São Paulo é certa, imagina uma disputa contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva com uma réplica de Pablo Marçal no seu caminho. Ainda mais com o sobrenome Bolsonaro.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a linha editorial do veículo.
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