O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas corre por fora, mas conta com boas relações nos três Poderes. Procurados, os três cotados não se manifestaram.
Na definição de um ministro da Corte, Messias seria uma solução “caseira”, pela relação de anos com Lula, enquanto Pacheco representaria uma saída “política”. “Nas duas hipóteses, o presidente tem ganhos”, observa esse magistrado.
O grande trunfo de Messias para ficar com a vaga é a estrita confiança de Lula. Neste terceiro mandato, esse foi, apontam aliados, o principal critério observado pelo presidente em suas indicações para a Corte.
Fatores no cálculo
Lula se valeu da confiança na escolha de seu advogado na Operação Lava-Jato, Cristiano Zanin, em junho de 2023, e de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça, em novembro do mesmo ano. O presidente teria, na visão de interlocutores, a intenção de evitar o que ele consideraria um erro de seus dois primeiros mandatos, quando seus indicados assumiram posições que prejudicaram o PT no Supremo.
O caso mais exemplar é de Joaquim Barbosa, indicado por Lula em 2003 e que depois, como relator do processo do mensalão, votou pelas condenações que levaram para a cadeia os ex-presidentes do partido José Dirceu e José Genoino.
A avaliação no Planalto é que o presidente não seria surpreendido por posicionamentos de Messias, caso ele seja o escolhido. Além disso, o advogado-geral da União também conta com a simpatia de ministros como Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda), do PT e do Prerrogativas, grupo que reúne advogados simpáticos a Lula. Messias também já foi chefe de gabinete de Jaques Wagner (PT-BA), hoje líder do governo no Senado.
Aliados destacam ainda a proximidade do advogado-geral com temas sociais, o que agrada Lula.
O ministro é evangélico e tem funcionado como interlocutor em um setor em que Lula enfrenta dificuldades. Ele representou o governo, por exemplo, nas últimas edições da Marcha para Jesus, maior evento evangélico do país, que ocorre em São Paulo.
Por outro lado, os obstáculos para Messias estão no eventual desgaste que Lula enfrentaria junto à cúpula do Senado, que trabalha por Pacheco. Com isso, o ministro enfrentaria mais dificuldade para ser aprovado na Casa na comparação com o senador, e o governo precisaria gastar capital político.
Como AGU, Messias construiu boas relações no STF, onde é visto como um nome técnico. Apesar disso, não é o favorito de integrantes da Corte. Ainda assim, ministros do STF reconhecem sua atuação firme em defesa da democracia e contra ataques à Corte.
Já Pacheco tem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), como principal cabo eleitoral para sua ida à Corte. Além disso, é o candidato favorito de uma ala do STF. Pacheco e Alcolumbre são muito próximos e se revezaram nos últimos anos na presidência do Senado, e o apoio do atual comandante é visto como essencial para passar qualquer indicação.
Sua experiência de dois mandatos no comando do Legislativo também levou Pacheco a ter aval de boa parte dos senadores para ir ao STF. Sua trajetória como presidente da Casa, e, portanto, de um Poder da República, além de sua interlocução com os outros Poderes são vistas como ativos importantes, especialmente em momento de tensão entre Judiciário e Legislativo.
Na Corte, Gilmar Mendes, já manifestou publicamente preferência por ele, destacando a “coragem” e preparo jurídico. Os ministros Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia também são apontados como simpáticos à indicação.
Em 2021, por exemplo, Pacheco rejeitou um pedido de impeachment contra Moraes apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Assim como Alcolumbre, ele também não deu andamento a outros pedidos semelhantes contra Moraes e outros ministros do STF.
Pacheco também construiu uma relação próxima com Lula, o que levou a ser cotado para assumir um ministério no governo federal, possibilidade depois descartada, e também para concorrer ao governo de Minas Gerais nas eleições do próximo ano.
É justamente essa possível candidatura, no entanto, que virou um empecilho para sua indicação ao STF, já que Lula não esconde a preferência por Pacheco para disputar o governo. Além de ser o segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais é considerado decisivo para o bom desempenho de candidatos presidenciais.
O entorno do senador não vê plano B para concorrer em Minas, já que Pacheco aparece como o nome governista mais bem posicionado em pesquisas internas. O vice-governador Mateus Simões deve concorrer ao comando do estado e negocia a ida justamente para o PSD de Pacheco, mas é mais identificado com a oposição ao PT.
Lula passou a ter uma relação próxima com Pacheco desde que assumiu o terceiro mandato. Na Presidência, o petista o chamou para viajar no avião presidencial em diversas oportunidades e demonstrou simpatia ao senador. Em junho deste ano, Lula chegou a chamar Pacheco de “futuro governador de Minas Gerais”. Ainda assim, não é uma relação tão próxima como a que tem com Messias, que tem reuniões frequentes com o presidente.
Dantas: articulação
Ex-presidente do TCU, Dantas não é o favorito declarado de nenhum grupo, mas sua capacidade de articulação com diferentes pontos do espectro político e a relação próxima com ministros do STF o colocam como nome competitivo.
Sua postura crítica à Lava-Jato e o perfil garantista agradam a setores do governo e do Judiciário. Dantas também é aliado de Alcolumbre e Renan Calheiros (MDB-AL), o que garantiria um caminho sem percalços no Senado. Sua presença na disputa amplia o leque de opções e pode servir como alternativa de consenso caso o cenário se torne mais polarizado.
Apesar disso, há quem veja Dantas como uma opção sem uma ligação direta com Lula, que tem demonstrado priorizar pessoas com quem mantém uma relação muito estreita. Outro ponto que é apontado como desfavorável à candidatura dele é uma resistência por parte de uma ala do PT, que o vê como o nome “longe da esquerda”.
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