O avião geralmente utilizado pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) que pousou no Brasil na terça-feira (20) pode estar vinculado a uma operação que está sendo executada pelo governo do presidente Donald Trump para desmantelar os cartéis do narcotráfico na região.
Todo branco e descaracterizado, o Boeing 757 que aterrissou em Porto Alegre (RS) e depois em Guarulhos (SP), com autorização do Ministério da Defesa, é conhecido como ‘gatekeeper’ (porteiro), o mesmo nome de um projeto desenvolvido pela Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA) para combater o tráfico de entorpecentes dentro e fora do país. As informações são do Correio da Manhã.
Leia maisNa terça-feira (19), a DEA emitiu um comunicado anunciando uma ‘ousada iniciativa bilateral’ com o governo México para fortalecer a colaboração entre os dois países na luta contra os cartéis, “cujas redes de tráfico são responsáveis por inundar as comunidades americanas com drogas sintéticas mortais”.
“No centro desse esforço está o Projeto Porteiro, a principal operação da DEA destinada a desmantelar os ‘porteiros’ do cartel, agentes que controlam os corredores de contrabando ao longo da fronteira sudoeste”, diz um trecho do comunicado.
Venezuela
O pouso do misterioso avião no Brasil acontece em meio à ofensiva dos EUA contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o que inclui uma recompensa de US$ 50 milhões para quem fornecer informações que possam levar à sua prisão.
Na terça-feira, mesmo dia do pouso do avião, a porta-voz do governo dos EUA, Karoline Leavitt, afirmou a jornalistas na Casa Branca: “Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”.
A “força americana” citada pela porta-voz inclui, entre outras frentes, o deslocamento de três navios destroyer da Marinha para o mar do Sul do Caribe, perto da costa da Venezuela. Ao todo, 4 mil fuzileiros navais estão embarcados.
Ataque ao ‘coração do cartel’
No comunicado sobre a nova parceria com o México, a DEA afirma que “os porteiros são essenciais para as operações do cartel, direcionando o fluxo de fentanil, metanfetamina e cocaína para os Estados Unidos, garantindo o movimento de armas de fogo e dinheiro a granel de volta ao México. Ao atacá-los especificamente, a DEA e seus parceiros estão atacando o coração do comando e controle do cartel”.
O órgão antidrogas informa também que lançou um programa de treinamento e colaboração de várias semanas em um de seus centros de inteligência na fronteira sudoeste dos Estados Unidos. A iniciativa reúne investigadores mexicanos e policiais dos EUA, promotores, autoridades de defesa e membros da comunidade de inteligência.
“O Projeto Porteiro também é coordenado com a Força-Tarefa de Segurança Interna (HSTF), garantindo uma abordagem de todo o governo. A integração do HSTF reúne elementos de aplicação da lei, inteligência, defesa e promotoria, alinhando prioridades e operações para que os Estados Unidos possam aplicar todas as suas capacidades contra as redes de cartéis”, pontua a nota da DEA.
“Ao longo de várias semanas, os participantes identificarão alvos conjuntos, desenvolverão estratégias coordenadas de aplicação da lei e fortalecerão o intercâmbio de informações”, diz o comunicado.
Operação incomum
O avião em questão é um Boeing 757-200 da Força Aérea dos Estados Unidos, já utilizado em crises internacionais, como a explosão no porto de Beirute, em 2020, e em eventos de grande destaque, incluindo os Jogos Olímpicos. A aeronave pertence ao 150º Esquadrão de Operações Especiais da USAF, grupo responsável por operações que incluem agentes da CIA.
A entrada de um avião descaracterizado no espaço aéreo brasileiro é muito incomum no sistema nacional de controle de tráfego aéreo. No geral, as aeronaves trazem em sua calda um conjunto de letras que as identificam e são citadas pelos pilotos nos contatos com os controladores de voo. Essa exceção para o avião operado pela CIA é um sinal de que sua operação no Brasil foi previamente acertada entre os dois países.
Segundo o Flightradar24, a aeronave deixou os EUA na segunda-feira (18), partindo da base militar de Wrightstown, em Nova Jérsei.
A rota incluiu escalas em Tampa, na Flórida, e em San Juan, em Porto Rico. Às 17h12 de terça-feira (19), o avião pousou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). Ainda de acordo com o FlightRadar, o avião decolou novamente por volta das 20h e seguiu para São Paulo, onde desembarcou no aeroporto de Guarulhos.
A Polícia Federal informou que a aeronave transportava diplomatas americanos, que tinham como destino o Consulado dos EUA em Porto Alegre. Ainda não há informações oficiais sobre o objetivo da viagem ao Brasil.
Além da ofensiva americana contra a Venezuela, o estremecimento das relações entre Brasil e Estados Unidos é um outro componente que faz com que a chegada do avião esteja cercada de atenções e desconfianças.
Além da crise em torno da tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros, faltam apenas duas semanas para o início do julgamento do chamado núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado, classificado como uma “caça às bruxas” por Donald Trump, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um dos réus no Supremo Tribunal Federal (STF).
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