Com medo de vaias, Raquel busca arrego no Sertão
A justificativa apresentada pela governadora Raquel Lyra (PSD) para não acompanhar o presidente Lula (PT) em agendas no Recife e em Goiana, ontem,,já entrou para o anedotário político. A explicação oficial – de que estava em Petrolina, a mais de 700 quilômetros, conduzindo o Ouvir para Mudar, um seminário de consulta popular – soou frágil e sobrou para a vice-governadora Priscila Krause (PSD), incumbida de representar o Estado nos eventos.
O argumento de incompatibilidade de agendas foi recebido como piada pronta. Afinal, o Ouvir para Mudar é organizado pelo próprio Governo de Pernambuco. Se a governadora, autoridade máxima do Executivo estadual, não pode alterar a data de um evento criado e comandado por sua gestão, quem poderia? Mais curioso ainda é o fato de o programa ocorrer em várias cidades, com calendário flexível, o que permitiria a Raquel escolher onde e quando participar.
Leia maisEleita em 2022 com o discurso de “neutralidade” na política nacional — que convenceu apenas os mais distraídos —, a governadora, apelidada nos bastidores de “Raquel Mandacaru”, por não oferecer sombra nem abrigo a ninguém, parece ter deixado cair a máscara.
O distanciamento das agendas de Lula coincide com a percepção de que o presidente poderá apoiar João Campos (PSB) na disputa pelo Governo do Estado em 2026, caso o prefeito confirme a candidatura. Some-se a isso o fato de que, se o PSD lançar candidato à Presidência, será difícil manter o mantra da neutralidade.
Diante deste cenário, Raquel provavelmente avaliou que o risco de ser vaiada em Brasília Teimosa, tradicional reduto da esquerda, não valeria a pena. Também pesou o temor de ver João Campos ofuscá-la, como já ocorreu em maio, durante agenda presidencial em Salgueiro.
O problema é que a ausência não é um gesto neutro. A recepção a um presidente da República carrega ritos e simbolismos políticos que se comunicam tanto pelo que se faz quanto pelo que se deixa de fazer. Ao trocar uma entrega emblemática — a da nova fábrica da Hemobrás — por um evento interno do governo, Raquel foi, no mínimo, pouco descortês.
Até mesmo governadores opositores de Lula, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG), têm marcado presença em agendas do presidente em seus estados. No Recife, durante o discurso em Brasília Teimosa, João Campos evocou o exemplo do pai, Eduardo Campos, que, enquanto governador, recebeu Lula em todas as oito visitas que o presidente fez a Pernambuco.
E reforçou: “Onde o senhor estiver, no meu Estado e na minha cidade, estarei ao seu lado defendendo o seu nome e dizendo que sou um soldado do senhor.” Na voz da governadora, a frase pareceria invertida: se Lula estiver no leste, ela seguirá para o oeste; se o presidente visitar o litoral, Raquel fará as malas rumo ao Sertão.
NEUTRALIDADE – Até os aliados da governadora Raquel Lyra (PSD) desconfiam que a sua ausência da agenda do presidente Lula, ontem, foi uma sinalização da sua nova estratégia: aos poucos, distanciar-se do presidente e do PT, sepultando a ideia de abrir um segundo palanque em Pernambuco em apoio à reeleição do petista. Pelo visto, Raquel vai repetir 2022: adotar o muro, não se alinhando nem a Lula nem ao candidato bolsonarista. Deu certo no segundo turno da eleição passada, mas em política a história não se repete.

O federal de Rodrigo – De passagem ontem para o Sertão encontrei o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSD), no restaurante Tio Armênio, numa conversa descontraída com o ex-senador Douglas Cintra (PSB). Numa rápida conversa, confirmou que o seu candidato a deputado federal será Fernando Monteiro, que disputa a reeleição pelo Republicanos. “”Fernando tem sido muito atencioso e correto com Caruaru. Ganhou a minha confiança e o meu alívio incondicional”, disse, adiantando que o parlamentar já começou a injetar emendas para o município.
Bolsonaristas preservados – Aliado de primeira hora do governo Lula, Danilo Cabral foi exonerado por defender interesses do Estado, como a ferrovia Transnordestina. O estranho é que, num governo de esquerda, os diretores bolsonaristas da autarquia continuam intocáveis em seus cargos. A nomeação de Francisco Ferreira Alexandre, indicação pelo senador Humberto Costa para o lugar de Danilo, deve sair no Diário Oficial nos próximos dias.
Coisa ruim – O presidente Lula deu várias estocadas em Bolsonaro no discurso de ontem em Goiana. Disse que seu antecessor virou “aquela coisa ruim” porque não tomou vacinas. Lula criticou também o tarifaço imposto por Donald Trump (Partido Republicano), negou perseguição a Bolsonaro e aproveitou para cobrar que o ex-presidente seja responsabilizado pelas mortes durante a pandemia. “Ô, gente, ele deveria ser julgado em um tribunal internacional pela quantidade de mortes da covid aqui que ele tem responsabilidade”, afirmou.

Gol contra do trapalhão Odorico – Existem políticos ignorantes por natureza. Nunca ouviram falar de liturgia do poder. Outros, analfabetos funcionais. Júnior Matuto, que virou deputado por uma fatalidade, personifica os dois. Não sabe que o nível rasteiro adotado da tribuna da Alepe, a la Odorico Paraguassu, é tudo que Raquel Lyra quer para se vitimizar, e tudo que a oposição não contava para se fragilizar. Nunca vi nada tão débil e imbecil. Precisa urgentemente de um divã.
CURTAS
Faltou alguém soprar – Diante do clima de tensão e apreensão no Vale do São Francisco pelos efeitos do tarifaço de Trump, o presidente Lula poderia ter feito uma escala técnica em Petrolina, antes de aterrisar no Recife, para discutir alternativas com os produtores de manga, que correm o risco de perder toda a produção desta safra. Teria feito um gol de placa.
Incansável – Temendo o pior com a crise instalada no São Francisco por causa do tarifaço, o prefeito de Petrolina, Simão Durando (UB), tem sido incansável na luta em favor dos produtores de manga: praticamente se transferiu para Brasília para encontrar uma luz no final do túnel a quem gera riquezas na região.
DUPLO – Na incursão ao Pajeú para noites de autógrafos do meu livro Os Leões do Norte, na próxima semana, a terça-feira, 19, será de duplo lançamento: às 17h30 em Itapetim e às 19h30 em Brejinho, cidades irmãs, separadas por apenas 15 km.
Perguntar não ofende: Júnior Matuto virou o Tiririca da Alepe?
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