Rueda deve presidir a federação do União Brasil com o PP, que se tornará a maior agremiação do país, com 109 deputados federais e 14 senadores. Ele diz que as acusações de Bivar são “delírios e calúnias”.
Bivar contratou o atual presidente do partido como advogado de suas empresas e foi o responsável por levá-lo para a política, em uma relação que durou mais de 20 anos. Os dois romperam quando o grupo que controlava o DEM se aliou a Rueda para tomar o controle do União Brasil e afastar Bivar, em abril do ano passado.
O deputado foi excluído até do grupo de WhatsApp do partido. Ele diz que deixará a legenda até abril para se filiar a outra sigla.
Bivar afirma que não fez as denúncias antes para que as acusações não parecessem uma revanche. “Não tenho prova, mas eu tenho absoluta certeza. Já presenciei negociatas dele no hotel onde ele se hospedava”, diz.
Em nota, Rueda diz que as falas do deputado não merecem crédito.
“Com pesar, digo que a trajetória do sr. Luciano Bivar fala por si: foi rejeitado nas urnas, afastado pela Justiça, responde a processos e agora recorre a delírios e calúnias para tentar justificar sua irrelevância política. Lembro que, há pouco mais de um ano, ele chegou ao ponto de ameaçar de morte minha filha, que na época tinha apenas 12 anos. Esse episódio, por si só, revela quem ele realmente é —e o descredibiliza para a política e para qualquer brasileiro de bem”.
O sr. vai sair do União Brasil?
Enquanto for dirigido por alguém que trata só de negociatas, não posso participar. Se [essa situação] permanecer até a janela partidária, não tenho outra alternativa.
Que negociatas?
Não tenho prova, mas eu tenho absoluta certeza. Já presenciei negociatas dele no hotel onde ele se hospedava. No Hotel George V, em São Paulo.
O que ele negociava?
A venda de diretórios para políticos que diziam que poderiam fazer melhor pelo partido. Mas, em troca, ele recebia propinas, e eu não acreditava que aquilo era verdade. Me penitencio muito por isso, porque não faltavam sinais, não faltavam denúncias. Mas, como eu já o conhecia há 20 anos —ou melhor, pensava que eu conhecia há 20 anos—, não acreditava.
Sair da presidência fez o sr. começar a acreditar?
Uma coisa traz a outra. Ele formou uma quadrilha familiar dentro do partido. Dei a ele a liberdade de indicar delegados. Pensava que eram pessoas nossas, mas eram vassalas dele. Ele conseguiu a maioria no diretório por conta de indicar empregados dele no Brasil inteiro. Para mim, foi uma surpresa.
Mas o sr. conhece ele há 20 anos.
Ele foi expulso de um escritório [de advocacia], e eu o trouxe para minha empresa. Dei uma mesa para ele trabalhar e subsidiei um escritório que ele abriu em São Paulo para defender as nossas empresas. Incluí ele na política para tratar com as pessoas mais novas, como o Flávio Bolsonaro, e sugeri que viesse morar em Brasília.
Ele foi seu vice-presidente e tesoureiro. O sr. nunca percebeu isso?
Ele me ajudava muito na política. Como ele era funcionário, estava sempre disposto. Tinha uma reunião e eu pedia para ele me representar. Sempre fui de delegar, tinha mil atividades, e preservo muito minha sociabilidade, meus horários.
O sr. tem provas?
Não. Se eu tivesse alguma prova disso, teria expulsado ele imediatamente do partido.
Como sabe que ele recebia propina, então?
Ele me dizia que tinha alugado um apartamento em São Paulo para as pessoas deixarem encomendas lá. Encomendas em troca de negócios do escritório de advocacia. Mal sabia eu [na ocasião] que [aquilo] era propina.
Que diretórios ele vendeu?
Eram vários diretórios. Do Rio, de São Paulo e tantos outros.
O Amazonas foi o estopim da sua saída. Esse foi um dos diretórios?
Ele insinuou para que eu anulasse a eleição lá. Escrevi a carta, e ele recebeu uma prensa do Marquinhos, o ‘rei do lixo’ [José Marcos Moura, empresário investigado na operação Overclean], e do ACM [Neto]. Eu disse que não iria desfazer, e esse foi o grande motim que o ACM aproveitou para dizer: “Olha, Rueda, se você vier para o nosso lado, a gente faz você presidente”. Beliscou ele com a mosca azul.
Como ficou a relação com Rueda depois?
A melhor coisa foi me separar dele ainda em vida. Imagina se eu morresse? Meus amigos e meus filhos sempre o venerariam como um grande amigo que eu tive. Tive tempo suficiente para dizer que aquele cara não é meu amigo, é um psicopata, um amoral, que tem uma necessidade imperiosa de aparecer, de comprar carros bonitos, de fazer festas ostensivas. Coisas próprias de um pobre coitado.
Esses bens são incompatíveis com a renda dele?
Só nós pagávamos para ele R$ 200 mil por mês para ele nos defender. E apresentei outros clientes no mercado segurador. Não é incompatível, mas isso de comprar carrões é mais uma fase de adolescência.
Por que o manteve como advogado por 20 anos?
Eu não era executivo da empresa. Perdemos mais de R$ 10 milhões em ações julgadas à revelia, em que ele nem mandava alguém na audiência. Eu recebia dos executivos muitas reclamações e muitas ficavam pelo meio do caminho porque sabiam da minha ligação com ele.
Por que falar essas coisas só agora?
Tenho pena dele, tenho náusea. Não tenho rancor. Ele pensa que a matéria significa tudo na vida. Eu sou empresário, o dinheiro não é tudo. Tudo que eu falasse, pareceria que é uma coisa porque perdi a presidência, e não queria que tivesse essa conotação. O passado está bem sedimentado.
Rueda deve presidir a maior federação do Brasil.
Ando à margem do partido, mas sei que ele não tem credibilidade. As coisas que falam dele, as amizades que tem, são pelos interesses. [Se] Tem negócio, então tem tratativa política. [Se] Não tem negócio, então não tem tratativa política. Negócios de toda ordem. “Quanto é que o secretário de Transportes contribui para o partido por mês? X. Então tá bom, então a gente vai te apoiar.”
Onde isso ocorreu?
Tenho informações, mas não posso falar porque [este] é um jornal de âmbito nacional e, para eu falar, eu tenho que provar.
Houve um incêndio na casa de praia de Rueda em meio à disputa entre vocês. Ele e aliados já insinuaram que o sr. teve participação.
Nunca vi ele atribuir a mim esse incêndio, porque no dia que disser que atribuiu a mim, vou acioná-lo na Justiça. A perícia não descartou a hipótese de simulação. Nem ouvido eu fui. Não sei se foi arquivado porque está sob sigilo.
O sr. era o presidente quando o partido se aliou a Lula. Como vê o possível rompimento com o governo?
O governo Lula tem uma coisa muito boa: é democrático. O que eu discordo é na economia. Agora, não escrevo nada que o partido fala hoje em dia, porque o partido não tem alma. É um partido de interesses, vai ao sabor dos ventos. Li ele reclamando que nunca era recebido pelo Planalto. O Planalto sabe que ele não resolve nada, que ele vai lá tirar uma fotografia para vender tráfico de influência.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi seu aliado. A prisão foi injusta?
Sou formado em direito. Posso te dizer: se infringir qualquer medida cautelar, cabe ao Judiciário evitar que aquilo aconteça de novo. Se a pessoa continuar se rebelando contra o Estado democrático de Direito, vai terminar tomando uma [prisão] preventiva.
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