A decisão do Governo Raquel Lyra (PSD) de colocar em prática sua política de autogestão da merenda escolar nas escolas estaduais tem causado apreensão entre os pais dos estudantes impactados pela medida, implementada antes do recesso escolar em cidades como Carpina e Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco. Os alunos voltaram às aulas ontem, e os responsáveis manifestam suas preocupações em grupos de aplicativos de mensagens.
“Nós, pais e responsáveis, gostaríamos de expressar nossa preocupação com a qualidade da alimentação escolar oferecida pelo Estado. É inaceitável que nossos filhos, que passam boa parte do dia na escola, reclamem tanto da alimentação”, queixou-se um pai no grupo de WhatsApp da turma do seu filho, que estuda na EREM Confederação do Equador, em Paudalho. “Acreditamos que a alimentação escolar deve ser uma prioridade, pois impacta diretamente na saúde e no desenvolvimento dos nossos filhos”, complementou.
Leia maisAté o momento, as cidades de Carpina e Paudalho foram as primeiras impactadas pela medida. Em Carpina, passaram a operar sob autogestão a ETE Maria Eduarda Ramos de Barros, a EREM Joaquim Olavo e a EREM José de Lima Júnior. Já em Paudalho, além da EREM Confederação do Equador, também estão sob autogestão a EREM Herculano Bandeira e a ETE Senador Wilson Campos.
A preocupação dos pais não é infundada. Embora, num primeiro momento, a autogestão da merenda possa parecer uma boa ideia, quando se coloca na ponta do lápis, percebe-se que os custos não se justificam. Vendida como um avanço na autonomia das escolas, a proposta transfere para as direções escolares a responsabilidade por comprar alimentos, contratar merendeiras, gerenciar contratos, manter estoques e garantir a qualidade nutricional das refeições. Uma tarefa hercúlea que, na prática, tem gerado mais dores de cabeça do que soluções – especialmente para escolas sem estrutura física, técnica e administrativa para dar conta dessa missão.
Para que uma escola possa operar com segurança a própria merenda, seria necessário um investimento robusto em equipamentos e mobiliário – algo que, hoje, está longe da realidade orçamentária da maioria das unidades. Veja abaixo uma estimativa feita por especialistas consultados pelo blog, com base em valores praticados por empresas especializadas em alimentação coletiva:
1. Equipamentos de cozinha (preparo e armazenagem)
- Fogão industrial (6 bocas): R$ 20.000
- Forno industrial: R$ 25.000
- Liquidificadores industriais (2): R$ 16.000
- Panelas e assadeiras: R$ 10.000
- Freezers industriais (3): R$ 15.000
- Geladeira industrial: R$ 5.000
- Sistema de exaustão: R$ 20.000
Subtotal: R$ 111.000
2. Mobiliário e utensílios
- Mesas de inox: R$ 30.000
- Prateleiras industriais, bandejas, utensílios, armários etc.: R$ 20.000
Subtotal: R$ 50.000
Custo total estimado para montar uma cozinha básica: R$ 161 mil por escola.
Essa cifra não inclui manutenção, contratação de pessoal, formação continuada de merendeiras, nem sistemas de controle de qualidade. Em outras palavras, a autogestão exige um investimento inicial alto e uma capacidade gerencial que a imensa maioria das escolas simplesmente não possui.
No fim das contas, a autogestão acaba não sendo um bom negócio – nem para o Estado, nem para os pais e muito menos para os estudantes. Além de sobrecarregar a gestão escolar, pode gerar um impacto relevante no orçamento da educação estadual. Enquanto isso, pais de parte dos mais de 500 mil estudantes da rede estadual seguem preocupados com o que seus filhos estão comendo nas escolas. Vale lembrar que, para uma parcela da população, a merenda escolar – quando não é a única refeição do dia – é parte essencial da dieta dos alunos.
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