Por Iedo Ferraz*
O segundo fim de semana de julho, na época mais fria do ano na turística cidade, será marcado pelo III Encontro dos Ex-xepeiros da tradicional Casa do Estudante de Pernambuco, até hoje sediada no Derby, no Recife — apesar da ganância imobiliária. A CEP, como é conhecida, acolhe, abriga e protege jovens pobres do interior nordestino há 93 anos.
A CEP surgiu no início dos anos 1930, quando o Recife era o maior centro educacional formador de universitários do Nordeste. Naquela época, existiam os cursos de Direito, Medicina, Odontologia, Engenharia e outros de grande importância na formação acadêmica dos estudantes que sonhavam em conquistar um diploma.
Leia maisO Recife era famoso pelos cursos oferecidos. Com isto, vinha gente de toda parte do Brasil educar-se nesta importante cidade.
Vários escritores de outros estados brasileiros passaram pela cidade do Recife, seja para estudar ou para outros fins. Entre eles, destacam-se Ariano Suassuna, que, assim como Ruy Barbosa, estudou Direito na Universidade de Recife (atual UFPE), e Clarice Lispector, que frequentou o Ginásio Pernambucano e a Escola João Barbalho, também na cidade.
Mas, para os estudantes pobres do interior, estudar na capital pernambucana era apenas um sonho, tendo em vista que naquele tempo não existia alojamento ou repúblicas estudantis para pessoas carentes. Muitos universitários abandonaram, frustraram os estudos e voltaram para seu pequeno interior devido à falta de recursos financeiros.
Diante de todas as dificuldades encontradas, um grupo de estudantes do interior, movidos pelo espírito humanitário, coletivo e voluntário, resolveram fundar a Casa do Estudante Pobre de Pernambuco, em agosto de 1931. Durante nove décadas de história, esta segunda mãe deu total apoio para aqueles secundaristas e universitários que acreditaram e sonharam em ser alguém na vida por meio dos seus estudos.
Abrigo para carentes
Esta instituição pública coletiva serviu e ainda serve como ponto de abrigo para os estudantes carentes das cidades interioranas. Durante toda a sua existência, o inesquecível abrigo estudantil passou por momentos de turbulências, agitações e revoltas — quando os inimigos da educação quiseram fechar o nosso principal ponto de apoio.
Foi muita resistência, bravura e luta daqueles legítimos estudantes — que nunca se curvaram ou se acovardaram perante o regime opressor implantado naqueles tempos. Foi preciso muita união e força dos moradores externos e internos para que os carrascos opressores ouvissem o nosso grito de dor e revolta. Em certa ocasião de protesto, uma nuvem preta cobriu a cidade do Recife. Nesse dia, fechamos avenidas movimentadas e queimamos pneus para obstruir o trânsito infernal.
Colocamos mesas e panelões no meio das ruas, conseguimos carro de som para aumentar o calor do movimento, saimos também com faixas e camisas pretas simbolizando o luto e a luta dos oprimidos impiedosamente.
Hoje, quase todos os ex-sócios se encontram bem-sucedidos financeiramente e profissionalmente nesse imenso território nordestino. Aqueles que saíram daquele ambiente se encontram espalhados por diversos municípios sertanejos e outras regiões brasileiras. Todos os guerreiros estudantes que residiram nesse local sempre foram chamados de “xepeiros” — e com muito orgulho!
Depois de muito tempo que saímos da Casa, resolvemos realizar uma confraternização no sentido de reencontrar alguns contemporâneos xepeiros. Será um momento histórico de lazer, alegria e satisfação em poder reviver aqueles bons tempos vividos naquele ambiente coletivo. A festa ocorrerá no Restaurante e Bar Papo Pizza.
*Triunfense e ex-presidente da Casa do Estudante (WhatsAPP – (75) 99298-8323)
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