Por Raphael Guerra
Do JC
Nem mesmo a transferência para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, impediu o presidiário Osnir Cândido Urbano, o Osnir Cabeça, de continuar dando ordens para o tráfico de drogas e os homicídios em Pernambuco. Líder do Comando Litoral Sul (CLS), antigo Trem Bala, ele foi um dos alvos da operação Kéfale, deflagrada nesta terça-feira (15) para desarticular a facção que atua sobretudo na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul do Estado.
A operação é resultado de uma investigação conduzida há mais de dois anos pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Pernambuco (Ficco/PE). Ao todo foram cumpridos, até agora, 53 mandados de prisão preventiva – sendo 14 em presídios federais e estaduais -, além de 49 mandados de busca e apreensão. Sete alvos seguiam foragidos.
Leia maisOs mandados foram cumpridos em Pernambuco e mais 10 estados: Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, São Paulo, Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins e Rondônia.
O delegado federal Márcio Tenório, coordenador da Ficco/PE, explicou que a operação foi possível a partir da apreensão do celular do líder do grupo criminoso. Trocas de mensagens serviram de prova para identificar os integrantes e a forma como eles agiam no crime organizado.
Osnir foi capturado em 2023, em outra operação. “Ele continuou dando ordens ao grupo por meio de recados repassados durante as visitas familiares. A mulher dele, inclusive, passou a morar em Rondônia. Ele foi presa nesta operação”, afirmou Tenório.
Conhecidos pela extrema violência com que age com os rivais, a CLS é apadrinhada pelo Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, uma das maiores facções do País e que teve origem também no sistema prisional.
O laboratório de lavagem de dinheiro da Polícia Civil de Pernambuco identificou que o CLS movimentou mais de R$ 49 milhões em apenas três anos.
A facção tinha como base Porto de Galinhas, mas já atuava em vários municípios dos litorais Sul e Norte e na Região Metropolitana do Recife.
NÚCLEOS IDENTIFICADOS NA FAÇÃO CLS

“Existiam três núcleos. O primeiro era ligado ao tráfico de drogas, com criminosos cuidando da logística, transporte e venda. Há pessoas que foram presas nesta operação que estão em outros estados, mas atuavam nesse núcleo. O segundo é de segurança para o tráfico e para os integrantes do grupo. O terceiro núcleo é o da lavagem de dinheiro”, contou Márcio Tenório.
Segundo ele, empresas de fachada – nos ramos do transporte, alimentos, ensino e treinamento – eram criadas para a lavagem do dinheiro adquirido pelo tráfico de drogas. “Havia uma movimentação formal, com emissão de notas fiscais, para que o dinheiro circulasse.”
A cocaína e o crack comercializados pelo grupo criminoso chegavam ao País por meio das fronteiras, sobretudo da Bolívia.
MANDADOS CUMPRIDOS NO SISTEMA PRISIONAL
De acordo com o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, Paulo Paes, 14 mandados de prisão preventiva foram cumpridos no sistema prisional, dois deles nas unidades federais.
Em Pernambuco, também foram cumpridos mandados no Presídio de Tacaimbó, Presídio de Igarassu, Complexo Prisional do Curado (detento que antes estava na Penitenciária Barreto Campelo) e no Centro de Observação e Triagem (Cotel).
SECRETÁRIO PROMETE MAIOR PRESENÇA DA POLÍCIA EM PORTO DE GALINHAS
O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, declarou que ações estão sendo adotadas nas áreas onde a CLS atuava para evitar a ocupação por novos grupos criminosos.
“Sempre que há uma operação semelhante, nós imediatamente fazemos a saturação da área. Haverá uma maior presença da Polícia Militar, com acompanhamento para que outros grupos não tomem a área. O território de Porto de Galinhas tem uma demanda grande por drogas. Isso já é monitorado”, disse Carvalho.
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