Por Paulo Trajano da Silva*
O surgimento desse problema remonta a décadas, sem que tenha sido dada solução até a presente data. A abrangência da área atingida é muito vasta, compreendendo os municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri, Trindade, Exu, Granito, Moreilândia, Santa Cruz e Santa Filomena. A desertificação é consequência da “exploração intensiva e, na maioria das vezes, ilegal dos recursos florestais”, com práticas insustentáveis que resultam em degradação ambiental significativa.
A solução proposta: Uso do Combustível Derivado de Resíduos (CDR)
Para resolver essa questão, propõe-se a “substituição da lenha utilizada nas calcinadoras pelo Combustível Derivado de Resíduos (CDR)”, obtido a partir dos resíduos sólidos urbanos (RSU)da própria região. Atualmente, cerca de 280 toneladas diárias de resíduos são coletadas nesses municípios transportadas até o aterro sanitário de Salgueiro, localizado a uma média de 170 km de distância. Com a construção de uma Usina Recuperação Energética (URE) na própria região, será possível tratar esses resíduos localmente e utilizá-los na produção do CDR.
Benefícios para o Polo Gesseiro e a sustentabilidade da região
A substituição da lenha por CDR oferece múltiplas vantagens para o Polo Gesseiro e o meio ambiente:
Leia mais- Redução do desmatamento e da desertificação: A eliminação da dependência de lenha impede a degradação contínua da Caatinga, um bioma único e essencial para a população e para a biodiversidade local.
- Resolução de um problema regional: Atualmente, a lenha já é transportada de regiões distantes, como o estado do Piauí (a cerca de 400 km). A substituição pelo CDR eliminará essa necessidade.
- Preservação da infraestrutura existente: Não será necessário modificar os fornos das calcinadoras, bastando substituir a lenha por briquetes de CDR, que oferecem poder calorífico elevado (5.300 kcal/kg).
- Tratamento ambientalmente adequado dos resíduos: A URE aplicará a tecnologia de pirólise, que transforma resíduos sólidos em briquetes e energia elétrica, sem destinar material (rejeito) algum para aterros. A tecnologia de degradação de materiais pela pirólise é amplamente utilizada em várias partes do mundo. Diversos estudos foram e continuam sendo desenvolvidos para extrair todas as potencialidades que essa tecnologia pode oferecer. A Empresa de Pesquisas Energética (EPE), a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), universidades, instituições brasileiras e estrangeiras, juntas, estudam o potencial dessa tecnologia e, em parceria, estão buscando aplicabilidades de seus produtos para atender diversas demandas no Brasil e no mundo. O processo da URE é automatizado, aumentando a eficiência e reduzindo custos operacionais.
Impacto econômico e social
O projeto terá um impacto econômico significativo para toda a região. Entre os principais benefícios, estão:
- Redução de custos para as calcinadoras: O CDR será uma alternativa mais barata que a lenha, com economia estimada de 30% nos custos operacionais, permitindo maior competitividade com os produtos importados, tão reclamada pelos representantes do segmento.
- Economia para as Prefeituras: Com a implantação da URE, os municípios reduzirão os gastos com transporte e destinação de resíduos para o aterro de Salgueiro. Ganhará no recebimento de impostos inerentes ao tratamento e nos produtos comercializados oriundos do RSU.
- Geração de empregos e renda: A construção e operação da URE impulsionarão a economia local, criando “oportunidades de emprego direto e indireto”.
- Melhoria da saúde pública: Com a destinação adequada dos resíduos e a eliminação de lixões, haverá uma “redução significativa de problemas sanitários” e ambientais.
Contribuição para a descarbonização e o desenvolvimento sustentável
A implantação dessa solução promove a descarbonização da economia local, ao reduzir a emissão de gases de efeito estufa, evitando a queima de lenha e aproveitando resíduos urbanos de forma eficiente. Além disso, o projeto mitiga a desertificação, preservando o bioma da Caatinga e garantindo um desenvolvimento econômico sustentável para toda a região.
Assim sendo, a solução apresentada integra uma estratégia tecnológica e ambientalmente responsável, capaz de promover a sustentabilidade do polo gesseiro do Araripe. A substituição da lenha pelo CDR representa um avanço para a economia circular, ao mesmo tempo em que resolve problemas de desmatamento e gestão de resíduos. Com essa mudança, o Polo Gesseiro não apenas preservará o meio ambiente, como fortalecerá sua competitividade, mas também impulsionará o bem-estar social da população local, consolidando um modelo de desenvolvimento regional mais sustentável e próspero.
Sabe-se, no entanto, que existe uma proposição do governo do Estado de Pernambuco de levar o gás natural para o Araripe em forma líquida, vinda de São Paulo em carretas especiais, que, além dessa cara logística, se fará necessário a construção de duas estações de regaseificação e uma rede de gasoduto para transportar o gás até as calcinadoras, onde se daria o seu uso, sendo essa uma solução de custo muito elevado, que até o presente momento não foi divulgado. Além dessa enorme dificuldade, os fornos a lenha das calcinadoras precisariam ser modificados para fornos a gás, cujo custo não é baixo. Por sua vez, o custo da solução anteriormente apresentada não ultrapassará os 70 milhões de reais.
*Engenheiro e consultor em Energia da Universidade Livre do Meio Ambiente do Nordeste (Unieco)
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