Para o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (MDB), o atual Congresso Nacional precisa melhorar o nível dos debates. Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, ele evitou opinar sobre a célebre frase de seu ex-colega Ulysses Guimarães, que dizia que, se alguém achasse este o pior Congresso, que esperasse o próximo. Aldo ressaltou, no entanto, que, em seu período como parlamentar, havia “muitas divergências, mas com muito respeito”.
“Não vou julgar os deputados, vou julgar o debate como acontece. Fui deputado no período em que o debate econômico tinha a presença de Roberto Campos, Delfim Netto, Maria da Conceição Tavares, César Maia, Germano Rigotto e Francisco Dornelles. Ou seja, você tinha um debate econômico com muitas diferenças, muitas divergências, mas com muito respeito. O que eu vejo hoje é que não se consegue discutir cinco minutos no Congresso sem ameaça de agressão física, sem o nível do debate ser rebaixado até tornar-se quase insuportável. Eu acho que isso descredencia não apenas a Câmara dos Deputados, mas o poder político”, analisou.
Leia maisComo consequência desse “baixo nível”, Aldo apontou a postura do Supremo Tribunal Federal (STF) de “ultrapassar todos os limites”. “Ele faz isso porque vê a política perdendo credibilidade junto à população, já que não se discute em nível elevado, não se tratam dos temas de interesse da população. É cada um com o celular querendo três minutos para publicar numa rede social. É preciso recuperar o trabalho das comissões, o debate, os temas. Hoje as pessoas não querem debater, querem uma promoção rápida, uma visibilidade nas redes sociais. Isso só reduz a autoridade da política e eleva a autoridade daqueles que disputam com a política o destino humano”, observou Aldo.
“Se a política renuncia a discutir o destino da sociedade, ela entrega a uma corporação, que é o Judiciário, principalmente ao STF, essa atribuição. E o Supremo não está preparado para isso, porque não é poder político, não está interessado em ouvir ninguém, em fazer audiência pública. São onze pessoas, que deveriam estar decidindo aquilo que é constitucional ou não. Mas o Supremo entrou na política e ganhou muita autoridade em função da perda de prestígio da própria política”, completou.
Ele ainda lembrou um atrito recente em audiência com o ministro Alexandre de Moraes, em que foi ameaçado de receber uma ordem de prisão. Segundo Aldo, ele não teve receio de que o ministro agisse dessa forma. “Não tive receio, assim como não tive quando era oposição e fazia passeata contra o governo militar. Eu estava fazendo uma interpretação da língua portuguesa, houve uma certa provocação (por parte do ministro), e eu disse que não ia admitir censura. Dizer isso não caracteriza uma afronta ao Supremo, mas é o país que temos hoje. Então, você tem que recolocar em outro padrão a relação entre os poderes, porque, senão, isso não vai terminar bem”, observou Aldo.
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