A reformulação da identidade visual de veículos oficiais, anunciada ontem, reacende críticas por supostamente vincular o principal símbolo de Pernambuco à cor de campanha da governadora Raquel Lyra – mudança que ocorre às vésperas do ano eleitoral.
O Governo de Pernambuco apresentou uma nova identidade visual para a administração estadual que altera, de maneira inédita, a representação cromática da bandeira pernambucana. O tradicional azul celeste – tonalidade carregada de simbolismo histórico, associada ao céu do estado e ao legado revolucionário da flâmula de 1817 – foi substituído por um roxo vibrante, a mesma cor utilizada por Raquel Lyra durante sua campanha ao Executivo e em sua comunicação institucional.
Leia maisApresentada pelo Palácio do Campo das Princesas como uma mera “modernização estética”, a mudança provocou reação imediata de especialistas e parlamentares que apontam possível desvio de finalidade e uso eleitoral da máquina pública. Afinal, a bandeira é um símbolo constitucionalmente protegido e, portanto, seu manejo exige rigor e impessoalidade – princípios que, segundo críticos, teriam sido ultrapassados no afã de reforçar a marca pessoal da governadora.
A decisão ocorre a menos de dez meses do pleito estadual de 2026 e foi rapidamente interpretada como uma estratégia de marketing político. O roxo consolidou-se como cor-assinatura de Raquel Lyra desde suas campanhas à prefeitura de Caruaru e se tornou marca registrada de sua candidatura em 2022. Ao tingir equipamentos e materiais oficiais com essa tonalidade, o governo quer criar uma associação visual – e emocional – entre o estado e a figura da mandatária, ampliando sua presença simbólica no cotidiano do eleitorado. Para adversários, trata-se de uma tentativa sutil, porém calculada, de capitalizar politicamente a partir de um símbolo público.
Nos bastidores, a movimentação é vista como reflexo da crescente inquietação no núcleo governista diante de pesquisas recentes que indicam desgaste da gestão e índices elevados de rejeição. Levantamentos divulgados pela imprensa mostram a governadora estagnada e atrás de potenciais adversários, como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que aparece em vantagem confortável nos cenários estimulados. Tanto que atribuiu-se ao governo a divulgação de uma pesquisa feita por meio do Instagram e disparada em grupos de WhatsApp para tentar criar um falso crescimento dos números pré-eleitorais de Raquel. O levantamento rapidamente virou uma piada no meio político.
Com críticas acumuladas em áreas sensíveis – como educação e saúde –, a chamada “roxificação” da bandeira tem sido interpretada não como gesto de inovação estética, mas como tentativa de reposicionamento político em um momento crítico. Para muitos, o movimento sugere mais desespero estratégico do que renovação administrativa, abrindo margem para contestação jurídica e para um debate mais profundo sobre os limites entre comunicação institucional e promoção pessoal no exercício do poder público.
Leia menos

















