Ambas já usavam técnicas para tornar os ambientes agradáveis e saudáveis para os trabalhadores, dentro das normas especificadas, mas tiveram de ver tudo mudar depois da pandemia, quando passaram a perceber que os cuidados precisariam ser mais detalhados levando em conta não apenas questões como sustentabilidade como a quantidade de partículas soltas no ar (que podem se infiltrar no pulmão das pessoas) e até mesmo o impacto de produtos químicos numa sala. Desde os que são usados na limpeza do chão e dos móveis a, até mesmo, o tipo de perfume.
Cases de sucesso
Hoje, as duas gestoras possuem trabalhos considerados exitosos na área e mostram como conseguiram melhorar o que já faziam anteriormente com muito cuidado e atenção, mas que precisou ser revisto e ampliado. E trabalham com sistemas de sensoriamento remoto do ar em tempo real, como forma de prevenir qualquer problema que possa prejudicar a saúde.
No caso de Marusia, ela contou que tanto no escritório da Lenovo existente em São Paulo como na fábrica da empresa, localizada em Indaiatuba (SP), era feita análise biológica do ar duas vezes ao ano, assim como limpeza constante dos dutos e toda a parte preventiva do sistema de ar-condicionado como um todo. Também faziam a troca de filtros de alta absorção do tipo Meruv.
Análise de impactos
Mas depois da pandemia, eles resolveram aumentar o nível dos filtros usados nos aparelhos de ar-condicionado. Até que, recentemente, a Lenovo contratou um sensoriamento de qualidade do ar interior. “Passamos a monitorar internamente alguns fatores como o nível do CO2 que temos na empresa. Porque a falta de CO2 leva as pessoas a terem menor concentração e até mesmo a passar mal”, explicou.
Marusia relatou que o sensoriamento também atua em relação aos produtos químicos, para saber se o material de limpeza não está interferindo na qualidade do ar das pessoas, assim como o perfume usado no ambiente ou vernizes e tintas usados no mobiliário e nas paredes. “Há também a questão do monitoramento do material particulado, como o pó, que fica suspenso no ar e pode ser inalado pelas pessoas, indo parar no seu pulmão”, acrescentou.
Ações constantes
Segundo a gerente, “o que melhora a qualidade do ar são as ações constantes. O monitoramento é um termômetro, pois temos de ter uma limpeza eficiente dos carpetes, cadeiras, persianas”, destacou. “Hoje só limpamos carpetes, por exemplo, com análise microbiológica. Além disso, passamos a contar com um novo parceiro que reduz a quantidade de água em 96% nesse tipo de limpeza e a emissão de CO2 em 99%. Isso impacta muito na qualidade do ar. E leva a prédios saudáveis”, contou.
Instalações aptas para trabalhadores
Experiência igualmente bem-sucedida é relatada pela gestora de Facilities da Shel Brasil, Ana Cláudia Machado da Shell. Ela informou que, após a pandemia, começou a pensar mais em termos de monitoramento de sistemas e de sustentabilidade, para que os espaços funcionem de maneira adequada e para que os trabalhadores tenham instalações aptas para o desenvolvimento de suas atividades.
Foi a partir da pandemia que Ana Cláudia começou a verificar a questão do sensoriamento para monitorar a qualidade do ar. “Fui entender quais eram os parâmetros e comecei a perceber a importância de termos uma informação em tempo real sobre o ar dos escritórios, de modo a não ficarmos restritos apenas a uma medição feita por todo o prédio”, relatou.
De acordo com Ana Cláudia, a Shell Brasil passou a olhar o próprio pessoal da equipe de manutenção, verificar se os equipamentos usados por essa equipe estavam sendo usados de forma adequada, se não precisavam ser trocados e toda uma mudança foi feita. Como resultado, hoje a qualidade do ar de todos os escritórios da Shell Brasil é monitorada 100% em tempo real.
“Eu consigo intervir antes de vir a reclamação do usuário. Consigo fazer com que o ar que ele respire seja melhor do que o ar que respira em sua casa e na rua”, informou a gestora, em tom satisfeito.
Atuação da Abrava para reduzir problema
Para os representantes da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), principal entidade representativa do setor no Brasil, a preocupação com a qualidade do ar tem de ser enfrentada pelas empresas e pela população como um todo. A entidade divulgou entrevista recente do empresário Bill Gates, segundo a qual o clima excessivamente quente causa atualmente cerca de 500 mil mortes por ano no mundo, enquanto o frio excessivo mata quase 10 vezes mais pessoas e que ambos os números têm diminuído à medida que mais pessoas ganham acesso a aquecimento e ar-condicionado.
Recentemente, a Abrava divulgou um documento manifestando sua posição e apoio institucional total à COP 30. E apresentou sugestões de contribuições do setor produtivo à consolidação da chamada Agenda de Ação da Conferência, com base em ações concretas para reduzir o aquecimento do planeta.
Com papel ativo em discussões sobre eficiência energética, qualidade do ar de interiores e regulamentações do setor, a entidade afirma, no documento, que reconhece o Protocolo de Montreal como “o tratado ambiental multilateral mais eficaz já firmado, cujos avanços na proteção da camada de ozônio e redução de gases de efeito estufa seguem, também, relevantes para as metas do Acordo de Paris”.
Plano nacional
Dentre as propostas apresentadas como contribuições do setor para a agenda climática, a Abrava destaca a elaboração e implementação de um Plano Nacional de Resfriamento do planeta e o fortalecimento dos códigos nacionais de energia (uma vez que a climatização responde por grande parte do consumo energético em edificações).
Além disso, a entidade pretende trabalhar para redução de emissões de gases de efeito estufa em 68% até 2050, aumento da eficiência de novos equipamentos em 50% até 2030, no fortalecimento das políticas e orientações de compras públicas, para que sejam feitas de forma mais sustentável, e ampliação de investimentos e parcerias para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de climatização, dentre outras questões.
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