Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
No início da tarde de terça-feira (18), quando sequer havia segurança se a Câmara conseguiria votar ou não o PL Antifacção, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), foi à tribuna e comunicou que escolhera o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) o relator do projeto quando ele chegar aos senadores.
A rapidez da escolha era uma clara sinalização combinada com o governo: qualquer tentativa de reduzir o papel da Polícia Federal (PF) no combate ao crime organizada seria depois rechaçada no Senado. O Correio Político conversou com Alessandro Vieira logo após a indicação. “Compreendemos os interesses dos estados, mas não vamos permitir que se diminua a atuação da mais importante força policial do país”.
Leia maisFica claro que as tentativas de redução do papel da PF eram o ponto frágil nas cinco diferentes versões do relatório feito pelo deputado Guilherme Derrite (PL-SP). No Congresso, o ponto era explorado enquanto se desenrolava a operação sobre o banco Master.
O deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), ex-governador do DF, por exemplo, explorou em discurso o fato de a operação chamuscar o atual governador Ibaneis Rocha (MDB), que ontem afastou o presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa.
“Esse talvez seja o maior escândalo da história do Brasil”, disse Rodrigo Rollemberg. “Master e BRB tentaram desviar mais de R$ 12,2 bilhões, de acordo com a investigação da Polícia Federal. Já não se contentam em desviar milhões”. Recentemente, outra operação da Polícia Federal, a Carbono Oculto, revelou ligações do Primeiro Comando da Capital (PCC) com fintechs instaladas no centro do mercado financeiro do país, a Faria Lima. “Não é coincidência que no mês que antecedeu tudo isso a Câmara tenha tentado votar a PEC da Blindagem”, afirmou. O deputado, então, associou a tentativa fracassada da PEC aos ensaios de Derrite.
No início da tarde, o ponto que ainda gerava polêmica no quinto relatório de Derrite era o financiamento das operações policiais, com a possibilidade de divisão de recursos apreendidos em operações entre o Fundo Nacional de Segurança Pública e fundos estaduais.
“Já começamos a dialogar com Derrite, com os governadores e o governo federal”, revelou Alessandro Vieira. “Entendemos a posição dos governadores em ter fontes de financiamento, mas não permitiremos que a principal força policial do país fique descapitalizada”.
O senador informou, então, que seu primeiro trabalho, caso o projeto viesse a ser aprovado na Câmara com a divisão dos recursos entre o fundo nacional e os estaduais seria avaliar o impacto financeiro que isso poderia produzir para a PF e para as suas operações.
À noite, porém, comentava-se que o governo poderia ter cometido um erro de estratégia. Derrotado na tentativa de votar o projeto original do governo, não deveria, talvez, ter ficado contra o projeto de Derrite. Poderá ficar com a pecha de ter ficado do lado do crime.
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