Por Carlos Madeiro
Do UOL
Na carteira de identidade expedida há 28 anos, a alagoana Joana do Espírito Santo tem data de nascimento registrada de 2 de fevereiro de 1909. Aos 116 anos, ela pode ser a pessoa mais velha do mundo.
Joana mora em uma casa simples em Rio Largo, município da Grande Maceió, e teve 21 filhos. Aposentada com um salário mínimo, ela não sabe ler ou escrever e vive com a filha e o genro, que tomam conta dela.

Mais velha que a mais velha…
Segundo a entidade LongeviQuest, que tem o maior banco de dados sobre a vida dos mais idosos no mundo, o caso certificado de pessoa viva mais velha do mundo é o da inglesa Ethel Caterham. Ela nasceu em 21 de agosto de 1909, ou quase seis meses depois da data que consta nos documentos de Joana.
Já no Brasil, a pessoa reconhecida como mais velha é Izabel Rosa Pereira, de 114 anos, que nasceu na pequena Caputira (MG). Sua idade foi certificada pelo site em 26 de outubro de 2024; pela lista atualizada, ela é a quarta pessoa mais velha do mundo.
Em novembro do ano passado, o cearense João Marinho Neto, morador de um abrigo no município de Apuiarés (CE), foi apontado pela mesma entidade como o homem mais velho do mundo, com 112 anos.
O caso de Joana, porém, deve não ser reconhecido por questões burocráticas. O registro de nascimento da aposentada foi perdido nas enchentes que devastaram Alagoas em 2010. Joana não só teve a casa destruída, como uma das vítimas da tragédia foi o cartório do município de Murici, onde estava o seu registro. Os livros que guardavam os dados foram levados pelo rio Mundaú.
A prefeitura de Rio Largo tentou resgatar a documentação de Joana, a pedido da família, mas não foi possível, e por isso decidiu não seguir com um pedido oficial de reconhecimento de pessoa mais velha do mundo.
Mesmo assim, Joana mostrou documentos anteriores a 2010, além da sua identidade, que apontam a data de nascimento dela como as carteiras de Trabalho e de filiação ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Murici. “Eu trabalhava cortando cana, foram muitos anos nisso”, conta Joana ao receber a visita da reportagem do UOL no último dia 1º.
Rotina de acordar meio-dia
Sentada no sofá vermelho da sala, ela conta que é viúva “há uns 40 anos”. “Ainda sinto saudades dele. Era um bom dono de casa”, afirma, citando que sua festa de casamento (não lembra a data) durou três dias.
Com a idade, a memória de Joana já falha algumas vezes. Mas ela lembra e conta fatos marcantes. Um deles foi o episódio do bando do cangaceiro Lampião (que foi morto em 28 de julho de 1938), que invadiu a cidade de Delmiro Gouveia (AL), onde morava quando criança. “Fiquei debaixo da cama, com medo”, lembra. “Também já dancei em uma festa com Luiz Gonzaga”, garante.
Joana gosta de dormir, acorda normalmente perto do meio-dia. Explica que os remédios que toma a deixam com sono. Católica, ela diz que tem como um dos principais passatempo cantar, além de rezar rosários.
Ela afirma que não tem receita para explicar a longevidade. “Só Deus sabe dizer”, cita igualmente ao responder duas perguntas: o que a fez viver tanto e quanto tempo acha que ainda pode viver.

Ela recebeu a reportagem do UOL após ser “ajeitada” pela filha Maria de Lourdes, 60, que mora com ela. “Ela gosta de dormir tarde, fica cantando na madrugada”, diz.
Lourdes cita que Joana tem cerca de 50 netos e incontáveis bisnetos. Ela conta ainda que foi uma surpresa recente saber que a mãe pode ser a pessoa mais velha do mundo e espera comemorar em 2026 com uma festa. “Vamos fazer uma grande festa de 117 anos no ano que vem, e vamos convidar todo mundo. Você vem, né?”, diz, convidando esse repórter.
Saúde em dia
Joana é acompanhada em visitas semanais todas às terças pela equipe do programa municipal Melhor em Casa. Ela recebe também remédios e fraldas.
Segundo a enfermeira Marta Luna, que acompanha a idosa, Joana é uma paciente lúcida e muito saudável para a idade que tem. “Ela conversa normalmente, apresenta saúde estável”, diz, citando que a maior preocupação é que ela é hipertensa — toma remédios por isso.
“Ela ama as visitas da nossa equipe e costuma interagir e manter o bom humor. Sua filha Maria cuida dela com zelo e amor e mantém os profissionais da saúde informados sobre as eventualidades”, relata.
Na visita da terça-feira (9), o médico Bruno Eduardo encaminhou ela para uma consulta com o dermatologista. “Mas ela tem sinais vitais e exames laboratoriais bons. Ela também está tendo atendimento com a fisioterapia no domicílio”, ressalta.
