A voz rouca das ruas
A única coisa que mete medo em político é o povo na rua, disse o sábio Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas. Nada mais atual para contextualizar a postura do Senado frente à PEC da Blindagem depois das manifestações de ruas no último fim de semana. No Rio e São Paulo, mais de 80 mil pessoas foram vistas em manifestações. Recife também fez um grande ato pelo centro da cidade.
Os protestos contra a já batizada PEC da Bandidagem, que transforma os parlamentares brasileiros em semideuses, intocáveis, protegidos de qualquer tipo de investigação, contaram com a participação de artistas e tiveram como principais alvos parlamentares do Centrão e aliados do ex-presidente Bolsonaro (PL), que articulam também a aprovação da anistia para os envolvidos nos atos golpistas de janeiro de 2023.
Leia maisNo Senado, onde a PEC começa a tramitar hoje, depois de aprovada na Câmara, o relator e o presidente do colegiado que analisará a proposta afirmam que o texto deve ser derrotado já na sessão de amanhã na Comissão de Constituição e Justiça. “Ela já sai da comissão derrotada”, antecipa o senador Alexandro Vieira (MDB-SE), relator da matéria na CCJ.
A repercussão negativa da PEC da Bandidagem levou deputados federais de partidos de esquerda, como PT e PSB, e de centro, como o União Brasil, a publicarem vídeos nas redes sociais pedindo desculpas por terem votado a favor da proposta. Foram 344 votos favoráveis e 133 contrários. No dia seguinte, a Câmara aprovou um pedido de urgência para análise do projeto de lei da anistia, com 311 votos favoráveis.
A articulação fez com que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se tornasse um dos principais alvos das manifestações de rua. Na Paraíba, seu Estado, manifestantes entoaram gritos de “Fora, Motta”. O volume de manifestantes também aprofundou a preocupação na Câmara com a análise do projeto de anistia, que chegou a ser rebatizado como “PL da Dosimetria” por parlamentares do Centrão, numa sinalização de que o texto se concentraria na redução de penas, e não mais no perdão aos crimes.
REAÇÃO DE LULA – Pelas redes sociais, o presidente Lula, que se encontra nos Estados Unidos, afirmou que as manifestações de rua foram uma demonstração de que a população não quer impunidade nem tampouco anistia e de que o Congresso deve se concentrar em medidas que tragam benefícios concretos às pessoas. A análise do texto da blindagem está marcada para começar amanhã no Senado, com a leitura do relatório do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) na Comissão de Constituição e Justiça – CCJ.

Recife mostra força – No Recife, os manifestantes se concentraram em frente ao Ginásio Pernambucano e de lá saíram em caminhada, passando pela rua João Lira, Parque 13 de Maio e Ponte Princesa Isabel, culminando no Marco Zero, no Recife Antigo. Foi um grande ato, que contou com atrações da cultura popular em dois trios elétricos. O protesto foi organizado pela União dos Estudantes de Pernambuco, com apoio das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. Segundo os organizadores, 50 mil pessoas estiveram presentes.
Pacto com o diabo – “É um rechaço total à PEC da Blindagem, como tem sido dito, que prevê esse absurdo para parlamentares que cometerem crimes ficarem protegidos de qualquer investigação. Trata-se de um pacto do antirrepublicano Centrão com o setor antidemocrático da extrema direita, para impor uma série de retrocessos. Já a anistia, ainda que seja para reduzir penas, não deixa igualmente de ser outro grande absurdo”, avalia o presidente da União dos Estudantes de Pernambuco, João Mamede, que esteve à frente do ato.
Corda no pescoço – Um dado alarmante: a inadimplência entre as famílias no Recife atingiu em agosto o patamar de 80%, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio). São mais de 420 mil famílias endividadas. O vilão, segundo o mesmo levantamento, tem sido os cartões de crédito. Entre os entrevistados, 92% fizeram referência a esta forma de comprometer a renda mensal. Depois do cartão de crédito vem os boletos bancários e carnês.

Raquel descarta ilegalidade em contrato – A governadora Raquel Lyra (PSD) comemorou, ontem, a decisão da justiça de anular a prorrogação da instalação da CPI da Publicidade. “O contrato de publicidade, objeto de toda essa discussão, já tem relatório, inclusive do Tribunal de Contas do Estado, de 81 páginas, indicando ser um contrato correto. A decisão judicial vem apenas referendar no que diz respeito à forma como foi feito”, disse, após participar de um evento sobre a mudança no visual de apresentação do Porto de Suape.
CURTAS
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS – Enquanto o hospital da família da vice-governadora Priscila Krause (PSD) em Garanhuns recebe seus repasses em dia, os hospitais regionais estão suspendendo cirurgias marcadas porque os médicos não suportam mais trabalhar sem receber salários. Já são quatro meses de atraso. O caso mais preocupante é o do hospital Fernando Bezerra Coelho, em Ouricuri.
CALOTE – Já os donos de hospitais conveniados ao Sassepe reclamam que não veem a cor do dinheiro do Estado há mais de seis meses. E ninguém pode sequer dar um pio. Do contrário, a perseguição passa a ser implacável. Pior para os dependentes do Sassepe, que não podem pagar uma consulta médica nem recorrer a hospitais não conveniados.
PODCAST – O ministro da Pesca, André de Paula, estará, hoje, no meu podcast Direto de Brasília, em parceria com a Folha de Pernambuco, com transmissão para 165 emissoras no Nordeste. Na pauta, os efeitos do tarifaço americano nas exportações do pescado brasileiro.
Perguntar não ofende: Por que Janja vai mais ao exterior do que o próprio Lula?
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