O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a possibilidade de sair do governo para colaborar com a campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Em entrevista ao GLOBO, o chefe da equipe econômica contou que conversou recentemente com o presidente sobre o plano de deixar a pasta para ter uma atuação mais ativa na disputa eleitoral no próximo ano.
— Eu tenho a intenção de colaborar com a campanha do presidente Lula, e disse isso a ele, que eu não pretendo ser candidato em 2026, mas quero dar uma contribuição para pensar o programa de governo, para pensar como estruturar a campanha dele — afirma o ministro da Fazenda.
Leia maisO presidente, segundo Haddad, deu uma resposta “muito amigável” e sinalizou que concorda com os planos do chefe da equipe econômica.
— A reação dele foi muito amigável. Ele falou: “Haddad, você vai colaborar da maneira que você preferir. E qualquer decisão que você tome eu vou respeitar. Mas vamos conversar” — diz Haddad, em referência à conversa com Lula.
O ministro da Fazenda afirma ainda que a situação dos Correios inspira mais cuidados, porque precisa de uma “reinvenção” para reverter o rombo financeiro sem precedentes em seu caixa. Segundo ele, os serviços postais no Brasil, diante da concorrência privada, precisarão encontrar novos segmentos de negócios, agregando parcerias.
— Em geral, um banco, uma Caixa Econômica pode fazer uma parceria com os Correios para ter capilaridade em relação aos serviços que ela própria presta. E ela pode fazer isso em comum acordo com os Correios, com instalações comuns. É assim que está sendo feito no mundo — diz Haddad.
O senhor pretende deixar o ministério da Fazenda para ajudar na campanha de reeleição do Lula?
Eu falei com o presidente pela primeira vez sobre o tema de 2026. E eu tenho a intenção de colaborar com a campanha do presidente Lula, e disse isso a ele, que eu não pretendo ser candidato em 2026, mas quero dar uma contribuição para pensar o programa de governo, para pensar como estruturar a campanha dele. Me coloquei à disposição para isso.
Já acertaram uma data para a sua saída?
Não falamos de data.
O presidente sinalizou positivamente para esse plano?
Ele ouviu. Falou menos do que eu. Mas eu dei o quadro do que eu estou empenhado a fazer, como pretendo colaborar. Mas a reação dele foi muito amigável. Ele falou: “Haddad, você vai colaborar da maneira que você preferir. E qualquer decisão que você tome eu vou respeitar. Mas vamos conversar.”
Então, ficou definido mesmo que o senhor vai sair da Fazenda?
Pode ser que sim. É uma possibilidade.
O senhor coordenará a campanha à reeleição de Lula?
Eu não quero coordenar nada. Eu quero me colocar à disposição da campanha. Posso ajudar no plano de governo. Não estou pedindo posição. Vou servir ao que for designado. Sou um servidor público. Está tudo bem para mim.
O PT insiste em lançar seu nome para São Paulo, seja para o governo ou para o Senado, dependendo da configuração política do palanque de quem vai estar do outro lado concorrendo. O senhor vê sentido nessa estratégia do partido para 2026?
Eu acho natural que o nome seja cogitado, mas eu já informei ao presidente do PT mais de uma vez. Ajudo no que posso. Mas as pessoas estão informadas. Não estou fazendo segredo. Faz bastante tempo que eu tenho dito isso. Passei por três eleições muito difíceis, no pior momento do partido.
Mas se o Lula pedir a sua ajuda em São Paulo?
Eu tenho uma relação de muita longa data com o presidente. A gente se conhece bem. Não vamos inventar um problema que não existe.
Caso o presidente seja reeleito, o senhor se vê por mais quatro anos na Fazenda ou aceitaria encarar outro desafio no Planalto?
Nunca penso nisso. Gostaria que tivesse um ano tranquilo no ano que vem, para ter uma eleição de bom nível. Eu não raciocino desse jeito. Eu nunca pedi um cargo na minha vida. Eu fui convidado. Eu pretendo me manter assim.
Com a sua possível saída, o secretário-executivo, Dario Durigan, deve assumir a Fazenda?
Eu não conversei ainda sobre isso. O que eu disse para ele é que eu gostaria de colaborar (com a campanha), e não como candidato.
O senhor sempre foi apontado como o nome favorito para suceder o presidente. Mas, ao longo do governo, foram sendo especuladas outras opções também. O senhor acha que hoje, no PT, há uma dificuldade para ter um herdeiro político do legado do presidente Lula?
Em um partido como o PT, fundado em 1980, tem 45 anos, o excepcional é não ter nomes nacionais. Não ter muitos nomes nacionais é uma coisa que deveria chamar a atenção. Porque nós governamos vários estados, de norte a sul do país. Então, tem que ter muito nome. É um partido que tem construído várias políticas públicas, respeitadas no mundo inteiro. É natural que tenha muitos nomes. O estranho seria ter um só. Eu gosto do Camilo Santana (ministro da Educação). Gosto do Rafael Fonteles (governador do Piauí), que é um quadro extraordinário do PT. Pediu-se muito para o Jaques Wagner ser candidato em 2018, mas ele declinou. O PT tem muitos nomes. E, em cinco anos, vão aparecer outros nomes ainda, se Deus quiser.
De olho em 2026, o governo Lula vem ampliando as críticas à Faria Lima e a algumas ações do Congresso. Essa retórica eleitoral, reforçando o lema do “nós contra eles”, tem ampliado a polarização. Isso não vai contra o discurso do presidente no início do governo a favor da unificação do país?
Acredito que não. O presidente Lula se deu muito bem com o deputado Arthur Lira (ex-presidente da Câmara) e com o senador Rodrigo Pacheco (ex-presidente do Senado). Foram dois anos muito produtivos do ponto de vista legislativo. Os elogios ao Congresso Nacional eram diários porque a agenda econômica andou bem. Conseguimos imprimir um ritmo de aprovação de projetos estruturais. Em maio deste ano, essa agenda deu uma parada porque, na minha opinião, a oposição, diante do sucesso econômico do governo, começou a tentar travar a agenda econômica para criar condições de disputar eleição de forma mais favorável. O que também é da regra do jogo, mas assim, vamos combinar que colocar o país em segundo lugar não é uma prática muito saudável. Então, desse momento em diante, penso estarmos tentando recuperar um padrão de relacionamento institucional condizente com as necessidades que o país tem.
Mas como isso afeta o governo?
A produtividade está menor e isso angustia o Executivo, que tem quatro anos para entregar. Então, se a pauta fica um pouco travada pela ação da oposição, inclusive com uma agenda que nem sempre é aquela que o país espera, isso vai criando esse tipo de dificuldade. Em relação à Faria Lima, o esforço que o governo está fazendo para colocar a ordem na casa é enorme. Penso que essa má vontade também de pinçar elementos para compor uma narrativa fantasiosa sobre o resultado final do governo também causa um pouco de apreensão, e isso tem a ver com a proximidade das eleições. Porque nos dois primeiros anos, nós estávamos vivendo mesmo com a Faria Lima (uma boa relação). É uma agenda mais tensa, porque eles têm uma visão de ajuste fiscal que é diferente do nosso.
Por trás da insatisfação do Congresso com o governo está o atraso no pagamento de emendas?
Tem um pouco de demora. Há duas razões. A primeira é que o Orçamento só foi aprovado em abril deste ano. A segunda é que, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), uma série de procedimentos burocráticos, em bom sentido, de maior transparência, maior controle, foram adotados. Isso tudo demanda trabalho das áreas técnicas e não podemos contornar.
O controle pelo Congresso de uma fatia expressiva do orçamento também acaba tensionando a relação com o governo?
Dificulta um pouco. É natural o Congresso querer participar do Orçamento. Mas quando começa a engessar demais e travar a possibilidade de remanejamento, vai ficando mais difícil governar. Estamos em uma situação em que precisamos delimitar melhor as competências, encontrar um caminho para restabelecer essa divisão de poderes de forma mais clara.
Essa necessidade de restabelecer o equilíbrio da relação entre os Poderes também se aplica ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que demonstrou insatisfação com o governo Lula por não ter travado o processo de indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o STF?
Eu me dou muito bem com os dois presidentes, tanto com o presidente Davi quanto com o presidente Hugo. Às vezes, você fica uma semana sem se falar, manda emissário. Vai daqui e vai dali, mas se restabelece a relação. Porque não há, definitivamente, nada ofensivo que não seja superado. Divergência vai haver, mas no caso da indicação de um ministro do Supremo, é uma prerrogativa do presidente da República. O chefe do executivo faz a indicação, o Senado sabatina, aprova ou não. Não vejo como um bom caminho a gente politizar a indicação para as cortes superiores. Eu penso que nós temos uma regra constitucional bem estabelecida. Pode ficar contrariado (com a indicação). É normal da democracia. ‘Poxa, eu fiz uma indicação, o presidente não aceitou a minha indicação, aceitou outra indicação’. Ok, tudo bem, é o sentimento das pessoas. Mas isso não pode se traduzir em um problema institucional. É a coisa mais natural do mundo escolher o advogado-geral da União.
Tem um pouco de demora. Há duas razões. A primeira é que o Orçamento só foi aprovado em abril deste ano. A segunda é que, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), uma série de procedimentos burocráticos, em bom sentido, de maior transparência, maior controle, foram adotados. Isso tudo demanda trabalho das áreas técnicas e não podemos contornar.
O controle pelo Congresso de uma fatia expressiva do orçamento também acaba tensionando a relação com o governo?
Dificulta um pouco. É natural o Congresso querer participar do Orçamento. Mas quando começa a engessar demais e travar a possibilidade de remanejamento, vai ficando mais difícil governar. Estamos em uma situação em que precisamos delimitar melhor as competências, encontrar um caminho para restabelecer essa divisão de poderes de forma mais clara.
Essa necessidade de restabelecer o equilíbrio da relação entre os Poderes também se aplica ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que demonstrou insatisfação com o governo Lula por não ter travado o processo de indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o STF?
Eu me dou muito bem com os dois presidentes, tanto com o presidente Davi quanto com o presidente Hugo. Às vezes, você fica uma semana sem se falar, manda emissário. Vai daqui e vai dali, mas se restabelece a relação. Porque não há, definitivamente, nada ofensivo que não seja superado. Divergência vai haver, mas no caso da indicação de um ministro do Supremo, é uma prerrogativa do presidente da República. O chefe do executivo faz a indicação, o Senado sabatina, aprova ou não. Não vejo como um bom caminho a gente politizar a indicação para as cortes superiores. Eu penso que nós temos uma regra constitucional bem estabelecida. Pode ficar contrariado (com a indicação). É normal da democracia. ‘Poxa, eu fiz uma indicação, o presidente não aceitou a minha indicação, aceitou outra indicação’. Ok, tudo bem, é o sentimento das pessoas. Mas isso não pode se traduzir em um problema institucional. É a coisa mais natural do mundo escolher o advogado-geral da União.
O presidente da Câmara, Hugo Motta tenta se equilibrar entre demandas do governo e da oposição, mas tem gerado mais frustrações ao Planalto. Recentemente, quando criticado sobre a condução do projeto da lei Antifacção, ele disse que o governo estava criando falsas narrativas. O que deu errado na relação com Motta?
Penso que o Congresso foi muito parceiro. Eu sempre digo isso. ‘Ah, mas não saiu do jeito que a Fazenda queria’. Mas não é assim que funciona a democracia. Até aqui a nossa relação tem sido muito republicana. Agora, tem questões que dialogam mais com o imaginário, mas têm pouca repercussão prática. E aí nesse campo, sobretudo no segundo semestre, nós tivemos alguns percalços e divergências. Mas são divergências porque a sociedade compreende que cada lado tem um ponto de vista. Tem a questão da oposição ao governo, mas às vezes tem uma visão do Senado, às vezes tem uma visão um pouco diferente da Câmara, ou vice-versa. Nós temos que aproveitar isso.
As exceções às regras fiscais têm ganhado escala nos últimos meses e atingiram R$ 170 bilhões até o fim de 2026, corroendo a credibilidade da política fiscal do governo. Como manter a confiança no arcabouço fiscal e deter o crescimento da dívida pública com essa sequência de gastos fora das regras?
A despesa extraordinária do Rio Grande do Sul e do Plano Brasil Soberano não vai se repetir, não é estrutural. O governo Lula não ia faltar com o Rio Grande do Sul. No Brasil Soberano, que é um valor bem menor, a oposição foi aos Estados Unidos pedir sanção contra o Brasil. Agora, com o vale gás e Pé-de-Meia. O que a Fazenda fez? Botou orçamento. Era uma crítica que eu considerei justa, inclusive porque a própria recomendação veio do Tribunal de Contas da União (TCU). E eu falei: “Vamos colocar dentro do orçamento, porque são despesas recorrentes”.
E o fato de R$ 5 bilhões destinados à defesa nacional ter ficado fora da meta fiscal?
Eu fui ao Ministério da Defesa negociar a reforma da previdência dos militares. Mandamos o PL para o Congresso Nacional e não está nem na PEC da reforma administrativa. Está lá sobre os supersalários, que eu achei que foi uma redação ok, não é tudo que nós gostaríamos, mas pelo menos coloca ordem na coisa. Tem mérito. Mas nem toca no assunto (da previdência dos militares). E, quando surgiu no Congresso, que não foi de iniciativa do Executivo, o debate sobre os R$ 5 bilhões por ano para a Defesa, eu falei: “Aprova junto. Quer dar os R$ 5 bilhões por ano para a Defesa, porque o clima no mundo não está muito bom, precisa reforçar as coisas, mas vamos votar a reforma da previdência junto, uma combinação ótima.” Aí, a turma do Congresso: “Não, aí não dá”. São constrangimentos. Vai negar dinheiro para a Defesa? Ninguém no Congresso vai. Mas fiz uma proposta de que a gente combinasse isso com uma medida compensatória, e não fui feliz na negociação.
E no caso do rombo de R$ 10 bilhões dos Correios que também ficou fora da meta fiscal em 2026?
Eu tomei conhecimento da situação dos Correios com a nova diretoria, quando foi feita uma radiografia. Nós estamos fazendo, tudo dando certo, o empréstimo dos Correios para se reestruturar e pagar o empréstimo. Isso está sendo combinado com a atual diretoria. Concordo que os Correios precisam de uma reestruturação, porque, quando se acaba com um monopólio e todo mundo começa a competir pelo filé mignon da logística, vai se perder espaço no mercado. Como os Correios têm obrigação constitucional de universalizar o serviço postal, tem esse ônus. Está cheio de empresas de logística hoje no Brasil atuando. Mudou no mundo inteiro, mas todo o serviço postal do mundo, que permanece quase no mundo inteiro nas mãos do Estado, tem um arranjo diferenciado para dar suporte à universalização.
E qual será esse suporte para os Correios?
Esse empréstimo que vamos fazer é mediante o qual a diretoria se comprometeu com a universalização. Os Correios, como nós o conhecíamos, não vão ter o suporte, porque eles estão em um ambiente concorrencial muito intenso. Há muitas empresas atuando no Brasil na logística, e que encontram o seu caminho de fazer as encomendas chegarem ao destinatário. Então, vai ter que ter uma reinvenção dos Correios.
O que seria essa reinvenção?
No mundo inteiro se faz uma estimativa dos custos de universalização que não são cobertos pela tarifa. Agrega valor no serviço postal mediante oferta de serviços, que pode ser de previdência, de seguro, uma série de serviços que se agregam ao postal. Em geral, um banco, uma Caixa Econômica pode fazer uma parceria com os Correios para ter capilaridade em relação aos serviços que ela própria presta. E ela pode fazer isso em comum acordo com os Correios, com instalações comuns. É assim que está sendo feito no mundo. O projeto de reestruturação já está na décima e não sei quantas versões, porque o Tesouro está sendo rigoroso no pedido de que seja uma solução definitiva para a companhia.
As estatais viraram um problema para o governo, com necessidade de aportes recorrentes?
Quando se coloca tudo no mesmo saco, os Correios realmente se destacam, mas não é o caso do total das estatais. Temos um desafio grande que é a Eletronuclear, que é um desafio histórico. Estamos há muitos anos nisso.
Há aporte previsto para a Eletronuclear?
Acredito que vai ter uma solução. Queremos levar para o presidente uma solução definitiva. Correios e Eletronuclear são as duas estatais que inspiram mais cuidado.
Mesmo com a inflação retornando ao intervalo da meta, o Copom decidiu manter mais uma vez a taxa Selic no maior patamar em quase 20 anos. Essa sempre foi uma preocupação do presidente Lula, que contava com Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central. Indicar dois novos diretores ao BC poderia ajudar na estratégia do governo de reduzir a taxa de juros. Por que não o fez?
Primeiro, porque várias indicações não foram feitas em virtude do clima político. Não é só o BC. Nós não mandamos os nomes da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o nome do Messias foi anunciado muito recentemente e nem chegaram os documentos ainda, então provavelmente a sabatina vai ser no ano que vem. Mas nós não escolhemos o diretor do Banco Central, contratando com uma visão ou outra do que ele vai fazer. Contratamos a pessoa pela técnica. A escolha será técnica. O presidente já está ouvindo as pessoas. Ele gosta de saber. Ele é o responsável pelo encaminhamento do nome para o Senado Federal e ele é uma pessoa ciosa das suas responsabilidades.
Quando Galípolo foi indicado para comandar o BC, o presidente tinha uma expectativa de que haveria outro direcionamento para a Selic, reduzindo o seu patamar atual. O presidente está insatisfeito?
Já dei minha opinião várias vezes sobre isso esse ano. Quando falo que a taxa de juros está muito restritiva, estou dando uma opinião técnica com vários resultados que tenho. Isso não é nenhuma deselegância institucional, pelo contrário. Galípolo trabalhou comigo na Fazenda, foi indicado por mim para ser diretor do BC e, para dizer a verdade, chegou à presidência por iniciativa também da Fazenda. Não existe problema entre nós, do ponto de vista pessoal, institucional. O Banco Central dá opiniões sobre política fiscal, e isso é feito de forma respeitosa. Eu não me sinto ofendido. É normal. Mas o ideal é irmos convergindo em um diagnóstico comum. Eu sei do esforço que ele está fazendo para botar ordem na casa. Essa crise do Banco Master que ele herdou é um negócio absurdo. A crise das fintechs também. Vamos combinar que esse ano o Banco Central está colocando ordem em coisas que foram herdadas da gestão do Roberto Campos Neto, que todo mundo sabia. Era uma voz corrente no mercado financeiro as coisas absolutamente pouco técnicas que foram feitas durante a gestão Roberto Campos Neto. O Galipolo, com toda a delicadeza e elegância, já emitiu acho que 17 medidas, botando freio no descalabro das fintechs e tudo mais.
Após a ligação entre Lula e Trump, o senhor recebeu o encarregado de negócios da Embaixada americana e entregou um documento referente à operação que investiga uma suposta sonegação fiscal que atingiu o Grupo Refit. Por que o governo está interessado em avançar nessa frente de apuração?
Eu não posso mencionar nomes de empresas. O que estamos fazendo é colocando ordem no setor de combustíveis. Você acha razoável uma empresa, para pagar menos imposto, declarar numa nota fiscal que está importando petróleo e na verdade está importando diesel e gasolina, ou nafta? Nós não vamos aceitar mais esse tipo de manobra. Nós apreendemos cinco navios. E paralelamente tem uma série de postos de gasolina no país na mão do crime organizado. O Estado não tem inimigo, o Estado combate o crime, seja quem estiver por trás. Quando o cara é grande demais, ele não pode ser atingido pela lei? A lei é para todo mundo.
Outro mercado em que há suspeitas de ligações com o crime organizado é o de bets. O governo fez a regulamentação do setor, que reclama que medidas de aumento de tributação podem favorecer os irregulares. O senhor teme que isso ocorra?
No mundo inteiro, todo bem ou serviço que causa uma externalidade negativa para a sociedade é tributado acima da média. Isso vale para cigarro, para bebida e para jogo. Eu tenho que abastecer a saúde com recursos para enfrentar o câncer do pulmão, para enfrentar o alcoolismo, a cirrose, para enfrentar a dependência psicológica do jogo. Não se pode, sob a justificativa de que vai incentivar a burla, deixar de tributar. O que nos cabe fazer é ir para cima das bets irregulares. No projeto do corte linear, pedimos para o relator incluir dispositivos muito duros contra fintechs que recebem o valor das apostas de bets irregulares. O banco ou a fintech não podem fingir que não está acontecendo nada. Precisa tomar providência. E a pena vai ser muito dura se não tomar. O mesmo vale para as big techs que anunciam links com domínio de bets irregulares. A radiodifusão não está fazendo isso porque tem um controle muito elevado. Por que as big techs não podem ter o mesmo controle? E o próprio influencer que fizer propaganda de bet irregular vai ter uma punição também.
Por que o senhor tem tomado à frente da pauta da segurança pública, que, em tese, é de outro ministério?
Existia um mal-entendido no Brasil, que nós procuramos resolver. No mundo inteiro, a Receita Federal é um órgão de suporte aos órgãos de segurança pública. O papel dela é fiscalizar. Não faz sentido nenhum a Receita, que está diante do tema, não subsidiar os órgãos de segurança e o Ministério Público para agir. Desde 2023, criamos um núcleo de inteligência na Receita Federal com esse propósito.
Leia menos
















