Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Nas últimas reuniões de análise de conjuntura, o grupo mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o vem aconselhando a manter como estratégia o máximo de discrição, de cautela e de silêncio. A avaliação é que a melhor tática neste momento é não fazer marola.
A última pesquisa de popularidade do Datafolha, divulgada na semana passada, mostra um quadro de estabilidade na situação. Não há mais a subida que houve após o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Nem a queda depois da ação policial no Rio de Janeiro. O quadro é praticamente o mesmo da rodada anterior: aprovação de 32% (era 33%); desaprovação de 37% (era 38%). Lula vence em todos os cenários para presidente.
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E se a oposição seguir com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como o adversário, fica a um ponto percentual de ganhar no primeiro turno, com 49%. Na avaliação feita pela equipe de Lula, é um quadro que aconselha se movimentar pouco agora. O ano já está terminando. E terminando com todas essas confusões complicadas acontecendo na relação do Executivo com a Câmara e o Senado.
Ainda que se tome o cuidado de não dizer isso diretamente a ele, o governo sabe que Lula muitas vezes paga pela própria língua. A queda na popularidade que houve após a operação policial nos Complexos da Penha e do Alemão em muito se deu, avalia-se, pela falta imediatamente anterior na qual o presidente disse que os traficantes “são vítimas”. “Lula não pode perder a eleição para ele mesmo”, é a avaliação que o entorno do presidente faz. No quadro atual, ele vem se beneficiando fortemente da falta de unidade da direita.
A oposição não conseguiu um nome em que concentrasse suas energias. O episódio do lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro assim é lido. Flávio lançou-se candidato dizendo que a retirada da sua candidatura tinha “um preço”: a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Após a aprovação do PL da Dosimetria, vendeu-se a ideia de que isso se deu pela ação do filho 01 do presidente.
O governo não avalia bem assim. A dosimetria não é a anistia. Reduz a pena, mas mantém Bolsonaro preso. E era já algo que o Centrão negociava. Inclusive, segundo a apuração, com a ajuda de alguns ministros do próprio Supremo. No máximo, Flávio assim teria conseguido que entrasse em pauta.
Mas para aprovar o que já era negociado. Se a anistia era o preço, o que o Centrão comprou foi comprado com um grande desconto. Tenha ou não negociado a dosimetria, a candidatura de Flávio Bolsonaro continua com o mesmo problema. Se é para negociar algo em troca, não é, então, para valer.
Se é para valer, o “preço” tem que ser conseguir sair vitorioso nas urnas. Numa eleição, qualquer resultado que não seja a vitória tem um nome apenas: é derrota. Diante do que o clã representa, não interessa Flávio entrar para se cacifar para uma disputa futura depois, se o vitorioso final for Lula.
De qualquer modo, o movimento de Flávio, pelo menos por enquanto, congela os demais. Parece tirar definitivamente do páreo Michelle Bolsonaro, que parecia mais competitiva que o 01. E mantém um impasse quanto ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Contra uma indicação de Bolsonaro, ele não disputa.
Tarcísio precisa do aceno de Jair Bolsonaro, porque precisa dos votos bolsonaristas. Não irá disputá-los com Flávio. E precisa definir o que fará da vida até abril. Para a Presidência, precisa construir. Em São Paulo, tem uma reeleição que pode vencer no primeiro turno ainda. A indefinição o faz perder ativos.
Paraná Pesquisas divulgada na quarta (10) mostra que Tarcísio venceria no primeiro turno com 52% em um cenário no qual não estivessem na disputa nem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nem o vice-presidente Geraldo Alckmin. Tarcísio venceria os dois. Mas, nos casos, haveria segundo turno.
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