Por Aldo Paes Barreto*
Os primeiros ocupantes deste bucólico condomínio, o Bosque Águas de Aldeia, lembram dos eucaliptos que ornavam a entrada do terreno vizinho, proporcionando o cheiro agradável que vem de suas folhas e serviam de alívio para algum problema respiratório.
O tempo e o vento se encarregaram de enviar as árvores para o território das boas lembranças. Viraram passado, mas fazem parte de um dos capítulos mais ricos da economia pernambucana. A era das grandes tecelagens.
Leia maisOs Lundgren, da Companhia de Tecidos Paulista, plantaram aquelas espécies vindas de outras terras para abastecer de lenha as vorazes caldeiras da fábrica pernambucana e desidratar terras úmidas. Empreendedora determinada, a família do emigrante sueco Herman Lundren comprou grandes áreas em Aldeia dos Camarás, com aquelas finalidades. Sorte nossa. Até hoje, boa parte da gleba continua arborizada, embora os eucaliptos sejam raridades.
Os Lundgren estavam entre os mais ricos do Brasil e contribuíram para colocar o Nordeste no topo das possibilidades econômicas. Pólvora, tecelagem e até criação de cavalos de raça. Entre estes, Mossoró, tordilho puro-sangue inglês nascido em Pernambuco de criação do Haras Maranguape, propriedade de Frederico Lundgren. Mossoró foi o campeão do primeiro Grande Prêmio Brasil, em 1933, realizado no Rio de Janeiro.
Também foi de Herman Lundgren a ideia de importar palma – como a tilápia, uma espécie invasora –, para o Nordeste quando da grande seca de 1988, dizimou quase um terço da população do Ceará. Ele escreveu a várias universidades do mundo pedindo que indicassem plantas resistente ao inclemente clima nordestina. Quando recebeu as mudas, não vendeu; doou. Ainda hoje a palma serve para alimentação do gado e dos humanos e é conhecida como Palma Santa. Merece.
A ascensão e queda daquele grupo familiar-empresarial desembocaram no escorregadio território das heranças em duras disputa, embora o tombo econômico ainda esteja longe de tornar seus descendentes pobres. Recentemente tornou-se público o drama de Anita Louise, história de que tem todos os ingredientes das tragédias presentes nas famílias mais ricas e poderosas do mundo de todos os tempos. Quase sempre banhadas em sangue, ouro, ambição, ganância, inveja, sede de poder, ostentação e riqueza conseguidas sem grandes esforços.
Recentemente, a notícia do desdobramento da interdição judicial de Anita Louise Regina Harley, controladora do glomerado empresarial, ganhou a mídia e a briga pela herança da enferma foi revelada.
A pernambucana Anita Louise, descendente direta de Herman Ludgren, vive em estado vegetativo entre casa e hospitais, desde que, em 2014, aos 74 anos, teve um AVC hemorrágico. Solteira, baixinha, gordinha, formada em Direto pela Universidade Católica de Pernambuco, Anita Louise administrou o grupo das Casas Pernambucana, desde que a mãe morreu em 1999.
Ela passou a ser a executiva principal do grupo e fazia elogiada gestão. Mas nada que se compara ao legado dos pioneiros. O emigrante Hermann e seus filhos criaram um império: a maior rede varejista do país – as Lojas Paulistas e as Casas Pernambucanas; uma tecelagem moderna no município de Paulista; e a primeira fábrica de pólvora, a Pernambuco Factory, em Pontezinha, fundada em 1890.
Hoje, restam poucas coisas. A palma plantada no Sertão mais seco e o que existe de verde, em Aldeia dos Camarás, nos abençoados restos de Mata da região, riquezas que também são nossas.
*Jornalista
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