2026: um jogo restrito a dois atores
Nas eleições que se aproximam, Pernambuco apresenta, desde já, um cenário para retomada dos grandes clássicos que pontuam a sua rica história eleitoral. Com um detalhe: sem chances de segundo turno, porque os olhos e os corações dos eleitores estarão mirados e fixados em apenas duas alternativas, um jogo marcado pela polarização.
De um lado, Raquel Lyra (PSD), a primeira governadora a chegar ao Palácio das Princesas, em busca da reeleição. Do outro, João Campos (PSB), o jovem prefeito do Recife, que vai abrir mão do mandato em abril próximo para tentar desbancar o projeto da adversária de renovar o seu mandato. Não há espaço para mais ninguém neste espetáculo.
Leia maisQuem se aventurar, pode sair mais nanico do que entrou, com resultado tão inexpressivo quanto se deu com Daniel Coelho, o candidato apoiado pela governadora na disputa pela Prefeitura do Recife em 2024, quando João papou o segundo mandato logo no primeiro turno, com uma das maiores e mais consagradoras votações no País, na comparação com as demais capitais.
Ex-deputado federal e ex-secretário estadual de Turismo, estando de volta ao primeiro escalão de Raquel em função sem a menor importância, Daniel (PSD) teve o pior desempenho percentual de um candidato a prefeito do Recife apoiado por governador do Estado desde a redemocratização, em 1985. Ficou em quarto lugar, com apenas 3,21% dos votos válidos. O candidato de Raquel conseguiu bater Roberto Freire, que em 1996, disputando a Prefeitura do Recife com apoio de Miguel Arraes no poder, teve 3,54% dos votos.
A polarização Raquel x João, portanto, fecha as portas para aventureiros que entram em eleições só para aparecer na TV, marcar posição e ganhar dinheiro do fundo eleitoral. Já tem uns oportunistas aí botando a cara, mas o eleitor, certamente, não vai querer jogar seu voto fora. Os bolsonaristas já perceberam que não terão espaço como coadjuvantes neste jogo e por isso andam antecipando uma disputa apenas para o Senado.
Em 2026, Raquel e João têm chances de repetir clássicos que ainda estão na memória ou em compêndios da história, como Marcos Freire e Roberto Magalhães, em 1982; Miguel Arraes e José Múcio, em 1986; Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, em 1998. Raquel e João são estuários da renovação política do Estado. Que se preparem para um fenomenal duelo!
JOÃO LIDERA EM TODAS AS REGIÕES – Conforme atestam todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas ao longo deste ano, João Campos desponta com amplo favoritismo. Desbanca a governadora em todas as regiões do Estado, do litoral ao Sertão. Bate com folga principalmente no Recife e Região Metropolitana, com uma média de 70% a 14%. Se as eleições fossem hoje, João venceria Raquel por uma margem superior a 1 milhão de votos, segundo Maurício Romão, craque em análises de pesquisas eleitorais.

Falta gestão a Raquel – Por que Raquel está tão abaixo de João? Gestão diz tudo. Enquanto o prefeito do Recife fez o primeiro ano do seu segundo mandato entregando uma penca de obras, espalhadas por toda parte da cidade, dos morros ao centro, a governadora encerra o seu terceiro ano sem entregar uma só obra estruturadora. Há pouco, assinou a ordem de serviço para o Arco Metropolitana, um projeto arrojado e estruturante na área viária, é verdade, mas de longa duração. Ao final do seu mandato, não terá avançado sequer 10% no conjunto das obras.
Só uma creche – Quando estava no terceiro ano da sua primeira gestão, como ocorre hoje com Raquel, o ex-governador Eduardo Campos, que faleceu precocemente num acidente aéreo, entregou o hospital Miguel Arraes, em Paulista, a primeira grande emergência das seis que tirou do papel em oito anos. Quais as obras de infraestrutura e estruturadoras de Raquel? Não conseguiu nem entregar as centenas de creches que prometeu. Com três anos de governo, corta a fita da primeira unidade em Igarassu esta semana, antes do encerramento do ano.
Agenda de inaugurações – Na corrida contra o tempo, uma vez que será obrigado a se desincompatibilizar em abril, João tem cumprido uma extensa agenda de entrega de obras, destacando-se a reabertura da Ponte Giratória, a requalificação do Pátio da Feira do UR-4 (Ibura), a entrega de ruas no Caçote (com drenagem e pavimentação), e a inauguração de praças e intervenções do Parque Linear do Rio Pina, além de melhorias na Roque Santeiro e avanços em obras de contenção e moradia, mostrando foco em infraestrutura, mobilidade e urbanização, com investimentos significativos e modelos como PPPs para parques.

O maior parque urbano – Com as obras bem avançadas, investimento de R$ 62 milhões, o parque Governador Eduardo Campos, o maior da cidade, localizado no terreno do antigo Aeroclube, no Pina, deve ter sua primeira etapa concluída nos próximos dias. Trata-se de um grande projeto de revitalização urbana no Recife, transformando uma área ociosa em um extenso espaço público com áreas verdes, lazer, esportes e serviços (como Compaz e moradias), visando ser o maior parque urbano da cidade. É um empreendimento ambicioso para o Recife, focado em oferecer um grande pulmão verde e novos equipamentos sociais na cidade.
CURTAS
RENÚNCIA – Com a renúncia de Otto Alencar Filho (PSD-BA) ao mandato de deputado federal na última terça-feira, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já convocou o suplente para integrar a bancada do PSD em 2026. O filho do senador Otto Alencar (PSD-BA) assumiu uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado da Bahia depois da indicação do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
NOME PRÓPRIO – O Partido Progressistas (PP) vem cobrando publicamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por uma suposta falta de apoio à candidatura de Guilherme Derrite (PP-SP) ao Senado e por “dificuldades de comunicação e falta de atenção a parlamentares” da sigla. Em meio a essa insatisfação, o partido ameaça lançar uma candidatura própria ao governo paulista.
LAVAREDA – Há uma grande expectativa em relação ao último podcast do ano Direto de Brasília, amanhã, com o professor e cientista político Antônio Lavareda. Convidei nomes de peso da mídia nacional. Na pauta, o quadro nacional e as eleições presidenciais do ano que vem. Imperdível!
Perguntar não ofende: Com tanta mídia e dinheiro no cofre, por que a governadora não decola?
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