Jorge Messias enfrenta resistências
No Senado, o cenário é completamente desfavorável para o pernambucano Jorge Messias, atual advogado-geral da União, vir a ser aprovado para o Supremo Tribunal Federal. Se a eleição fosse hoje, ele não teria os 41 votos necessários, a maioria absoluta, para vestir a toga na vaga aberta com a aposentadoria do ministro aposentado Luiz Roberto Barroso.
Jorge tem pela frente uma série de desafios. O primeiro teste será na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, onde será sabatinado e votado pelos 27 parlamentares do colegiado. Ali, precisa de 14 dos 27 votos da CCJ para seguir ao plenário do Senado. A aprovação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, com o placar apertado de 45 votos no plenário, ligou o alerta vermelho no governo de que o chefe da AGU deve sofrer ainda mais resistência.
Leia maisUm levantamento realizado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” junto a integrantes do grupo mostra que o candidato não começa com vantagem na disputa. Nas primeiras horas após a escolha, semana passada, apenas quatro senadores declararam voto em Messias, enquanto três se manifestaram contra sua ida para a Corte máxima. Outros cinco se disseram indecisos ou preferiram não responder.
Isso sugere que Messias precisará sensibilizar até mesmo membros da base do governo em seu “beija-mão” – jargão para a busca por apadrinhamento de autoridades. Os demais membros da CCJ não quiseram se manifestar.
O descontentamento com o nome escolhido por Lula tem sido notado até mesmo entre senadores do Centrão que integram a base governista. Otto Alencar (PSD-BA), aliado de longa data do governo, optou por não se manifestar. “Só me pronuncio na CCJ ou no plenário”, frisou.
Outro parlamentar próximo ao governo que se diz indeciso é Eduardo Braga (MDB-AM), líder do MDB no Senado. “Ainda não reuni a bancada do MDB. Eu vou ouvir a bancada primeiro. Eu sou líder de uma bancada com 11 senadores”, afirmou.
Messias, que completará 46 anos em fevereiro, inicia a sua campanha ao STF com uma forte resistência de caciques do Centrão que, sob o comando do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), esperavam a indicação do senador e ex-presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O nome do político mineiro era amplamente defendido pelo presidente do Senado, por líderes do Centrão e até pelo ministro do STF Gilmar Mendes.
Alcolumbre tem sinalizado ao governo que Messias encontrará um cenário desfavorável no Senado. Como mostrou o Estadão, o presidente do Congresso apresentou a Lula um mapa de votos a favor e contra o ministro no plenário que indicava rejeição ao seu nome.
Uma demonstração do descontentamento dos líderes do Centrão foi a retaliação imediata de Alcolumbre à decisão de Lula ao colocar em votação, hoje, a pauta bomba de efetivação e aposentadoria de agentes de saúde, cujo custo pode variar entre R$ 5 e R$ 21 bilhões a serem pagos exclusivamente pelo governo federal, que tem feito ginástica para equilibrar as contas públicas.
Apesar das resistências, o chefe da AGU recebeu sinalizações de que pode obter votos, inclusive entre senadores de oposição ao governo. Procurados, Espiridião Amin (PP-SC) e Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) se disseram indecisos sobre os seus votos. “Eu nem comecei a pensar ainda. Vou conversar com os meus parceiros. Ainda não tenho posição definida”, afirmou Amin.
Caiu em campo – Jorge Messias já começou a procurar líderes do Senado para marcar conversas e diminuir as resistências à sua indicação para o STF (Supremo Tribunal Federal). Membro da Igreja Batista e diácono de uma congregação em Brasília, ele conta com apoio importante de parte do mundo evangélico, apesar da oposição de alas mais ligadas ao bolsonarismo. Seu maior empecilho, porém, é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que tem dito a interlocutores que trabalhará contra a indicação. Horas depois de seu nome ter sido oficializado, ele ligou para líderes para marcar reuniões ao longo desta semana, em especial para quem demonstrou resistência à sua escolha.

A briga por poder – Nos bastidores, a má vontade do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, com Jorge Messias tem raízes mais profundas: sua briga por espaços com o líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que parece incontornável. Wagner tenta minimizar o mal-estar. Disse esperar que Lula convide Alcolumbre para uma nova conversa com o objetivo de acalmar os ânimos. Perguntado se Messias tem os 41 votos para ser aprovado, o senador respondeu: “Só no dia que for colocado em votação, que a gente vai saber. Eu vou trabalhar muito para ajudar na aprovação do Messias, o Messias vai trabalhar muito.”
Cumprir a Constituição – Ao tomar conhecimento de uma manifestação de Jorge Messias, a primeira após a sua indicação, para tentar amansar a fera, no caso Davi Alcolumbre, o presidente do Senado não mudou de comportamento, nem desmentiu sua peitica com Jacques Vagner. Secamente, respondeu: “Reafirmo que o Senado Federal cumprirá, com absoluta normalidade, a prerrogativa que lhe confere a Constituição: conduzir a sabatina, analisar e deliberar sobre a indicação feita pelo Presidente da República”, afirma a nota.
Frente contra emendas – A governadora Raquel Lyra (PSD) orientou sua base na Assembleia Legislativa a votar contra o aumento do valor das emendas parlamentares de 0.9% para 1.55% da receita corrente líquida em 2027. Ela quer derrubar o projeto de lei complementar (PLC) 3578/2025, que estabelece regras de transparência sobre a indicação e execução das emendas. A orientação foi resultado de reunião entre Raquel e deputados aliados, ontem, no Palácio das Princesas. A governadora é contra o reajuste no valor das emendas, respaldado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de que trará prejuízos ao planejamento financeiro do Estado.

A bancada de Raquel – Com o ingresso, hoje, do deputado Fernando Monteiro no PSD, depois de uma passagem pelo Republicanos, a governadora Raquel Lyra dá o start da montagem da chapa federal do seu partido. Também devem ingressar na legenda os deputados Mendonça Filho e Uchôa Júnior, o primeiro egresso do União Brasil e o segundo do PSB. Raquel está conversando com outros parlamentares federais. Tem dito que pode atrair mais dois nomes da atual bancada, mas ninguém acredita que vá além dos três já praticamente confirmados.
CURTAS
E OS PREFEITOS? – Na travessia para o PSD, o deputado Fernando Monteiro chega só ou com o seu grupo de prefeitos? Entre os seus principais aliados está Márcia Conrado, de Serra Talhada, já comprometida com a candidatura de João Campos (PSB) a governador.
JUDICIALIZAÇÃO – Em entrevista, ontem, a rádio Folha, o presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), radicalizou. Disse que levará à Justiça o pagamento de emendas destinadas ao mandato dele. “Uma das coisas que eu já venho conversando com os deputados é que, no meu caso, se até o dia 31 de dezembro, não forem pagas as emendas que nós indicamos, eu mesmo vou judicializar”, afirmou.
FORA DA PAUTA – Porto enfatizou que não poderá levar aos tribunais a questão como sendo da totalidade da Casa, mas que ingressará individualmente ou com um grupo de deputados. A declaração se soma ao impasse registrado após uma declaração da governadora de que não haveria “folga” no orçamento. Em resposta, Porto tirou de pauta a votação do empréstimo de R$ 1,7 bilhão, cuja apreciação estava prevista para semana passada.
Perguntar: Quem está com a razão: Álvaro Porto ou Raquel Lyra?
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