Angelim, no Agreste Meridional, a 216 km do Recife, será modelo no Interior da primeira Casa Azul, voltada ao acolhimento e tratamento de crianças com autismo. O espaço, idealizado pela primeira-dama Taciana e viabilizado pela gestão do prefeito Caique, Galeguinho (PSB), será entregue à população na próxima sexta-feira.
Em vídeo, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), destacou a importância do projeto. “Fico muito feliz de ver um prefeito preparado, dedicado, trazendo esse primeiro exemplo de Casa Azul para o Estado de Pernambuco. Parabéns”, afirmou.
Quando John Lindsay venceu as eleições para prefeito de Nova Iorque, em 1965, era tido e havido como “renovado, enquanto os outros estão cansados”. Alto, pinta de galã, protestante e rico, Lindsay foi eleito aos 44 anos como integrante de uma ala liberal do Partido Republicano liderada por Nelson Rockefeller, prometendo uma cidade mais humana, o que ele chamou de democracia urbana. Mais tarde, Lindsay deixaria o Partido Republicado para virar democrata.
Nova Iorque tem 401 anos, foi fundada em 1624 e seus primeiros moradores foram 23 judeus fugidos do Recife por causa da Inquisição, conforme conta Maria Luiz Tucci Carneiro em seu livro “Antissemitismo nas Américas” (EdiUSP 2007). Das 16 naus que partiram do Recife naquele ano, uma foi saqueada na Jamaica e outra com o grupo de judeus chegou praticamente com a roupa do corpo no que seria Nova Iorque.
Umbigo do mundo, a cidade tem uma característica: é indomável. Até hoje ninguém conseguiu domesticar Nova Iorque, metrópole que não perdoa idealistas despreparados. John Lindsay fez uma campanha despertando a esperança de uma metrópole mais justa, integrada e humana. No seu primeiro dia de trabalho, uma greve paralisou os transportes públicos e Lindsay foi trabalhar a pé e disse que estava se divertindo.
Com o passar do tempo, seu governo se transformou em um caso clássico de como uma visão progressista pode naufragar quando não sabe como lidar com as forças de poder urbano. Lindsay enfrentou a polícia, os sindicatos municipais, a máquina política estadual e a queda da receita sem ter construído, antes, uma estrutura organizativa capaz de sustentar sua agenda. Pouco a pouco foi se isolando, apedrejado pela direita, abandonado pela esquerda, se revelando um administrador incompetente.
Zohran Mamdani, o muçulmano socialista de 34 anos, emerge como líder capaz de reverter esse ciclo. Diferentemente de Lindsay, ele não se apresenta como um liberal moral, mas como um organizador socialista: seu discurso não se apoia em esperança abstrata, mas em grupos sociais como inquilinos, trabalhadores de serviços, cooperativas comunitárias e sindicatos renovados.
No entanto, é justamente aí que mora o perigo: se Mamdani acreditar que pode governar olhando só para seus apoiadores, pode cair na mesma armadilha que destruiu Lindsay.
A cidade não se move apenas pela mobilização popular; ela é regida por estruturas de poder sedimentadas, especialmente a polícia, o mercado imobiliário e o aparato fiscal no qual Wall Street e Albany são mais fortes do que as necessidades cotidianas dos moradores. É isso que faz de Nova Iorque a capital financeira do mundo. Será que os norte-americanos querem abrir mão deste poder? Será que cansaram de ser poderosos? Ou será possível o poder econômico conviver com o social?
Lindsay acreditava que a vontade política, empatia pública e compromisso moral com a justiça seriam suficientes para transformar a cidade. Foi tragado pela realidade: Nova Iorque mergulhou numa crise econômica, fuga fiscal e crescente segregação de espaços, enquanto o prefeito insistia em expandir serviços públicos sem o devido lastro. Uma gestão incompetente, mais ou menos como a que vimos no Rio de Janeiro quando Saturnino Braga ocupou a prefeitura (1986-1989).
Mamdani precisará reformar profundamente a gestão financeira, taxando imóveis vazios, encerrando subsídios às incorporadoras, reduzindo o poder político do mercado imobiliário e revisando o financiamento do transporte. Se não souber como fazer isso, corre o risco de repetir os erros de Lindsay 60 anos depois.
A diferença é que agora o tecido urbano está mais frágil, a desigualdade é mais profunda e o capital financeiro muito mais enraizado que no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970. Um colapso fiscal numa administração declaradamente socialista pode ter consequências políticas devastadoras, não apenas para Nova Iorque, mas para qualquer possibilidade futura de municipalismo progressista nos Estados Unidos.
Há também o conflito com a polícia nova-iorquina. Lindsay tentou enfrentar a polícia por meio de gestos simbólicos, proibindo repressão dura durante tensões raciais. No embate, a polícia levou a melhor, trabalhando dia e noite para destruir seu governo.
Se Mamdani pretende alterar o modelo policial da cidade, não poderá fazê-lo por meio de apelos morais ou transparência administrativa. Terá de ocupar a máquina policial por dentro, num método gramsciano, reconstruindo a cadeia de comando, os mecanismos disciplinares e o controle civil. Se vai conseguir ou não é o que veremos.
Não podemos esquecer que as consequências do desastroso governo Lindsay foi a decadência de Nova Iorque, que acabou se tornando uma das cidades mais violentas do mundo até que 20 anos depois Rudy Giuliani assumiu a prefeitura e implantou a tolerância zero.
O risco não é Mamdani repetir o idealismo de Lindsay, mas subestimar o poder do capital financeiro, das corporações imobiliárias e das forças de segurança. Lindsay acreditou que podia governar pela autoridade moral. Mamdani pode ser enfeitiçado pela crença de ter sido ungido pela legitimidade popular. Um jovem inexperiente como ele terá de conviver cotidianamente com todo tipo de risco e armadilha e ser esperto o suficiente para escapar deles.
Nova York é uma cidade onde projetos políticos não morrem sozinhos: deixam escombros. Mamdani precisará ser extremamente competente para fazer um governo capaz de cumprir promessas como congelamento de aluguéis, transporte público gratuito e serviço público de saúde para as crianças. Ele criou uma expectativa gigante. Não corresponder, pode provocar uma decepção gigante.
Se não for capaz de caminhar no fio da navalha, entre cumprir as promessas e resistir aos ataques da oposição, não terminará o mandato. Mesmo cometendo erros em série, Lindsay conseguiu ser reeleito em 1969, o que pode ser um alento para Mamdani. Mas Lindsay saiu escorraçado, com sua aprovação em 1972 chegando a irrisórios 9%. Mamdani corre o risco de ser lembrado não como o Lindsay que deu certo, mas como outro idealista tragado pelo moedor nova-iorquino.
A estimativa de redução de R$ 500 milhões na receita estadual com a aprovação de propostas de isenção do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) tem deixado gestores municipais preocupados com o impacto financeiro da medida no repasse de recursos às cidades.
Com 50% do valor sendo repassado aos municípios, as perdas para esses entes da federação podem limitar a manutenção de serviços básicos. O pacote de projetos de lei inclui a concessão do benefício a motoristas de aplicativo, motocicletas de até 170 cilindradas e automóveis com mais de 15 anos de fabricação ou motor híbrido.
Segundo a secretária-executiva de Gestão Estratégica da Secretaria da Fazenda, Cindy Barbosa, a arrecadação com o tributo já sofreu queda entre 2023 e 2025, após a redução da alíquota do imposto para 2,4%.
A mudança colocou Pernambuco na posição de estado com o menor IPVA no Nordeste. Os dados foram divulgados pela gestora em audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na última quarta-feira.
Municípios O vice-presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e prefeito de Aliança, Pedro Freitas, argumentou que metade do valor arrecadado pelo estado com o tributo sobre os automóveis é destinado aos municípios sem vinculação a uma determinada área de investimento.
Mesmo considerando justo o benefício para motoristas de aplicativos, ele avalia que a redução sem compensação poderá impactar a prestação de serviços pelos municípios.
“Para municípios, principalmente de menor porte, que tem uma limitação na geração de receita própria, esses recursos não vinculados são fundamentais para a manutenção dos serviços básicos”, pontuou o gestor.
Ainda segundo o levantamento realizado pela associação, Aliança teria uma queda no envio de recursos do IPVA de R$ 2,2 milhões projetados até o fim de 2025 para pouco mais de R$ 940 mil em 2026. Na Zona da Mata Sul, Vitória de Santo Antão perderia R$ 11 milhões em 2026, caso a proposta seja aprovada este ano.
O prefeito de Vitória, Paulo Roberto Arruda (MDB), se mostrou favorável à redução de impostos, mas ressaltou a necessidade de que seja indicada uma fonte de compensação para a renúncia fiscal gerada a partir das isenções. Arruda cobrou a criação de um grupo de trabalho entre os deputados estaduais e municípios para discutir o tema.
“Quando a gente aponta uma redução, ou até mesmo um benefício, a gente tem que dar condições para que isso seja recomposto”, afirmou Paulo.
Lei A indicação de medidas compensatórias e o estudo de impacto em projetos que incidem diretamente sobre o sistema tributário do estado são exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme explica o advogado municipalista que atua para a Amupe Marcus Alencar. Segundo ele, as exigências não foram seguidas pelos autores das propostas em tramitação na Alepe.
“O artigo 103 do Atos das Disposições Constitucionais Transitórias estabelece que haja a estimativa do impacto em projetos de lei que trazem uma renúncia de receita. A Lei de Responsabilidade Fiscal, no seu artigo 14, além da estimativa do impacto, traz como requisito essas medidas compensatórias”, disse.
No entanto, o advogado pondera que, até o fim da tramitação das propostas, os deputados podem acrescentar o estudo de impacto e a forma de compensação às matérias por meio de emendas. Alencar alerta que o não cumprimento dos requisitos poderá gerar questionamento posterior na Justiça.
Saída de delegado-geral agrava crise na Polícia Civil de Pernambuco
Por Larissa Rodrigues – repórter do Blog
A crise na Polícia Civil de Pernambuco foi agravada com a saída, ontem (7), do ex-delegado-geral Renato Márcio Rocha Leite. A exoneração, a pedido, é mais uma das dezenas de trocas de membros do alto escalão da gestão de Raquel Lyra (PSD) à frente do Estado e ocorre em meio à tensão interna na Polícia.
Na última quarta-feira (5), o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE) encaminhou nota à imprensa denunciando falta de diálogo com o Governo do Estado e anunciando uma operação padrão a partir de dezembro. A categoria não descarta a possibilidade de greve entre janeiro e fevereiro de 2026.
De maneira geral, os policiais se queixam da falta de estrutura para trabalhar e da baixa valorização salarial. Argumentam que “as promessas de valorização e do chamado maior investimento da história em segurança pública se transformaram em silêncio, propaganda e maquiagem de números”.
“Em três anos de gestão, a governadora Raquel Lyra não cumpriu nenhum dos compromissos assumidos com os policiais civis. Enquanto o governo foge do diálogo, os policiais seguem pagando para trabalhar, enfrentando delegacias sem estrutura, baixos salários e ausência de condições dignas para exercer suas funções”, afirmou, em nota, o Sinpol.
Em paralelo à saída de Renato Leite, que estava à frente da Polícia Civil desde janeiro de 2024, e ao movimento dos policiais, este blog também recebeu informações sobre a suposta maquiagem nos números da taxa de resolução dos inquéritos de homicídio.
De acordo com dados levantados internamente, há inquéritos de homicídio sendo remetidos ao Ministério Público (MPPE) com a ausência de perícias importantes, inquirições determinantes, ou interrogatórios dos suspeitos, fazendo com que não sejam geradas as denúncias do MPPE.
O Ministério Público acaba devolvendo os inquéritos para complementação, ou simplesmente arquiva por falta de elementos probatórios suficientes, sem mandados de prisão contra os autores dos homicídios.
A menos de um ano das eleições, uma crise dessa na Polícia Civil de Pernambuco pode complicar muito o projeto de reeleição da governadora Raquel Lyra, que enfrenta, desde já, dificuldades para receber da população mais quatro anos à frente do Estado.
Crise também no Sassepe – O MPPE precisou atuar, após o Sassepe admitir que não realiza exames essenciais para segurados do órgão. O Sassepe, plano de saúde dos servidores do Estado, está em grave crise desde que a governadora Raquel Lyra assumiu a gestão, em 2023. Apesar de várias promessas, a situação só vem piorando. Os servidores reclamam, pois pagam contribuições descontadas no contracheque e não têm atendimento. “Melhor tentar no SUS”, falam vários servidores.
Menino autista sem exame – A vítima mais recente foi uma criança de 9 anos com autismo. O Sassepe informou que não faz o exame “Processamento Auditivo Central”, essencial para a criança. Os promotores do MPPE cobraram o atendimento. Agora, o problema está na assessoria jurídica do Sassepe para um posicionamento. O MPPE cobrou resposta em 48 horas.
PP no Araripe – A deputada Roberta Arraes (PP), assumiu a presidência da Federação União Progressista em Araripina, no Sertão, ontem (7), junto ao vereador Francisco Edivaldo, presidente da Câmara de Vereadores da cidade, que assumiu a vice-presidência. A articulação é importante para a região do Araripe, porque abre mais espaço às lideranças locais em busca de desenvolvimento, principalmente na área da saúde.
Gabriel Porto a todo vapor – Pré-candidato a deputado federal, Gabriel Porto (PSDB) recebeu, ontem, o apoio do vereador Vilmar da Mudança, de Jaboatão dos Guararapes. A adesão fortalece o projeto eleitoral, em cujo palanque já estão os vereadores do município Dr. Tadeu Veterinário, Eládio e Irmão Jailton e também os suplentes Marcelo Danone, Soldado Souza, Luciano Souza, Carlos André, Nando Campos, Niel da Chave, Valéria Macedo e Adailton.
Recursos de Bolsonaro – A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, ontem, contra os recursos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da tentativa de golpe de Estado. O julgamento vai até a sexta-feira da semana que vem. Só então é considerado concluído. Em tese, ministros podem rever o voto antes do fim do prazo. Bolsonaro já está preso em casa, preventivamente, por tentar atrapalhar o processo. Mas a prisão decorrente da condenação no caso ainda não começou. Ele foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, em julgamento em setembro, por 4 votos a 1.
CURTAS
MARATONA – A partir da próxima segunda-feira (10), o chefe retoma a agenda de palestras e lançamentos do livro Os Leões do Norte pelo Agreste Setentrional. A maratona começa por Limoeiro, às 15h, no auditório da Facal, a Faculdade de Ciências Aplicadas, com apoio do prefeito Orlando Jorge (Podemos). Na terça, será a vez de Santa Cruz do Capibaribe, numa escola municipal, com apoio do prefeito Helinho Aragão (PSD).
JABOATÃO CONCORRENDO – A Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes participa da 8ª edição do Programa Prefeitas e Prefeitos Amigos da Criança (PPAC), promovido pela Fundação Abrinq, e concorre ao selo ‘Prefeito Amigo da Criança 2025–2028’. A certificação reconhece gestões municipais que se destacam pela implementação de políticas voltadas aos direitos de crianças e adolescentes.
AGRICULTURA NA PAUTA – O deputado Alberto Feitosa (PL) se reuniu, ontem, com o secretário de Agricultura, Cicero Moraes, e o diretor de infraestrutura do IPA, Mychel Ferraz, e levou algumas reivindicações que chegaram em seu gabinete por parte de agricultores. Entre elas, equipamentos agrícolas como trator, forrageiras e veículos, além de poços artesianos para regiões do Sertão, Agreste e da Zona da Mata.
Perguntar não ofende: Quem será o próximo a deixar o governo de Raquel Lyra?