Mídia, crime organizado e a voz rouca dos morros cariocas
A megaoperação da polícia do Rio contra o crime organizado, no meio da semana passada, foi avaliada pelo olho enviesado da mídia brasileira. Tratada como carnificina, foi recebida com galardão pela população carioca, segundo pesquisas dos mais variados institutos.
Isso compromete principalmente a mídia local, a do Rio, Estado palco do que os jornalistas classificaram como a operação mais letal da história. Mas o carioca aprovou. Pela pesquisa Quaest, 64% da população que vive de perto e sofre no dia a dia os horrores da bandidagem aprovou a decisão do governador Cláudio Castro (PL). Por incrível que pareça, até a imagem do governador melhorou e seu governo ganhou mais popularidade.
Leia maisA aprovação à gestão do governador subiu dez pontos percentuais após a operação policial, segundo aponta pesquisa Genial/Quaest. O levantamento mostra que o índice de entrevistados que aprovam a administração estadual subiu de 43%, registrado em agosto, para 53%. Ao mesmo tempo em que aponta um salto na aprovação à gestão de Castro, a pesquisa mostra uma oscilação negativa na avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas dentro da margem de erro, de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Vários veículos da imprensa internacional destacaram a megaoperação das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro contra a facção Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, que matou 121 pessoas, incluindo quatro policiais. Movimentos de direitos humanos classificaram como chacina e questionaram sua eficácia como política de segurança. O grande número de vítimas também foi criticado pelo Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que se disse “horrorizado” com a operação nas favelas.
A operação evidenciou o crescente problema do crime organizado no Brasil e em toda a região carioca. A ação ocorreu dias antes de o Rio de Janeiro sediar eventos relacionados à COP30, a cúpula climática que acontecerá no porto amazônico de Belém no próximo mês. O aumento do consumo de cocaína na Europa e nos EUA impulsiona a expansão dos cartéis de narcotráfico sul-americanos, cujas conexões transnacionais alarmam as autoridades.
Mas a Imprensa e as instituições avaliaram sem colher antes o sentimento da população, que é de pleno apoio, inclusive pede novas operações. Quem está com a razão: quem noticia e interpreta ou o cidadão comum, que reza para se livrar da barbárie diária nos morros do Rio pelas mãos dos fora da lei do crime organizado?
ATIRAR OU PRENDER? – A despeito do alto índice de letalidade da operação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos, a maioria dos entrevistados defende que operações como essa sejam realizadas pela polícia nas comunidades (73% contra 22%), conforme mostra a pesquisa Genial/Quaest. Há uma divisão da população, contudo, quando ela é questionada sobre como polícia deve agir diante de um suspeito armado com um fuzil: 50% dos ouvidos no levantamento defendem que o agente deve tentar prendê-lo sem atirar, enquanto 45% acham que o policial deve disparar de imediato. No recorte que leva em consideração o posicionamento ideológico do entrevistado sobre as operações em favelas, há uma divisão entre eleitores que se identificam com o campo lulista: 51% defendem as operações e 46% são contra. Entre os bolsonaristas, 94% são a favor.

Obra diabólica – Vi notícias de uma possível aproximação da governadora Raquel Lyra (PSD) com a ex-deputada Marília Arraes (SD), visando as eleições de 2026. Adversárias figadais no passado, segundo as informações que chegam, estariam agora dispostas a construir uma chapa robusta para enfrentar o favoritismo do pré-candidato do PSB, João Campos. Candidata à reeleição, Raquel estaria seduzindo Marília a ser uma das suas postulantes ao Senado. Não se surpreenda: em política, o inimigo de ontem pode ser o aliado de hoje. Tem razão Roberto Magalhães: a política é obra do diabo.
Do umbigo baixo – Marília é prima de João Campos, já perdeu uma eleição para ele, na corrida pela Prefeitura do Recife em 2020, mas hoje tem cargos na gestão socialista e vive fazendo juras de fidelidade ao prefeito. Sobre os comportamentos dela na política, o que se diz é que é extremamente personalista e só enxerga do seu umbigo para baixo. Para chegar ao poder, seria capaz de enforcar o pai, como dizem sobre Brizola.
Mais uma licitação viciada – Em Garanhuns, terra administrada pelo socialista Sivaldo Albino, ninguém se surpreendeu com a decisão da governadora Raquel Lyra de acatar a recomendação do Tribunal de Contas do Estado e cancelar a licitação para construção do hospital Dominguinhos, no valor de R$ 132 milhões. “Foi mais uma licitação viciada, típica do governo dela”, disse o deputado Waldemar Borges, uma das principais lideranças do bloco de oposição na Assembleia Legislativa. Dentre as irregularidades apontadas pelo TCE em acórdão estavam o “sobrepreço de R$ 2,9 milhões em serviços de climatização” e também “falhas no projeto básico”. Em julho, o TCE informou que a licitação poderia resultar em “contratação com vícios insanáveis”.

O relator no podcast – Deputado de primeiro mandato, Alfredo Gaspar, do União Brasil de Alagoas, relator da CPI Mista do INSS, é o meu convidado para o podcast Direto de Brasília de amanhã, em parceria com a Folha. Gaspar é ex-promotor de justiça, ex-secretário de Segurança Pública de Alagoas e advogado. É uma das mais promissoras revelações do Congresso pelo trabalho super elogiado na condição de relator na comissão que investiga um dos maiores escândalos dos últimos anos no País: o assalto ao dinheiro dos trabalhadores aposentados.
CURTAS
HORROR – O Ministério Público do Rio de Janeiro identificou 684 homicídios atribuídos à expansão do Comando Vermelho pela Grande Jacarepaguá entre 2023 e 2024, média de uma morte por dia em dois anos. O dado está em denúncia anexada ao processo da operação. O documento detalha como o CV avançou sobre comunidades antes dominadas por milícias na Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Itanhangá e Vargens, consolidando o chamado Complexo de Jacarepaguá.
DIREITA REAGE – Pesquisa Datafolha mostrou que a operação no Rio foi vista como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana, contra 39% que pensam o contrário. Aprovada, interrompeu um ciclo de boas notícias para o Palácio do Planalto, que esperava pautar a campanha em busca de um quarto mandato de Lula com bandeiras como a defesa da soberania e da justiça tributária.
PISADA DE BOLA – Lula já havia derrapado no tema da segurança pública ao chamar traficantes de vítimas. Diante da repercussão, se retratou. A frase o levou a voltar ao foco da direita nas redes, sob o discurso de que ele e a esquerda defendem bandidos. Os ataques se intensificaram após a ação no Rio.
Perguntar não ofende: Quando o Governo Federal vai banir o crime organizado?
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